“Não há prazer comparável ao de encontrar um velho amigo, a não ser o de fazer um novo! Rudyard Kipling
Hoje enquanto aguardava o ônibus para me deslocar do Centro de Treinamento da Alumar (CTA), para o almoço no refeitório central, após um treinamento para supervisores de espaço confinado. Encontrei um amigo velho e, velho amigo de trabalho Francisco Gomes Cavalcante – o velho Chico ou Francisco como é conhecido na Alumar, comunidades vizinhas, familiares, amigos e colegas de trabalho. Francisco é Cearense de Quixadá, nasceu em 22 de julho de 1936. De uma família humilde e extensa com oito irmãos. É casado com Maria Salete Serra Gomes e, tem quatro filhos Ana Soraya Serra Gomes, Francisco Gomes Filho, Christiano Serra Gomes e Márcio Gomes Serra.
“A face de um velho amigo é como um raio de sol por entre escuras e sombrias nuvens!” Abraham Lincoln
O companheiro de longas datas completará 83 anos em breve, mas parece sempre o mesmo desde quando o conheci em 1989, no Departamento de Meio Ambiente da Alumar onde trabalhávamos juntos. Naquela época éramos colega de trabalho e nos encontrávamos diariamente no prédio T801, onde funcionava o Depto. Meio Ambiente da Alumar. No comando de José Maurício Macedo Santos e David Carmichael (in memoriam), um Irlandês que falava um português enrolado, mas tinha o carinho e admiração dos seus pares, pela simpatia e jeito especial de ser e tratar as pessoas com as quais convivia, que o fazia carismático por natureza.
“O que mais impede de ter um bom amigo é o empenho em ter muitos. A amizade quer ser antiga.” Plutarco
Quero aqui, abrir um parêntese, para também fazer uma breve homenagem a Mauricio Macedo, com quem trabalhei por 17 anos ininterruptos. Grande líder visionário, baixinho invocado, que fez muita gente chorar, mas ensinou muito sobre determinação, foco no resultado e competência técnica para gestão dos negócios a que se propunha. Idealizador do Parque Ambiental da Alumar, que na minha concepção deveria receber o seu nome como reconhecimento e gratidão pelos excelentes trabalhos prestados para esta renomada empresa e por extensão para a Alcoa e demais parceiros de negócios. Deixo aqui a sugestão na expectativa de que um dia se concretize.
“Sou moderno mas vivo a moda antiga ainda aprecio amizades verdadeiras e boas conversas e a simplicidade de viver.” Wesley Ds
O velho Chico por algum tempo dividiu comigo a mesma sala no escritório de trabalho. Até o dia que despediu-se, ao sair da Alumar e partir para o seu próprio negócio, que perdura até hoje. Tratando das terras, dos limites, fronteiras das propriedades da Alumar e suas vizinhanças, nas comunidades e diversos trabalhos nas áreas dos lagos de resíduos de bauxita, manutenção de áreas verdes, paisagismo e parque ambiental – que se confundem com a sua própria casa nestes 40 anos de convivência diária.
Seu Chico é uma herança, uma lenda, a história viva que se confunde com a Alumar. Deve ser reconhecido pelos feitos históricos que fazem dele o consultor de assuntos antigos, enciclopédia ambulante e fonte de conhecimento e experiência para aqueles que o acompanham e o sucederão nessa missão. O que ele realiza é com um compromisso espontâneo que nem parece trabalho, assemelha-se mais a um eterno lazer, porque faz por amor, mais que por dinheiro (com ele diz) – o que sabemos sobre ele é insignificante, diante de tanta sabedoria. Porém, o sorriso e as estórias de pescador que ninguém acredita, ele nunca deixa de contar.
Seu Chico começou a trabalhar na Alumar em 1979, foi o primeiro empregado da Alcoa no Maranhão, recebeu o crachá (ID ou chapa como dizem) de número 02, como sempre diz, a número 01 é da empresa. Logo Francisco Cavalcante, representa um marco na história da Alumar. Esse homem simples, cearense de Quixadá, como dito antes, tem uma riqueza imensurável de informações que eu gostaria de transformar em um livro se tivesse a anuência da Alumar para fazê-lo.
Sei que a sua rica história merece ser agrupada numa enciclopédia e, em livros para a posteridade, com o propósito de testemunhar os seus feitos, associada à história desta grande empresa, que talvez esteja perdida em compêndios isolados que não retratam a verdadeira importância deste empreendimento para o Brasil, para o Maranhão e especialmente para São Luís e municípios vizinhos que compõem a Ilha de São Luís e adjacências.
Francisco está treinando o seu filho Márcio Gomes Serra para substituí-lo nesta nobre missão. Como disse tem umas terras que recebera de herança dos seus pais lá em Quixadá-CE e, como ancião quer também dedicar um pouco de tempo com os amigos nas propriedades da família. Afinal a vida não é só trabalho!
Depois de 40 anos de serviços prestados como empregado direto da Alumar e contratado, almeja finalizar a sua atuação direta nesta empresa e está avaliando retornar em breve para a terra natal. Berço da família Cavalcante e das suas lembranças de criança da família extensa e coisas do mato. Quer voltar a tomar chá de boldo, caroço de abacate, raiz de quebra pedra, e outras ervas, raízes, folhas e caules que curavam as doenças no seu tempo de criança. O velho Chico é um homem franzino, sempre sorridente, contador de anedotas e estórias de pescador. É impossível ficar insensível diante dos seus “causos”. Quando estou ao seu lado sempre me divirto muito. É uma companhia agradável!
