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TRIBUTO AOS MOSQUITOS!

Por José Carlos Castro Sanches

“Nunca vou perdoar Noé pelo casal de pernilongos que ele colocou na arca.” (Autor desconhecido)

Esse tributo a que me refiro é uma pena que não constitui sanção por ato ilícito. É pelo fato regular de extrair meu sangue e de meus familiares por muitos anos sem a devida permissão. Diferentemente de Luiz Gonzaga – Rei do Baião pelas contribuições à música e à cultura nordestina e brasileira. Este é pelo descaso com a saúde pública.

Aedes Aegipty, Aedes albopictus, muriçoca, pernilongo, praga, etc. Estes insetos que parecem inofensivos e indefesos foram introduzidos na América do Sul através de barcos provenientes da África. Nas Américas, se admite que sua primeira colonização sobre o novo mundo ocorreu através dos navios negreiros no periodo colonial junto com os escravos.

O Aedes aegypti é um mosquito que se encontra ativo e pica durante o dia, ao contrário do Anopheles, vetor da malária, que tem atividade crepuscular. O Aedes aegypti tem como vítima preferencial o homem e faz praticamente nenhum som audível antes de picar. Mede menos de 1 centímetro; é preto com manchas brancas no corpo e nas pernas.

O seu controle é difícil, por ser muito versátil na escolha dos criadouros onde depositam seus ovos, que são extremamente resistentes, podendo sobreviver vários meses até que a chegada de água propicie a incubação. Uma vez imersos, os ovos desenvolvem-se rapidamente em larvas, que dão origem às pupas, das quais surge o adulto. Como em quase todos os outros mosquitos, somente as fêmeas se alimentam de sangue para a maturação de seus ovos; os machos se alimentam apenas de substâncias vegetais e açucaradas.

Mas o bicho já tem nome de ruim desde a etmologia grega (aēdēs do grego”odioso” e ægypti do latim “do Egipto”) é a nomenclatura taxônomica para o mosquito que é popularmente conhecido como mosquito-da-dengue ou pernilongo-rajado . Sendo dependente da concentração humana no local para se estabelecer. 

O mosquito está bem adaptado a zonas urbanas, mais precisamente ao domicílio humano, onde consegue reproduzir-se e pôr os seus ovos em pequenas quantidades de água limpa, isto é, pobres em matéria orgânica em decomposição e sais (que confeririam características ácidas à água), que preferivelmente estejam sombreados e no peridomicilio. As fêmeas, para realizar hematofobia, podem percorrer até 2 500 metros. 

E daí o que tenho a ver com isso? 

Chego em minha casa bela com todos seus aposentos, construída por longos anos com o propósito de relaxar e curtir aquilo que Deus permitiu para meu aconchego familiar. Mas não tenho sossego é pernilongo por todo lado. Sentado, deitado em pé, correndo, andando, lendo, estudando, deitado, dormindo, sorrindo ou chorando. Não tem saída. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

E vai pra lá puxa pra cá, minha neta passa repelente, meu genro não passa sem ele; minha filha se abana, a esposa reclama, as visitas se afastam, eu invento desculpas para sair de casa e fugir das desgraçadas, jogo spray espirro feito burro velho, de nada adianta a epidemia tomou conta da minha liberdade de ir e vir, ler e estudar, deitar e acordar sem sossego.
Infames navios negreiros que deveriam trazer apenas escravos negros da África, que tanto nos completam e orgulham com sua cultura e história de resistência e força e que nos motivam a continuar a luta pela diversidade e pela beleza da miscigenação que torna o nosso povo mais lindo.

Trouxeram também estas pragas que não parecem ter fim. Que se alimentam do nosso sangue, vetores de doenças graves como a dengue, febre amarela, febre zika e chikungunya e, por isso mesmo, o controle das suas populações é considerado assunto de saúde pública.

