Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
“O destino normal das novas verdades é começar como heresias e terminar como superstições.” (Thomas Huxley)
O décimo terceiro dia de janeiro de um ano de incertezas é uma sexta-feira. O treze tem lá seus mistérios e quando associado com a sexta-feira, o negócio fica ainda mais místico. Valha-nos Deus.
Acordei cedo, levantei-me e segui em jejum para fazer exame de sangue no Laboratório Gaspar da Rua dos Afogados no centro de São Luís do Maranhão. Chegando ao local encontrei uma vaga entre dois carros muito próximos, naquela rua estreita, consegui estacionar a minha Ferrari no restrito espaço de uma só vez, surpreendido com a perícia, logo pensei que não havia comprado a minha carteira de habilitação no Piauí. Por aqui o mau motorista é chamado de barbeiro e dizemos que comprou a carteira no estado vizinho.
Fui tão preciso e rápido na manobra que um senhor que estava na calçada ao lado ao me ver sair do veículo disse: “Parabéns, você foi muito bem, poucos conseguem estacionar de uma vez com tanta agilidade como você.” Segui para o laboratório a menos de dez metros. A auxiliar de enfermagem encontrou a veia na primeira furada e coletou o sangue com as mãos leves que parecia uma picada de mosquito em vez de uma furada de agulha.
Em seguida quebrei o jejum com um copo de chocolate, torrada e parmesão. Enfim, eu estava livre da primeira missão do dia, agora bastava aguardar os resultados dos exames previsto para o dia 27 de janeiro, devem ser analisados na China para justificar a demora, mas tudo bem! Retornei ao veículo dei R$ 2,00 para o gentil flanelinha, sai daquele espaço apertado com a mesma agilidade que entrei, liguei o rádio e escutei que era “Sexta-feira 13”. Logo pensei em escrever algo sobre o tema, chegando no apartamento me detive durante alguns minutos nesta narrativa que vos apresento para refletirmos sobre as superstições que fazem parte do nosso cotidiano.
As superstições existem desde que o homem se entende por homem. Embora não haja comprovação científica de que realmente funcionem, crendices de toda sorte resistem até hoje. E, acredite, elas podem não só ter influenciado como garantido a própria evolução humana. “Nos primórdios, indivíduos que faziam associações entre causa e efeito, mesmo sem embasamento racional — ou seja, eram supersticiosos —, tinham mais chance de sobrevivência”, diz o biólogo americano Kevin Foster, da Universidade Harvard. “Algumas dessas associações acabaram protegendo esses indivíduos de certos perigos.”
Por exemplo: sempre que ouvia um barulhão na floresta, um grupo que imaginava se tratar da aproximação de predadores ou de demônios acabava fugindo dali. Na maioria das vezes, era apenas um estrondo qualquer, como o som de trovões. Porém, quando se tratava de fato da aproximação de um bando de leões, os “supersticiosos” já não estavam ali para virar comida.
Afinal, quem nunca ouviu dizer que quebrar espelho dá azar; trevo de quatro folhas dá sorte; não passar debaixo de escadas; orelhas esquentam quando falam mal de você; levantar-se com o pé direito; bater na madeira; gato preto dá azar e da maldita 6ª feira 13?
Constatei durante uma breve leitura matinal “que poucas coisas conseguem unir o ser humano em uma única crença como as superstições. Imagine quantas pessoas acreditam que o número 13 é sinônimo de azar (em Nova York, por exemplo, é comum os prédios pularem esse andar). Ou quantas pessoas acreditam que usar um amuleto as protege do mau olhado. Há ainda os que fogem de gatos pretos e evitam a todo custo passar embaixo de uma escada.
É fácil perceber que mesmo as pessoas mais seguras de si, ainda que inconscientemente levem consigo alguma superstição, nem que seja: “Palma da mão coçando é sinal de dinheiro chegando; Não coma bananas que nascem grudadas, a não ser que queira ter gêmeos!; Pisar no cocô é sinal de sorte; Minha orelha esquentou. Devem estar falando de mim; Guarda-chuva aberto dentro de casa atrai azar; Visitas indesejadas? Coloque uma vassoura atrás da porta que logo vão embora; Bater três vezes na madeira afasta desgraças; Cubra os espelhos durante a tempestade, pois eles atraem raios; Deixa que eu abro a porta pra você voltar outra vez; Não aponte para estrelas, pois uma verruga pode surgir em seu dedo; Deixar a bolsa no chão é pedir para que o dinheiro vá embora; Passar embaixo da escada ou cruzar com gato preto dá azar; Ter pimenta em casa afasta o mau olhado e a inveja; Quem brinca com fogo faz xixi na cama; Achar um trevo de quatro folhas dá sorte; Sol e chuva, casamento de viúva; Três beijinhos para casar; Espelho quebrado dá sete anos seguidos de azar; Colocar o Santo Antônio de cabeça para baixo num copo de água atrai casamento.