“Longas amizades continuam a crescer, mesmo com longas distancias.” William Shakespeare
Neste encontro ele me contou como surgiu a prática de estacionar de ré na Alumar. Transcrevo abaixo, na versão do Velho Chico, esse fato histórico que mais tarde foi incorporado por todos os empregados da Alumar, com extensão para os motoristas de São Luís.
Todos os dias realizávamos o Diálogo Diário de Segurança (DDS) no Depto. Meio Ambiente, à época, não era Depto. EHS. Havia dois departamentos o primeiro liderado por Maurício Macedo e o segundo por Clóvis Evangelista (Segurança do Trabalho, Higiene Ocupacional e Segurança Patrimonial), só mais tarde houve a fusão e as duas áreas passaram a fazer parte de um único departamento de EHS (Meio Ambiente, Saúde e Segurança).
“A melhor parte da vida de uma pessoa está nas suas amizades! Abraham Lincoln
Ele contou assim a história: Os DDS do departamento de meio ambiente eram coordenados por Hézio Ávila de Oliveira, naquela época Supervisor de Meio Ambiente. Existia uma programação prévia em que cada empregado conduzia um DDS por dia. Não era como hoje que o foco do DDS é na atividade do dia, na APR ou procedimento e na TARD (Tarefa de Alto Risco do Dia) com CPT (Conversa Pre Tarefa). Eram temas diversos de segurança que algumas vezes, nada tinham a ver com a atividade do dia, mas eram apresentados pelo responsável daquele dia – essa prática perdurou por muitos anos. Seu Chico não era muito simpático com a ideia de fazer DDS, só fazia porque era obrigado. E sempre ficava resmungando porque não apreciava aquela exposição. Ele gostava mesmo era do mato e das coisas da terra feitas de forma simples, sem complexidade, procedimentos ou normas rígidas.
“O melhor espelho é um velho amigo.” George Herbert
Num determinado dia, mestre Chico deveria conduzir o DDS para falar de segurança aos colegas de trabalho. Como não tinha nenhum assunto predefinido pegou um folheto do “SHELL RESPONDE” que à época era muito comum usarmos para esclarecer assuntos de segurança e meio ambiente, pela riqueza e concisão das informações ali disponíveis e também pelas novidades que trazia sobre assuntos diversos, sempre alinhados aos valores do nosso departamento. Além de, incentivar o interesse para a leitura e desenvolvimento pessoal e profissional da equipe de trabalho.
Então, seu Chico fez a leitura naquele dia de um tema que fazia referência a ESTACIONAR DE RÉ. Disse que estacionar de ré era importante porque o condutor estava com a atenção concentrada ao chegar; enquanto ao sair em marcha a ré, a probabilidade de acidente aumentava porque o motorista ainda estaria sonolento ou desatento e não conseguiria perceber atentamente o que está atrás, nas laterais, ou em volta do veículo. O que era verdade! Porque eu estava lá neste DDS para confirmar a veracidade do fato.
Depois da sua leitura e, comentários dos participantes, incentivou a equipe para começar a aplicar este procedimento no departamento.
A garagem era ao fundo do prédio, as divisórias entre os carros eram as peças de madeira que suportavam o telhado e limitavam o espaço lateral com grande probabilidade de batida durante as manobras; também à época não havia o batedor de pneus na parte de trás do estacionamento o que favorecia a batida nas chapas metálicas ao fundo.
Por informação do Velho Chico a ideia prosperou porque Hézio começou a adotar o procedimento de estacionar de ré, não apenas no estacionamento interno, mas também em outros locais da fábrica. A prática foi se ampliando ao ponto de tornar-se obrigatório estacionar de ré em todas as áreas da Alumar.
Então, tudo começou no Prédio T801, que para todo o efeito, seria um prédio temporário, herdado da construção da refinaria, que se tornou permanente e permanece até hoje ocupado pela equipe de PC&S e EHS ao fundo. A garagem continua a mesma – só mudaram os carros, os condutores e, as pessoas que por ali transitam e trabalham e, o paisagismo em volta da área – que diga-se de passagem era o mais lindo da fábrica por abrigar a equipe de meio ambiente, paisagismo e manutenção de áreas verdes. Obrigado Mestre Chico!
“Com velhas amizades, é possível compartilhar os aspectos mais íntimos e mais importantes, na certeza de que sua beleza e valor serão reconhecidos e apreciados. Com velhas amizades, a distância não tem significado ou poder. Há uma ponte feita de amor e lembranças, alegrias e tristezas que une velhas amizades e as mantém próximas. Com velhas amizades, sentimos segurança. Estão sempre perto, mesmo nas tempestades mais turbulentas, para que saibamos que é possível confiar e acreditar nelas e contar com elas. Sabemos que estarão ao nosso lado para que haja paz em nossos corações. Com velhas amizades, ninguém jamais se sente só, porque as raízes que as unem se aprofundaram e ficaram mais fortes. Elas passaram pelo teste do tempo.” (Autor desconhecido)