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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

UM RAIO DE LUZ NO MEARIM

Por José Carlos Castro Sanches

Site: www.falasanches.com      

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL

  “Aquele que adia a hora de viver corretamente é como o camponês que espera o rio se esgotar antes que ele atravesse.” (Horácio)

17 de Setembro de 2022. Era dia de festa literária na cidade de Arari. Após uma longa viagem partindo da capital maranhense seguimos pelas estradas esburacadas até a deleitada urbe. O velho amigo beletrista tremia ansioso e febril no fundo da rede amarela num quarto da casa ao fundo do quintal de um grande amigo arariense, acerca de duzentos metros do Rio Mearim que corria maré abaixo levando os aguapés ou mururus verdes, ao tempo em que os gafanhotos destruíam a vegetação na Trizidela triste e inquieta na margem oposta a poucos quilômetros da pororoca.

FONTE DA IMAGEM: INTERNET

O gentil anfitrião que hospedou o ilustre escritor e cronista é um dentista aposentado (não sei precisar o nome), dotado de sabedoria, fascinado por embarcações, pesca, leitura e pesquisas marinhas. O amor pelas embarcações fez com que construísse três lanchas, e as nominasse:  ”Nome do Pai I”; ”Nome da mãe II” e Juliana, em homenagem aos pais e a filha. O simpático hospedeiro é apaixonado por rios e barcos, amante da literatura, história e da memória familiar, especialmente do saudoso pai José Soares, geógrafo e ex-alfaiate de Arari aficionado pela leitura e escrita que se imortalizou plantando árvores, tornando-se pai e educando os filhos, construindo lanchas e escrevendo livros dentre eles “Ressonância de Ecos”.

FONTE DA IMAGEM: INTERNET

Naquela tarde, enquanto o mestre das letras arariense José Fernandes tentava dormir, o medo da solidão e a ansiedade pela espera da hora para receber a condecoração o assombravam – até a chegada de três amigos – provenientes de São Luís do Maranhão que iriam prestigiar o momento solene em sua homenagem na Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências – ALAC, na cerimônia especial de reconhecimento. Fortalecendo a premissa de Guimarães Rosa: “Cada um rema sozinho uma canoa que navega um rio diferente, mesmo parecendo que esta pertinho.”

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL

Dos amigos que chegaram de São Luís, dois deles, José e Maria eram casados, ele professor, escritor, cronista, contista  trovador e poeta; ela pedagoga; e o terceiro era Pedro, também professor, escritor, contista, trovador e poeta, galanteador que cantava e encantava as meninas moças e as solteiras por onde passava, além de fazer companhia ao casal durante a viagem de São Luís a Arari. A luz voltou a brilhar nos olhos do mestre, agora sentia-se apoiado pelos aliados presentes. “Mesmo em meio a escuridão, mais sombria e imensa, um ‘pequeno raio de luz’ se faz notar.” (Geissis Bispo)

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL

José Fernandes seria homenageado naquela noite em sua terra natal pelos acadêmicos, amigos e admiradores. O auditório parcialmente ocupado e a mesa de honra composta pelo Presidente da ALAC, Adenildo Bezerra, Pastor Eliézer, Cleilson Fernandes, Evandro Piancó, Pedro Neto, Hilton Mendonça e José Carlos Sanches, esse que vos escreve e na oportunidade tomou posse como Membro Correspondente da referida academia, juntamente com o Pastor Samuel Sá Filho, extremamente honrados por juntarem-se aos demais acadêmicos do prestigiado sodalício arariense. Seguíamos o Provérbio Chinês: “Não basta dirigir-se ao rio com a intenção de pescar peixes; é preciso levar também a rede.”

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O confrade Pedro Neto homenageou o autor dedicando-lhe o poema “O menino e o rio” de própria autoria, com arranjos de Robson Rubem e da Banda Brandt e Silva que alegrou o evento. Seguido do confrade Cleilson Fernandes que apresentou os livros do ilustre escritor José Fernandes: “Crônicas de Outono” e “Luso Torres: coronel, general e estadista”. A festa ocorreu com música, poesia e lançamento de livros do admirável cronista. Estávamos em êxtase diante da louvação à literatura e reconhecimento ao imortal. Fazia-se jus ao ditado: “Quem planta colhe!.” Perfeitamente alinhado ao axioma de Lao Tsé: “O rio atinge os seus objetivos porque aprendeu a contornar os obstáculos.”

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL

Ao fundo da casa onde hospedara-se juntamente com a filha cuidadora, um raio furioso e destemperado havia destruído de supetão quatro coqueiros que passaram anos para chegarem àquela altura; cocos, palhas, pedaços do caule se multiplicaram em fragmentos lançados à distância, enquanto a chuva caía na terra fértil do quintal acachapado de espécies vegetais nativas, assim descreveu orgulhoso o dono da propriedade que conservava a casa do saudoso pai, como boas lembranças de uma família feliz e próspera, muito embora, boa parte dos objetos de recordação do venerado patriarca da família tivessem sido roubados, não se sabe com qual finalidade, visto que o valor econômico não era significativo, tanto quanto o sentimental. Do Jardim do “Eder” a maça foi apanhada verde e apodrecera nas mãos dos larápios de plantão naquela cidade pacata banhada pelo Rio Mearim.

