Por José Carlos Castro Sanches
“Um homem sem propósito é como um navio sem leme. ” (Thomas Carlyle)
Algum tempo atrás comprei uma casa enorme, modelo antigo, fiquei encantado com ela ao visitá-la às 23h de uma noite escura, onde não se percebe os detalhes e como dizem, “todo gato é pardo”.
Eu tinha uma casa nova que construí em 12 anos de trabalho árduo, sacrifício, resignação, foco e fé. Tudo que ganhava era para comer, educar os filhos, manter a saúde física e mental, o transporte, o abrigo e vestuário. Pouco lazer, zero viagem e muita determinação para terminar o que havia começado com propósito e concluir aquela missão com sucesso.
“A nossa grande e gloriosa obra-prima é viver a propósito. “ (Michel de Montaigne)
Eu vivia procurando outra casa para comprar, parecia insatisfeito com a que tinha conquistado com tanto suor e trabalho, numa busca insana por algo sem finalidade clara.
Muitas vezes temos tudo ao nosso lado e valorizamos o que está distante. É como a história do ciclista que deseja a moto, do motociclista que sonha com um carro, do proprietário do veículo que aspira ter um helicóptero, do aviador que pretende chegar à lua…, e assim segue a ambição desenfreada para obtermos o que não temos, e não precisamos para ser feliz, desprezamos o que é essencial e que nos atende plenamente para viver a agonia da busca pelo desnecessário.
“Se quiser ter uma vida plena, prenda-a a um objetivo, não às pessoas nem às coisas… “ (Albert Einstein)
Voltando à casa grande, que me apaixonei naquela noite, não me contive, comprei-a; vendi três terrenos, retirei todas as economias que dispunha na poupança, mas adquiri a casa velha. Tinha o desejo de nela morar, porém não era consenso da família, especialmente da minha esposa, que preferia que continuássemos onde estávamos, em nossa casa ventilada, resplandecente, arborizada, com jardins e pássaros, sapos, morcegos e o camaleão cagão.
Me fez lembrar o texto que o poeta Olavo Bilac fez a um grande amigo que queria vender um sítio que lhe dava muito trabalho e despesa. Reclamava que era um homem sem sorte, pois a sua propriedade dava-lhe muitas dores de cabeça e não valia a pena conservá-la. Pediu então ao amigo poeta para redigir o anúncio de venda do seu sítio, pois acreditava que, se ele descrevesse a sua propriedade com palavras bonitas, seria muito fácil vendê-la.
E assim Olavo Bilac, que conhecia muito bem o sítio do amigo, redigiu o seguinte texto:
“Vende-se encantadora propriedade onde cantam os pássaros, ao amanhecer, no extenso arvoredo. É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda.”
Meses depois, o poeta encontrou o seu amigo e perguntou-lhe se tinha vendido a propriedade.
“Nem pensei mais nisso”, respondeu ele. “Quando li o anúncio que você escreveu, percebi a maravilha que eu possuía.”
Algumas vezes, só conseguimos enxergar o que possuímos quando pegamos emprestados os olhos alheios. Assim aconteceu comigo, depois que adquiri o outro imóvel, passei a valorizar e admirar cada detalhe da minha casa, e, comecei a sentir saudade, mesmo antes de partir. É algo que não consigo descrever, é um sentimento diferente como se estivesse antecipando uma perda, ainda que houvesse a possiblidade de ganhar novas experiências.
“Essa é a verdadeira alegria na vida, ser útil a um objetivo que você reconhece como grande. ” (George Bernard Shaw)
Quatro anos se passaram e o investimento que me parecia promissor, passou a ser uma preocupação. Eu mesmo, já não pretendia sair da minha casa para morar naquele casarão obsoleto.
Eu vivia procurando uma desculpa para justificar a paixão e a incerteza. Certo dia levei um amigo Pastor para conhecer a casa e contei-lhe um pouco sobre o que descrevi anteriormente sobre a aquisição daquele imóvel e o fato de nunca ter usufruído do bem. Ele disse: “ Uma casa tão linda, eu queria tanto ter uma dessa para morar. “ Continuei dizendo que não queria deixar a minha casa para morar ali, então ele sabiamente concluiu: “Você comprou esta casa sem propósito! ”.
“Todas as graças da mente e do coração se escapam quando o propósito não é firme. ” (William Shakespeare)
Acertou na mosca, agi pela emoção, orientado pela loucura da mudança que quase todos nós temos em algum momento da vida. Depois percebi que tudo que se faz sem a orientação divina, sem seguir os desígnios do pai, movido pela euforia e ambição de querer mais do que se precisa para viver bem, leva à frustração.
“A verdadeira felicidade e sucesso consiste em gastar nossas energias com um propósito. “ (William Cowper)
Então, aprendi a primeira lição: tudo que faço deve ter um propósito. Sem ele nada feito! E a segunda lição: saber dizer não, para o que parece importante, mas não é essencial. Isso transformou a minha vida, hoje sou um outro homem e, compartilho os aprendizados com aqueles que buscam a sabedoria. Tudo vem com um propósito e vai por uma razão.
“O propósito do aprendizado é crescer, e nossas mentes, diferentes de nossos corpos, podem continuar crescendo enquanto continuamos a viver. “ (Mortimer Adler)
São Luis, 22 de novembro de 2020.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e outros dez livros inéditos.
Visite o site: falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho como escritor, cronista e poeta.
Adquira os Livros da Tríade Sancheana, composta pelos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja online www.ameilivraria.com.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS22.11.2020. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.