Saúde pública! Aqui eu me questiono o que de fato estou fazendo para erradicar estes malditos insetos que entraram em minha casa e na minha vida, dos meus familiares e da população maranhense e brasileira sem a nossa permissão? 

Fechar as janelas e portas eu fecho antes do anoitecer para não entrar mosquitos. Latas, pneus, reservatórios de água, casa limpa e pessoal instruído em casa, nos temos; tudo isso não mudou a quantidade de pragas, pernilongos, mosquitos ou o que desejarem chamar.

Em nossa casa não os chamamos mas a cada ano eles se reproduzem provocando picadas, bate-pé, palmas involuntárias e desperdício de spray. O pior de tudo é que eu vivia reclamando da casa dos meus pais lá em Rosário, que deixei de passar as noites por lá com a minha família porque tinha muita “praga”, além do calor tipo calefação – daqueles que a água bate no corpo e vaporiza igual a “ pingo de óleo em frigideira quente”.

Coitada da minha mãe, devia ficar preocupada porque algumas vezes correndo das pragas e do calor saí da sua casa em Rosário, às 11 horas da noite para dormir em São Luís, no meu ninho praga e sem calor. Sou muito acomodado, gosto de conforto e ar condicionado, sem insetos por perto.

Lembrei-me que na década de 70 durante a minha infância em Rosário/MA, eu já ouvia falar em mosquito da dengue. Havia um grupo de “fura latas”, eram assim denominados, da SUCAM. Eles passavam de casa em casa, colocavam uma bandeirola amarela, fiscalizavam tudo; usavam um martelo de ponta e furavam todas as latas que encontravam; derramavam a água dos jarros, pneus; usavam uma lanterna potente que detectava larvas de mosquitos à distância eles tinham uma afinidade com os bichos que identificavam tudo que podia facilitar a propagação deles. Lembro que o grupo ficava hospedado no “Hotel Nena” ao lado da nossa casa em Rosário.

Naquela época trabalhava na casa dos meus pais, uma jovem empregada doméstica que gostava de pular a cerca “à noite” para aprender a furar lata com os rapazes da SUCAM. Bendito, Vicente, líder do grupo e querido pela população por ser um cidadão do bem que despertava a simpatia de todos. E parece ter tocado o coração da infeliz donzela enfeitiçada pelo tolo ao ponto de pular as cercas nas madrugadas para estar ao lado dele.

Eles, os “ fura latas” estavam sempre bem vestidos com a farda da SUCAM, eram respeitados e gostávamos deles pelo cuidado, forma amigável e carinhosa que a todos tratavam e ensinavam a aniquilar os focos de mosquitos.

Enquanto eles permanecessem em uma casa, a bandeirola amarela estaria estendida na porta e estávamos seguros de que os mosquitos não entrariam naquela casa. Uma beleza! Fantasia de criança que vê o mundo com um olhar desfocado da realidade. Era bom sentir aquela segurança ainda que por pouco tempo. Ao saírem das residências eles davam inúmeras instruções que dificilmente eram cumpridas. Mas, todos afirmávamos que iriamos proceder da forma recomendada.

Ao final da visita deixavam um papel afixado – ficha de visita – atrás da porta com a data, nome do visitante dentre outras informações que não lembro mais.

Finalizado o ciclo dos mosquitos, eles iam embora, o Hotel Nena ficava vazio, as ruas de Rosário sem os “fura latas”, e Dorinha, ficava enfim dentro das cercanias de nossa humilde casa, sem pular a cerca porque Vicente e seus companheiros de trabalhos haviam partido. Sobrava-lhe a saudade e o amor latente no coração iludido da moça pobre do interior que supria suas carências afetivas com os “fura latas”, assim, eu imaginava porque nunca tive certeza se esse fato ocorreu, apesar dos boatos pela pacata cidade interiorana onde nasci, passei a infância e parte de juventude.