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“Quem é que pode parar os caminhos? E os rios cantando e correndo? E as folhas ao vento? E os ninhos… E a poesia… A poesia como um seio nascendo…” (Mário Quintana)

A esperada noite chegou e o dileto escritor e cronista José Fernandes empertigado recebia alegre as homenagens dos conterrâneos, confrades, familiares e amigos no Colégio Arariense, de tantas lembranças da infância humilde e das boas influências do Padre Brandt, que como dizem os ex-alunos, não era violento, apenas os corrigia de forma dura para torná-los homens e mulheres de valor. Como escreveu Ellen G. White: “Todo o raio de luz que derramamos sobre outrem, reflete-se em nós mesmos.”

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL

Terminada a sessão de “condecoração e reconhecimento” o ex-juiz, professor, escritor, advogado, ex-tipógrafo, cronista, contista, poeta etc. com lágrimas nos olhos autografava os seus livros para os presentes. Em seguida foram servidos salgados, refrigerantes e outras guloseimas e encerra-se o evento.

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL

O colégio tristemente testemunhara o homenageado seguindo até a porta de entrada, que naquele momento era de saída, acompanhado pelos amigos mais próximos e familiares até a rua ao lado da Igreja da Matriz, quando o mestre encontrou um garoto que declarou gostar de ler, presenteando-lhe com um dos seus livros para extrema alegria do menino surpreendido pela gentileza do notável escritor, cronista e poeta. O presente foi dado ao pé de uma inocente palmeira imperial que visualizava aquele gesto carinhoso de grandeza, que certamente marcará a vida daquele sorridente leitor mirim que abraçou o livro como se fora o melhor presente recebido em vida. Como disse José Luís Borges: “Creio que uma forma de felicidade é a leitura.” E declara Rubem Alves: “Um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar.” Se o livro é um brinquedo, e ler é brincar, não pode existir melhor lugar para um livro estar do que na mão de uma criança.

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL DO AMIGO POETA SAMUEL SÁ FILHO

Não sei como estava a lua ao espreitar o movimento do cronista ainda que incialmente se apresentasse triste durante a recepção dos amigos naquela rede; transformou-se num valente guerreiro recebendo as honras merecidas com firmeza, alegria, felicidade e atenção a cada detalhe. Parodiando Humberto del Maestro, suponho que a noite flutuava e as rosas dormiam mimosas aos beijos da lua.  

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL

Ao final do evento o anfitrião José Fernandes  convidou os colegas escritores que o acompanharam de São Luís a Arari, dentre outros acadêmicos e amigos presentes para juntos saborearmos um churrasquinho regado a cerveja e cachaça da terra. Foi ali que a alegria deu lugar à saudade dos bons tempos de boêmio e o poeta José Fernandes que à tarde estava consumido pelo medo e ansiedade, ao final da noite  bebia cachaça como se fosse jovem contando histórias para alegrar a noite especial, sem nenhum ressentimento; os demais amigos em sua maioria os acompanhavam nas doses… por volta da meia-noite de olhos trocados e passos trôpegos ele voltou para o quarto da casa ao fundo do quintal para dormir e sonhar, enquanto um dos amigos poeta e pastor Samuel Sá Filho, vagueava pela cidade à espera de um ônibus que o levasse de volta à capital maranhense e, Pedro Neto retornava à casa dos saudosos pais para conversar ao telefone com a amada esposa fingindo estar sozinho naquela noite, triste mulher que acreditou na história do geógrafo, professor, escritor, apreciador e ex-pescador do Rio Mearim.

FONTE DA IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL

“A árvore não prova a doçura dos próprios frutos; o rio não bebe suas próprias ondas; as nuvens não despejam água sobre si mesmas. A força dos bons deve ser usada para benefício de todos.” (Provérbio hindu)

Os ilustres convidados ararienses Éden Soares, escritor e, Hilton Mendonça Correa Filho, advogado, o vereador Evandro Piancó, além de professores e estudantes prestigiaram o evento. Outros que aportaram em Arari provenientes de outras plagas retornaram felizes aos destinos, Ribamar e a filha, os amigos escritores, cronistas e poetas Nelim, Carneiro Sobrinho e  o motorista do dileto amigo de todas as horas Ribamar. Todos sabemos sobre as histórias fabulosas de pescador. Julgo que seguiam o aforismo de Heráclito: “O homem que volta ao mesmo rio, nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem.”

