Por José Carlos Castro Sanches

“Cada um leva dentro um poeta adormecido. Feito o vento que desarruma as folhas secas, vamos soprar para que ele possa ser redemoinho…” (Mel Fronckowiak)
O silêncio de Vênus incomoda. Tenho a expectativa de que um dia o gigante adormecido se levante e junto com ele prospere a fortuna e abundancia de outrora naquele planeta. Boa leitura e reflexão!
Vênus conhecido como “Estrela D’Alva”, por causa de seu forte brilho é um planeta que não possui satélite. É o segundo planeta a partir do sol e o mais perto do planeta Terra. Curioso notar que mesmo sendo o segundo planeta a partir do sol (depois de Mercúrio), Vênus é o planeta mais quente do sistema solar, com temperaturas que podem atingir 480°C. Assemelha-se com o planeta Terra no tocante ao tamanho, composição, estrutura, massa, densidade e força gravitacional.
Quando trabalhava em vênus havia uma unidade de produção de Alumínio, um metal leve, mole, maleável, dúctil, prateado, com alta condutividade elétrica, boa resistência à corrosão e de grande consumo naquele planeta. É o metal mais abundante na crosta terrestre, mas não ocorre no estado nativo.

“A adversidade tem o efeito de atrair a força e as qualidades de um homem que as teria adormecido na sua ausência. ” (Heródoto)
O precioso metal era produzido em duas etapas. A primeira, transformava a “Bauxita” em “Alumina” e, a segunda reduzia a “Alumina” a “Alumínio”.
Era uma riqueza de tudo! Recordes de produção, movimentos contínuos de equipamentos e pessoas que transitavam nas dependências da fábrica, geração de emprego e renda para o povo daquele planeta pobre e limitado de oportunidades.
“Acredito que o melhor programa social é um emprego. ” (Ronald Reagan)
O comércio e empresas locais se beneficiavam daquela fortuna que extrapolava os limites do complexo industrial de grande importância para Vênus e por extensão para os demais planetas que compõem o sistema solar. A estrela brilhava fortemente em todas as direções e a luz se espalhava do amanhecer ao anoitecer por todos os lugares daquele corpo celeste.
Além das duas unidades de produção existia também um porto que recebia os insumos e matéria-prima para alimentar aquele ambiente atrativo, competitivo e saudável.
O consumo daquela indústria era elevado e ajudava o povo pobre e rico, das circunvizinhanças e também da capital. Até o dia em que uma de suas unidades, que consumia mais energia que todo o planeta Vênus, encerrou a produção. A energia era tão cara naquele planeta governado por “Dinossauros”, que ficou inviável manter a produção.

“A miséria e a sociedade de produção ainda são a melhor forma de controle social. ” (Augusto Branco)
O fechamento da unidade produtora provocou a demissão de centenas de empregados diretos e indiretos. O planeta Vênus sofre pela perda de arrecadação fiscal e severos impactos na economia, com implicações nas comunidades adjacentes, na capital e municípios vizinhos. Empresas contratadas, subcontratadas e fornecedores entraram em falência e fecharam as portas. Milhares de pais de família sofrem as consequências do subemprego, enquanto outros permanecem desempregados a mendigar oportunidades.
“Uns queriam um emprego melhor; outros, só um emprego. Uns queriam uma refeição mais farta; outros, só uma refeição. ” (Chico Xavier)
Depois de três anos voltei a Vênus e observei o quanto as coisas mudaram naquele planeta cinza.
O silencio incomoda; as ervas daninhas tomam conta dos prédios administrativos, canteiros e ruas; as aranhas se apropriam dos prédios e, as teias se multiplicam com os ratos, insetos e animais peçonhentos; a ferrugem se apodera dos metais; as estruturas sólidas e inertes apodrecem; o ruído e o calor de outrora se contrapõem com o silencio demolidor e ao frio, sem gelo, dos equipamentos, máquinas e construção mortas e secas, que perderam a serventia tornando-se obsoletos, fosseis, ferrugentos.

A solidão enrudece os poucos solitários “homens de Vênus”, que persistem em preservar os equipamentos e a infraestrutura daquela fábrica, com a esperança de que um dia volte a operar. Um desejo que também é meu e de muitos outros que acreditam na revitalização daquela unidade produtiva. Afinal dela provinha o salário, o sustento, o orgulho, a satisfação, a alegria de centenas de empregados diretos e indiretos e a riqueza de uma população carente e desamparada.
“Do mesmo modo que o metal enferruja com a ociosidade e a água parada perde sua pureza, assim a inércia esgota a energia da mente. ” (Leonardo da Vinci)
Aqui faço um apelo ao governador de Vênus e ao presidente do Sistema Solar para reavaliarem com parcimônia, sem viés político, a possibilidade de retomada da produção daquela que outrora fora a “Estrela D’alva”, a maior indústria de Vênus e hoje “soluça” diante das dificuldades impostas pelo sistema econômico e pelos governantes deste planeta cadente, que “suspira” triste diante da corrupção e da mentira, na esperança de que um dia volte a crescer. Queremos vida e movimento em vez de calmaria e trevas. O silêncio de Vênus atormenta!
Vamos ajudar a levantar o gigante adormecido. Desejo que em breve o gigante se levante, mais forte do que outrora; estamos certos de que a sua força interior é maior que as adversidades a serem vencidas. Para frente Vênus!

“Quando tudo acabar, ficará a memória que no Brasil, como em Lilipute, pequenos homens levantaram um gigante que estava adormecido. ” (Sidiney Breguêdo)
São Luís, 12 de abril de 2019.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL, União Brasileira de Escritores e PEN Clube do Brasil.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS12.04.2019. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.


Elcinete Coutinho
14 de agosto de 2021 at 17:26
Interessante.
Entendi.
Habitei por allguns anos nesse planeta.