Quando eles partiam ficava apenas a saudade até o ano seguinte quando tudo se repetia. Assim comecei a conhecer um pouco da missão de combater mosquitos. No entanto, de verdade nunca conseguimos exterminá-los o que seria certamente um grande passo para a humanidade como disse Niel Armstrong ao pisar na lua pela primeira vez em 20 de julho de 1969: “ Este é um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade.” Eu era criança com apenas sete anos de idade, tremendo de medo, escutei a transmissão desse fato histórico através de um rádio, na cozinha da humilde casa dos meus pais em Rosário/MA. Até hoje não sei a razão do medo. Talvez por isso eu nunca tenha acreditado que um homem pisou na lua. Em outra ocasião discorro sobre este tema.

O que também não entendo é porque queremos ir tão longe, desbravar outros planetas, estrelas e galáxias e não conseguimos debelar os mosquitos, nossos compatriotas, vizinhos próximos que habitam o nosso lar, em nosso próprio planeta, em nosso território, em nosso Brasil.

Não sei o que se passou mas hoje não tenho para onde correr a pragalhada é geral – se correr o bicho pega se ficar o bicho chupa o nosso sangue e tira a nossa tranquilidade. 

Se eu não tivesse uma mãe Zazá, daquelas criaturas que nasceram para fazer o bem, zelar pelos filhos e familiares com um amor incondicional podia achar que era “praga” de mãe pelas vezes que sai correndo das “malditas pragas de Rosário”.

Hoje não tenho mais para onde correr! Me disseram para comprar um apartamento num edifício bem alto, é tudo ilusão, as pestes da pragas ou pernilongos podem subir até 40 metros, e dizem que com os novos layouts das construções e adjacências poderão subir mais, através do elevadores e outros meios. Dizem até que o elevador, único meio de transporte que não faz curva, como diz meu sogro David, vai continuar transportando as “pragas, pernilongos” para altos escalões da nobreza imobiliária. 

Algo está diferente. A cada ano que passa aumenta a quantidade de mosquitos, pernilongos, pragas, muriçocas, como queiram chamar.

De quem será a culpa? Das estrelas? Do aquecimento global? Do efeito estufa? Do El Nino? Do governo? Ou do cidadão? Minha ou sua? E agora José ? O que vou fazer? Mudar do Brasil ? Negociar com pernilongos? Ou ficar deitado em berço esplêndido e reconhecer que não sou capaz de fazer nada para mudar essa triste realidade?

Reconheço que os mosquitos têm muitas qualidades as quais descrevo abaixo:

Um pernilongo macho vive, em média, 8 ou 9 dias. A fêmea dura um mês; se o inverno chega antes que a fêmea tenha oportunidade de depositar seus ovos, ela hiberna até as condições favoráveis voltarem. Às vezes, isso demora 4 ou 5 meses; eles raramente se afastam mais de 300 metros do local onde nasceram; batem as asas mil vezes por minuto; são as fêmeas que sugam o sangue de mamíferos, aves e anfíbios para depois produzirem os ovos. 

Os machos vivem de néctar ou seivas vegetais; seriam necessárias 1,12 milhão de picadas de pernilongo para tirar todo o sangue de um homem adulto; aquele som irritante emitido pelos pernilongos não é um canto. Ele vem da vibração do bater das asas do mosquito; os pernilongos atacam nos dias de calor, porque a temperatura ambiente ideal para seu organismo gira em torno de 26 a 28ºC. Abaixo dos 18ºC, eles hibernam; e, acima dos 42ºC, eles morrem.

É difícil fugir desses insetos, porque eles detectam cheiros a até 36 metros de distância; os hematomas que se formam no local da picada de pernilongo são causados por uma enzima presente na saliva do inseto, que provoca uma reação alérgica na pele do ser humano.

E agora José? 

Tudo é favorável aos “pernilongos” exceto os dias de vida que graças a Deus são muito curtos. Mas, não se alegre eles se multiplicam como os coelhos.