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Era chegada a hora de voltarmos para casa. Por um triz Pedro Neto, José Carlos Sanches e Maria do Socorro Sanches que saíram impressionados da casa do afável anfitrião de José Fernandes, com os quatro coqueiros destruídos pelo raio de luz que caiu do céu, deixando apenas o tronco e as raízes das palmáceas. Enquanto o trio recebeu um livramento divino durante a viagem de retorno a São Luís, foram salvos da tragédia pela graça de Deus que os acompanhava na estrada de volta à Ilha do Amor. Daquela data em diante passaram a comemorar os aniversários juntos ao festejo de São José de Ribamar Fernandes. Renascemos das cinzas. Deus seja louvado!

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O raio que partiu as palmeiras, trouxe luz e vida. Quatro foram dizimadas e três vidas preservadas. Das trevas ao fênix; da rede amarela à cachaça; dos céus à terra haverá sempre entre nós a mão divina para nos proteger dos maus presságios. Até aqui nos ajudou o Senhor! Confirmando a máxima de Caroline Stempniak: “Acredite nos planos de Deus e nos livramentos que Ele escolheu para você.” E de Augusto Branco ao afirmar: “A mais densa escuridão não resiste ao menor raio de luz.”

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Durante o breve passeio pela cidade de Arari – visitamos o Restaurante “Nosso Recanto – nosso melhor canto”, à margem do Rio Mearim, comemos uma saborosa peixada cozida e recebemos atendimento especial do Jovem Codoense Diego, que adotou Arari como sua, e encanta os clientes com simpatia, empatia e boa comunicação.

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Durante a estadia no Hotel Portal do Mearim, fomos recepcionados pela  graciosa proprietária Teresa. Mulher determinada a vencer com galhardia, sem vitimização, os desafios e adversidades decorrentes do labor. Sentimo-nos em casa pelo acolhimento, carinho e atenção recebidos. Os dois exemplos sintetizam a epígrafe de Tony Hsieh: “Exceda as expectativas do cliente e você terá um cliente para a vida toda.”

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A simpatia das pessoas, os ambientes agradáveis, a pujança da ALAC, a energia positiva e a vibração dos acadêmicos, o calor intenso e o magnetismo da bela cidade ribeirinha refletem as boas lembranças descritas durante minha rápida passagem por Arari, banhada pelo Rio Mearim, decantada em verso em prosa pelo escritor José Ribamar Fernandes, a quem dedico esta crônica. Minha eterna gratidão a todos que elevam a literatura, a arte, a ciência e a cultura nas margens plácidas e leito do Mearim fonte eterna de inspiração dos poetas. Parece que da nascente do rio jorra a poesia e as águas turvas escondem as gotas sublimadas para retornarem iluminadas. Como disse Guimarães Rosa: “O rio não quer chegar a lugar algum, só quer ser mais profundo.”

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Agora encerro apreciando uma praia deserta e imaginária com o vento sereno refrescando a minha pele, o sol ardente e brilhante, a areia macia e molhada; visualizando os navios distantes à espera de um porto seguro, desfrutando do silêncio e da paz interior que contagia a alma com um horizonte de esperança; respirando o ar perfumado, ouvindo o ruído da ondas; observando o vai e vem das águas, os pássaros que voam, a jangada dirigida pelo balseiro, o pescador concentrado; saboreando peixe frito, arroz de cuxá, camarão, caranguejo e água de coco à beira-mar, enquanto surge um belo raio de luz para abrilhantar o meu dia. O raio divino!

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“A observação de nós mesmos permite que penetre um raio de Luz em nosso interior.”⁠ (Samael Aun Weor)

Enquanto eu escrevia nos guardanapos a magnética Ilha de Upaon-açu crescia dentro de mim, como o meu recanto predileto e fonte de eterna inspiração. Bate forte o meu coração e a diligente espera não cansa de espreitar a poesia e decantar o amor que sustenta o meu corpo frágil e alimenta Minh’ alma carente.

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“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu.” (Friedrich Nietzsche)

São Luís, 19 de setembro de 2022.

Revisado em 29 de janeiro de 2024.

José Carlos Castro Sanches

É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão, da União Brasileira de Escritores e da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências e da Academia Vianense de Letras.

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Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas, A Vida é um Sopro!, Gotas de Esperança; Pérolas da Jujuba com o Vovô; Pétalas ao Vento; Borboletas & Colibris (em parceria); Das Coisas que Vivi na Serra Gaúcha, Divagando na Fantasia em Orlando e Me Leva na Mala, e participação em diversas Antologias brasileiras. Tem a literatura como hobby e acredita que escrever é um ato de liberdade. Visite o site falasanches.com e conheça o trabalho do autor.

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Adquira os Livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja on-line www.ameilivraria.com; os livros da Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!, e os livros da Série Três Viagens: Das Coisas que Vivi na Serra Gaúcha, Divagando na Fantasia em Orlando e Me Leva na Mala, no site da Editora Filos: https://filoseditora.com.br/?s=Sanches

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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS19.09.2022. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

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