Em Rosário – MA, minha cidade natal também diziam: três em cima de um, verruga no “cu” de um (valia para três pessoas em cima de um animal – jumento, cavalo, boi (hoje vale para três pessoas sobre uma moto ou bicicleta); manter um pé de pimenta, comigo ninguém pode, espada de São Jorge na porta da casa para espantar mau olhado; também haviam as benzedeiras que usavam ramos de plantas para espantar os males e curar o mal olhado; relógio parado é sinônimo de atraso; usar louça quebrada traz desgraça para a casa; dentre outras crendices populares.
Especialmente para a sexta-feira 13, dizem os supersticiosos que devemos: “Descer da cama, rede, escada… com o pé direito; Não olhar para gato, especialmente para o gato preto; cuidado com o espelho – não manter nem olhar para espelho quebrado; Não passar debaixo de escada; Não abrir guarda-chuva em lugares fechados; Não deixar o pente ou escova cair; Na dúvida, bata três vezes na madeira; Não se despedir em cima de uma ponte; Usar amuletos; Não deixar chinelo ou sapato de cabeça para baixo; Vestir roupa branca; Não deixar que varram seus pés; Não sirva refeição para 13 pessoas; satirizando acrescento: fique distante de Zagalo e tudo mais que tenha o número 13, exceto se estiver convicto de que vale a pena correr o risco de sofrer as consequências dos atos nefastos.
“O maior azar de um gato preto é encontrar um humano ignorante na sexta-feira 13.” (Autor desconhecido)
Como tenho pouco apego às crendices, sem desmerecer quem as tenha, prefiro acreditar que as pessoas podem mudar sua sorte, como alguns estudos revelam: “Sorte não é algo naturalmente paranormal. É algo que criamos através dos nossos pensamentos e comportamentos”. Incrível que nunca eu tinha pensado sobre isso, agora ao escrever refleti sobre a “sorte” e passou sorrateiramente por minha cabeça a ideia de que: não seria a sorte uma superstição?
Logo verifiquei que baseado em pesquisas, existem quatro segredos para atrair boa sorte: Maximize oportunidades; Dê ouvidos à intuição; Acredite em boa sorte e Transforme má sorte em boa sorte. Vou preferir acreditar nisso em vez de ficar assombrado com um gato preto, ou com medo de passar sobre uma escada numa sexta-feira 13. Cruz credo! Livrai-nos dos maus presságios, dos inimigos, das superstições e dos maus pensamentos. Sexta-feira 13. É dia de sorte ou azar? Você decide! Eu prefiro acreditar que é um dia de sorte.
Eu concluía esta escrita quando recebi a visita de uma pessoa muito amada que havia solicitado uma conversa urgente comigo. Fomos para o meu escritório e disse ao confidente: sou todo ouvidos, despi-me dos preconceitos arraigados na alma e pratiquei a escuta ativa por alguns minutos. Não poderia ser diferente numa sexta-feira 13, recebi uma triste notícia que preferia não ter recebido, nunca pensei que algum dia teria tamanha surpresa. Todavia, diante das situações indesejadas devemos manter o equilíbrio e a serenidade e seguir a vida. Quem sabe futuramente eu seja capaz de quebrar meus paradigmas, romper a intolerância e conviver com o indesejável.
Agora eu entendi perfeitamente a mensagem cifrada da noite anterior quando visualizei a lua encoberta por uma nuvem que formava a cara de um lobo, com a precisão de um extraordinário pintor – aquela imagem dizia alguma coisa. Doravante terei que reavaliar a minha forma de ser diante do inesperado. Esse será o motivo para escrever sobre “O Lobo e a Lua”. Aguardem para conhecer o desfecho de uma história surpreendente.
“Feliz aqueles cujo conhecimento é livre de ilusões e superstições.” (Buda)
São Luís, 13 de janeiro de 2023
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Atheniense de Letras, da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e Pétalas ao Vento.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS13.01.2023. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.