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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

SÉRIE FINAL DE TRÊS CRÔNICAS QUE RETRATAM REMINISCÊNCIAS DO AUTOR E FAMILIARES EM HOMENAGEM AOS 400 ANOS DE ROSÁRIO.

Autor: José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.

Crônicas extraídas dos Livros: “A Jangada Passou” – publicado; “Momentos do Cotidiano” e “Escrevendo as Páginas da Vida” – inéditos.

Cedidas especialmente para publicação na Antologia de Escritores e Poetas da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências – ARLAC em homenagem aos 400 anos da Cidade de Rosário – MA.

CRÔNICA I

A INESQUECÍVEL RURAL VERMELHA E BRANCA DO MEU PAI

Meu pai tinha uma Rural vermelha e branca que comprou à vista na época.

Foi uma felicidade quando chegou a nossa casa em Rosário – MA, com aquele carro novinho, cheirando a leite. Era tanta alegria que não podíamos nos conter. Uma coisa diferente e quase inacreditável para a nossa realidade naquela época.

Só um homem determinado e ousado era capaz de realizar tamanha proeza, assim pensava eu na minha inocência de criança. Bela infância! Naquela Rural Ford vermelha e branca.

“A Rural Willys é um utilitário que foi produzido pela Willys Overland nas décadas de 1950, 1960 e 1970 no Brasil. Na década de 1970, passou a ser produzida pela Ford do Brasil, que comprou a fábrica da Willys em 1967, mantendo inalterados o nome Rural e praticamente todas as características do veículo.

Foi lançado nos Estados Unidos em 1946 com o nome de Jeep Station Wagon, tendo sido o primeiro veículo do tipo com a carroceria toda em metal, em contrapartida às carrocerias de madeira, então comuns. Com pequenas diferenças, foi produzido também em outros países como o Japão, onde foi fabricado pela Mitsubishi, com o nome J37 e a Argentina, onde foi fabricado pela Kaiser e é conhecido como Estanciera.

O modelo brasileiro foi redesenhado em 1960 utilizando como inspiração a arquitetura moderna de Brasília, em construção na época. Este desenho acompanhou a Rural até o encerramento de sua produção em 1977. ” (Fonte Wikipédia)
Parte da minha história é contada naquele carro que aprendi a dirigir. Meu pai tinha um ciúme tão grande daquela rural que sempre dizia: “carro e mulher não se empresta”.

Certa vez depois do meu pai ter lavado a rural para dar uma volta pela cidade. Peguei o carro para levar uma amiga que nos visitava na rodoviária de Rosário. Quando voltava encontrei alguns colegas que brincavam num bloco de carnaval.

Querendo aparecer para mostrar que sabia dirigir, chamei os foliões, que subiram no carro “batendo os tambores” com a porta traseira aberta danificando-a ao passar num buraco. Imaginem o meu desespero!

Quanto medo de devolver o carro para o meu pai. Quanta tristeza eu vi no semblante do meu querido pai naquele dia.
Um homem sábio! Poderia ter me dado uma surra, dito algumas palavras para me fazer pensar. Mas, conteve a sua decepção…e daquela janela da minha casa onde eu e ele estávamos…ficamos tristes a chorar por dentro aquele dano no carro do coração do meu pai.

Que lição você me deu naquele dia meu pai, meu herói. Talvez se fosse comigo estaria eu irritado, estressado, a gritar, ofender os meus filhos. Você é um exemplo e uma lição.

“ É nas coisas simples e anônimas que se encontram os maiores tesouros da emoção” (Augusto Cury)

Emocionei-me ao escrever esta passagem com lágrimas nos olhos ao lembrar-me da sua atitude, virtude de um home sábio, simples, humilde, íntegro, responsável e honesto.

“Vivo com tanta emoção porque sei que só tenho uma vida” (Jostein Gaarder)

Essa lembrança levarei para sempre em minha memória. Ainda quando adulto ou homem feito as recordações da infância bem guardadas no fundo da minha alma serão vermelhas como o sangue e branca como a neve.

Obrigado por tudo Meu Pai. Te amo!

José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta rosariense.
São Luís, 16 de setembro de 2017.

Crônica disponível no Fala, Sanches (Facebook) e site falasanches.com

Adquira os livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou na Livraria AMEI do São Luís Shopping.

CRÔNICA II

A GENIALIDADE DE CANGAMBÁ!

“Apenas com o coração que se pode ver direito, o essencial é invisível aos olhos. ” (Saint-Exupéry)

Cangambá era um negro que empurrava um caminhão feito de buriti. O caminhão tinha oito rodas e uma alavanca manual, a qual ele segurava e trocava de marcha. Cangambá andava com aquele caminhão para cima e para baixo na cidade de Rosário e municípios vizinhos. Escrevi uma crônica sobre aquele negro velho, a quem denomino como “engenheiro sem estudo”, porque fazia de buriti o seu caminhão da ilusão que rodava noite e dia em meu torrão.

“Seja qual for o seu sonho, comece. Ousadia tem genialidade, poder e magia. ” (Johann Goethe)

O homem engenhoso era um pouco fedorento, a ponto de assustar o vento, mas astuto e inteligente como pouca gente. Eu era criança e avistava aquela alavanca, dominada pelas mãos de um negro de sustança que chamávamos de louco, pela excessiva genialidade. Ele deve ter se inspirado nas invenções de Leonardo da Vinci para criar o seu carro de buriti.