Se não podemos mudar o nosso clima que é favorável aos pernilongos que atuam principalmente nos dias de calor. Não podemos mudar a nossa afinidade biológica com eles, visto que, os pernilongos se orientam pelo odor do dióxido de carbono e do ácido lático liberados durante a respiração humana.

Os mosquitos detectam o nosso cheiro a até 36 metros de distância. Bote olfato para um bicho tão insignificante. Às vezes pergunto por que Deus criou esse inseto? Deve ter suas razões que a minha vã ignorância não consegue decifrar. Tudo que Deus faz tem um propósito.

E a estória não é contada por quem nunca sofreu os efeitos destes destemidos mosquitos, já fui vítima da dengue – doença que deixa a gente sem sangue, pálido como pano branco, com uma fraqueza que nem se pode andar direito, escassez de sangue e medo da reincidência. 

E a Zica meu prezado deixa o paciente com o tornozelo grosso, juntas inchadas doloridas, tontura e certa indisposição que dura longos dias e até meses. Só tem nome de referência do samba carioca, mas não tem a alegria do carnaval é sinônimo de hospital ou funeral.

A febre amarela, malária ou paludismo, entre outras designações, é uma doença infecciosa aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles. É transmitida por um mosquito infectado por seu vírus. 

Agora ferrou de vez, a febre amarela voltou a atacar ferozmente. Macaco e gente, tudo porque esses malditos pernilongos continuam soltos. Nada consegue detê-los. Até a população de São Paulo a maior metrópole brasileira que se dizia segura e imune está sofrendo as consequências dessas pragas que se alastram a cada dia deixando vítimas em todos os recantos do nosso país.

Ainda não conseguimos erradicar a malária e a febre amarela do Brasil. Até quando vamos sofrer com esses insetos do inferno. Se a ciência encontrasse uma forma de tirar as asas desses funestos seres alados, quem sabe um dia erradicaríamos a febre amarela do nosso meio. Deixo esse desafio para os cientistas. Agilizarem as pesquisas antes que a população brasileira seja dizimada por esses bichos das trevas.

Mas, nem tudo está perdido. Como eles raramente se afastam mais de 300 metros do local onde nasceram, então podemos dizimar os ovos, larvas e pupas antes que se tornem adultos, furando lata, eliminado água empoçada, recipientes plásticos, vidros, pneus e secando os vasos de plantas ornamentais.

Não podemos interferir no bater das asas, com aquele ruído, que tanto nos incomoda além do ardor das picadas indesejadas. Os machos vivem apenas do néctar e seivas vegetais, mas as fêmeas meus amigos são tipo vampiro, sugam e se alimentam do nosso sangue para procriação e manutenção do ciclo das picadas através das futuras gerações de mosquitos cada vez mais resistentes e letrados na era digital. 

Saber que seriam necessários 1,12 milhão de picadas de pernilongo para sugar todo o sangue de um homem adulto poderia ser um conforto, mas não é meu caro cliente de pernilongo. Uma picada pode ser fatal, então não podemos ficar de braços cruzados à espera da morte precisamos agir agora, juntos contra a dengue, a febre amarela, a febre zika e chikungunya, dentre outros males causados pelos mosquitos. 

Tire um tempo precioso da sua vida para visitar o quintal, o sitio, a fazenda, o terreno desocupado e faça a diferença. Na campanha pela erradicação do mosquito da dengue cada um de nós pode fazer a sua parte. Você já fez a sua? Comece agora!

São Luís, 05 de novembro de 2015

José Carlos Castro Sanches

É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense. Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e catorze livros inéditos. Visite o site falasanches.com e a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o nosso trabalho.

Adquira os Livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja on-line www.ameilivraria.com; os livros da Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!, no site da Editora Filos: https://filoseditora.com.br/?s=Sanches

O Livro “Pérolas da Jujuba como Vovô” com edição limitada você poderá adquirir diretamente com o autor.

NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS05.11.2015. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

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