O que sinto agora
Nesta hora de espera
Já passa das dez
E o avião não chega
Será a minha vez?
Tempo perdido
A dúvida atormenta
O pensamento vagueia
Com o coração a noventa
A mente esperneia
No silencio malvado
Do aeroporto
Cunha Machado
Tempo perdido
Eu, preocupado e absorto
Escrevendo, centrado
Observo o movimento
E esqueço os amigos ao lado
Tempo perdido
Esperando a hora da partida
Na incerteza para onde vou
A Deus cabe antever
Meu destino será Recife?
Apenas Ele poderá dizer
Tempo perdido?
Busco uma resposta
Sozinho, sentado
Ruminado a proposta
Inerte e calado
Tempo perdido
Com o pensamento vagando
Na mente efervescente
Ideias soltas flutuando
Na dicotomia
Entre o corpo e a alma
O bem e o mal
Alegre e acabrunhado
Feliz e desesperado
Parado e acelerado
Tempo perdido
Que não passa
A ansiedade
Aumenta e maltrata
O que resta é a escrita
Concreta e abstrata
Bendita e maldita
Que me ocupa demente
No tempo presente
Dos prazeres da mente
Neste mundo indecente
Tempo perdido
Talvez seja aquele
Que passa ocioso
Sem vida, sem rima
Sem gozo
Que perde a essência
A malícia e o sentido
E mancha de sangue
O desejo contido
Tempo perdido
Quando desvio o foco
O que parecia precioso
Perde o valor
Fico desconexo e misterioso
E sofro sem sentir dor
Tempo perdido
É como se estivesse sozinho
Na mata da ingratidão
Repleta de espinho
Distante da multidão
Do amor e carinho
Com o coração na mão
A procura de um ninho
Consolo e oração
Tempo perdido
Meu amado Deus
Não me deixe desiludido
Não sou um semideus
Me conceda um exílio
Valha me deus
Tempo perdido
Ocupe a minha mente
Com boa semente
Nesta vida inocente
Só posso buscar o refúgio
No meu Deus, onipresente
Orando de olhos abertos
Nesta terra imponente
Quem voa se atormenta
Como eu e a minha gente
Tempo perdido
Amor é tempo
Perdido
Se não é
Correspondido
José Carlos Castro Sanches
São Luís, 27 de março de 2019.