“A genialidade é uma variedade da loucura. ” (Carlo Dossi)

Eu tinha vontade de brincar com aquele grande brinquedo que assustava criança, mas tudo não passava de medo; de ignorância. O preto velho era rude, porém, carregava esperanças.

Um dia, quem sabe, o encontrarei, lá na casa onde morei, contando das suas andanças pelo Maranhão do Sarney, sorrindo e tomando banho como se fosse um rei. Cheiroso e perfumado, calçado e penteado, tomando um belo conhaque naquele barzinho do canto que um dia se chamou recanto, na minha terra querida, margeada pelo rio Itapecuru, que um dia foi um brio, naquela pacata cidade onde a torre da igreja se esconde por trás da Santa padroeira, Nossa Senhora do Rosário.

Por lá passou Cangambá com o seu carro de buriti, até o dia em que partiu para junto das estrelas, naquele caminhão de sonhos que carregava tristeza, alegria reprimida ou beleza. Até hoje não sei decifrar o motivo de tanto empenho e fortaleza.

“A genialidade é a capacidade de realizar aquilo que existe no pensamento. ” (F. Scott Fitzgerald)

Seria loucura ou genialidade daquele homem de pouco estudo e que não demonstrava maldade? Parecia estar brincando com a nossa incapacidade! Quem sou eu para julgar um sábio da humanidade? Um engenheiro da arte de fazer mover um carro feito de buriti, sem sequer saber o rumo que deveria seguir.

Esta, eu fiz agora mesmo, de improviso, quase sem pensar, numa homenagem “em memória” ao meu conterrâneo Cangambá. Desculpem os erros, a falta de rima, é que o sono e a dor de cabeça suprimem a poesia; os olhos lacrimejam e a mente fica vazia.

“O vazio que a genialidade produz a nossa volta é um bom lugar para acendermos nossa pequena luz. ” (Franz Kafka)

Nota: A foto do caminhão é apenas ilustrativa, não foi possível encontrar a foto original de Cangambá com o seu carro original de buriti.

José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta rosariense.
São Luís, 06 de maio de 2019.

Crônica disponível no Fala, Sanches (Facebook) e site falasanches.com

Adquira os livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou na Livraria AMEI do São Luís Shopping.

CRÔNICA III

VEJO O TREM PASSAR TODOS OS DIAS!

“O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou. ” (Vergílio Ferreira)

Parabenizo os colegas ex ferroviários e familiares pelas contribuições da RFFSA para o município de Rosario e adjacências.

Do trem de passageiro e do cargueiro ainda guardo belas lembranças do ruído, da passagem, das pedradas nas composições, da estação animada, dos homens arrancando dormentes e trocando trilhos, empurrando o trole com varas compridas de madeira, das agulhas que colocávamos nos trilhos para descarrilar os trens(inocência de criança), dos ferroviários que compravam fiado no comércio do meu pai e ao final do mês ajudavam no nosso sustento com o dinheiro suado que ganhavam daquele trabalho estafante que para eles parecia gratificante, das histórias que contavam para o meu pai “Zé Surdo” durante as compras e eu escutava e aprendia com eles.

Do estágio que fiz na RFFSA em São Luís, onde aprendi a me comunicar usando o Morse – aparelho mecânico que enviava mensagem através de cabos – por isso ao longo das ferrovias havia sempre postes com dois fios – quando estes fios rompiam a comunicação entre as estações era descontinuada e os trens paravam de movimentar até a correção do problema.

“Caímos quase que por acaso no trem da vida, que caminha sacolejante por tantos trilhos diferentes entre várias direções. Por isto devemos aprender a viajar da melhor forma possível nos vários vagões onde tem espaço. O tempo da viagem, não se sabe e muito menos a hora da chegada e por destino o nome certo da estação. ” (Ricardo Barradas)

Amava quando os trens passavam na madrugada porque me sentia seguro, tinha medo de ladrão e visagem – quando o trem passava achava que os ladrões fugiam e as visagens desapareciam (mais uma ingenuidade de criança).

“A vida é como um trem, se permanecer nos trilhos, eventualmente chegará ao seu destino. ” (Boruto: Naruto Next Generativos)

Oh, belas lembranças do meu tempo de infância que não volta mais. O que resta é celebrar com os nossos ex ferroviários e familiares neste momento único do “Encontro de ex ferroviários em Rosário”, que por motivo superior não pude estar presente. Mas, de onde estou vejo passar o trem todos os dias na frente da casa dos meus pais na rua Eurico Macedo, 2506, na pacata e amada cidade de Rosário do Maranhão, minha terra, meu torrão que guardo a sete chaves nas profundezas do meu coração.

“O tempo passa…
Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo quando cada batida do ponteiro dos segundos dói como o sangue pulsando sob um hematoma. Passa do modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. Até para mim!” (Stephenie Meyer)

José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta rosariense.
São Luís, 26 de janeiro de 2020.

Crônica disponível no Fala, Sanches (Facebook) e site falasanches.com

Adquira os livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou na Livraria AMEI do São Luís Shopping.

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