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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

UM DIA SEM TELA

Por José Carlos Castro Sanches

“A virtude é difícil de se manifestar, precisa de alguém para orientá-la e dirigi-la. Mas os vícios são aprendidos sem mestre.” (Sêneca)

Como seria um dia sem usar o celular e aparelhos eletrônicos? A minha neta Julie Sanches, pediu à sua mãe “um dia sem tela”. Eu imaginei: que atividades elas fariam juntas? Logo veio a lembrança da minha infância quando não havia telefone móvel, tampouco facilidade para acesso a computador portátil, eu tinha apenas uma máquina de escrever e os brinquedos mais exóticos que se possa imaginar faziam a minha alegria e extrema felicidade naquele tempo de menino.

Relembrei daqueles dias que não voltam mais, que não havia o celular, internet, equipamentos eletrônicos, robôs e outras tecnologias para entretenimento da garotada. Senti saudade das brincadeiras de rua com meus irmãos, primos e amigos de infância. Guardo comigo as lembranças da cidade maravilhosa onde nasci, cresci e voei para o mundo, com o propósito de estudar, aprender e poder compartilhar um pouco da nossa história.

Os brinquedos eram simples, fabricados na maioria das vezes pelos pais, familiares e pelas crianças com genialidade e criatividade de acordo com as posses, bens disponíveis e a diversidade de opções que o ambiente natural oferecia.

 Destaco os brinquedos que marcaram a minha vida e iluminam as mais belas lembranças da infância: Carrinho de rolamento (rolimã); bola de seringa, de meia e de gude (bolinha); Carrinho de lata de leite puxado por um cordão; pião de coco babaçu; pipa (papagaio); baladeira; tomar banho de chuva com os amigos correndo pelas ruas de Rosário; criar passarinho preso na gaiola era também um “hobby”; jogar xuxo; andar de perna de pau; eu, meus irmãos, primos e amigos nos deslocávamos sob a luz de um rigoroso sol ardente a longa distância para jogar futebol no sitio de “Seu Didi Cunha”. Também. Jogávamos botão em casa –  era o jogo “mais chique”; apreciávamos um caminhão artesanal todo feito de buriti em empurrado a mão por Cangambá, um preto velho que fazia seu próprio caminhão de buriti; observávamos com atenção aqueles veículos, parecidos com carros de corrida que chegavam em nossa cidade provindos da capital São Luís, que chamávamos inocentemente de carros de fórmula 1.

24 ideias de Velhos tempos!!!. | memórias de infância, brincadeiras  antigas, brincadeiras para crianças

Lembrei que o meu pai não deixava que jogássemos jogos de azar, apostados, eu ficava só na vontade olhando os colegas jogarem: bilhar, dama, dominó, baralho e outros jogos de azar. Certa vez fugi escondido dos meus pais para apreciar esses jogos, restou apenas a vontade de jogar. Hoje sinto falta quando me convidam para participar destes jogos. Fico arredio, distante e perco a oportunidade de interagir com os amigos. Algumas limitações da infância nos acompanham por toda vida.

Depois vieram os triciclos, as bicicletas e os brinquedos que os meus pais compravam em São Luís e nos presenteavam principalmente nas datas festivas como aniversários, Natal e Ano Novo. A tecnologia e a evolução começavam a entrar em nossas vidas.

Brinquedos que marcaram outros dias da criança - noticias - O Estado de S.  Paulo - Acervo Estadão

Enquanto isso a minha neta acompanha sua mãe “num dia sem tela”. O que para mim era rotineiro, para ela é um dia diferente. Eu nunca pensei que algum dia uma tela tiraria o meu foco das coisas maravilhosas da vida e que me tornaria viciado em telas. Hoje quero voltar ao passado e brincar com os meus brinquedos exóticos, todavia, não consigo fugir do hábito da escrita diária, celular, computador, redes sociais e demais algemas que a tecnologia e a internet impuseram ao mundo informatizado e distante das coisas simples e agradáveis que abrilhantaram a minha infância. O grande vicio em celulares e tecnologias nos distanciam de quem está perto.

“As nossas virtudes, a maior parte das vezes, não passam de vícios disfarçados.” (François de La Rochefoucauld)

Parabéns, Julie e Fabielle por decidirem ficar “um dia sem tela”. Quem sabe no futuro a tela seja apenas um instrumento para intensificar a lembrança de que existem coisas mais importantes que precisam ser feitas, além da dependência maléfica das telas diversas que nos rodeiam nestes dias de guerra, pandemia, excesso de informação, sofrimento, dor e agonia dos ucranianos bombardeados pelos russos, impiedosamente sacrificados pela ambição desmedida e destrutiva de poder que tomou conta da humanidade. Viva a paz, não à guerra. Viva os brinquedos exóticos da minha infância, não às telas viciadoras e contaminadas para as crianças.

Quem sabe seja você um adulto viciado que esteja precisando de um dia sem tela. Que tal fazer um dia sem tela com os filhos, netos, sobrinhos ou crianças amigas, depois contar sua experiência?  

“A pessoa não percebe que a necessidade de estar conectado é cada vez maior e, para obter o mesmo prazer, ela tem que usar cada vez mais. É como se fosse uma droga.” (Sylvia von Enck)

São Luís, 25 de fevereiro de 2022.                                                         

José Carlos Castro Sanches

É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.

Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e catorze livros inéditos. Visite o site falasanches.com e a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o nosso trabalho.

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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS25.02.2022(2). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

Comments (2):

  1. Maura Luza Frazão

    28 de fevereiro de 2022 at 13:47

    Fiquei muito feliz em perceber que a linda e talentosa Julie está sendo incentivada a encontrar prazeres fora das telas. De minha parte me sinto feliz em saber que minha principal forma de lazer e entretenimento ainda é um bom livro (atualmente degustando Úrsula, da célebre Maria Firmina dos Reis). Meus parabéns pela belissima reflexão nobre amigo poeta 🎀🌼🌹🌹

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    • sanches

      28 de fevereiro de 2022 at 22:37

      Querida amiga Maura Luza Frazão, aprecio sua atenção e generosidade. Continue investindo seu precioso tempo na leitura de bons livros. Forte abraço, saúde e paz. José Carlos Sanches

      Responder

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