
” A violência é o desdobramento de carências afetivas, da necessidade de ser visto e notado, ainda que da pior maneira” Pe. Fábio de Melo
Essa é uma estória de ficção ocorrida no planeta Vênus, qualquer semelhança será mera coincidência.
Levei meus filhos para a escola com a intenção de vê-los educados, donos do saber, desenvolvendo a intelectualidade, buscando o conhecimento e replicando os ensinamentos aprendidos em sala de aula e atividades complementares, extraclasse.
O que recebo de volta são os corpos dilacerados pela arma maldita empunhada por jovens desalmados que durante anos planejaram o massacre (com crueldade de adultos), à própria escola que os educou – ceifando vidas de inocentes e das coordenadoras que deram tudo de si para que pudessem transformá-los em homens de bem.
“Fala-se tanto da necessidade de deixar um planeta melhor para os nossos filhos e, esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores para o nosso planeta. ” Autor desconhecido
Hoje 11(onze) famílias choram a morte e a falta dos seus entes queridos, dez jovens estudantes e um pai de família, surpreendidos pela crueldade de dois outros jovens armados que adentraram naquela escola desprotegida e agiram ao bel prazer para consolidar o plano macabro. Pais, filhos, irmãos, sobrinhos, amigos e colegas lamentam a perda prematura, injustificada e covarde, fruto da insegurança que reina nas escolas do Brasil. Fato ocorrido em 13 de março na Escola Raul Brasil, no município de Suzano, em São Paulo.
“Dizem que o tempo cura todas as feridas, mais quanto maior é a perda mais profundo é o corte. E mais difícil é o processo para ficar inteiro novamente. ” Klaus Mikaelson
A quem delegar a culpa? Aos pais? Aos professores? Às instituições públicas e privadas? Aos governantes? Quem sobreviverá a tamanha crueldade?
Estamos diante de uma incógnita acentuada pela violência que reina em todos os recantos do nosso país, assolado pela miséria, fome e sofrimento. Associada à revolta popular e ao ódio e ira que se dissipa em todas as camadas sociais – uns contra os outros, sem motivo justo – direcionados por convicções políticas ou ideologias utópicas. Estamos numa encruzilhada entre a cruz, o punhal, revolver, faca, machadinho, drogas ilícitas, prostituição, tráfico e a fluida educação que evapora nas nuvens, partindo para o infinito, sem rumo e direção numa nação carente de disciplina, respeito e valorização da vida.
As famílias perderam a capacidade de educar. As escolas estão manipuladas por transgressores de todos os “quilates”. A sociedade asquerosa e doente e, o povo brasileiro prisioneiro da insegurança, contagiado pelo medo e doutrinado pela utopia de um pais educado.
É triste a nossa realidade. Os filhotes de homem, estão hoje sendo tratados como objetos de tiro ao alvo, sem constrangimento se mata, destrói sonhos e famílias numa só cajadada de machadinha, num tiro de revolver, armas brancas, pauladas…. As atrocidades se multiplicam e o brasileiro amedrontado se acovarda, não reage a tamanha ignorância e maldade.
“Mil dias não bastam para aprender o bem; mas para aprender o mal, uma hora é demais. ” Confúcio
O coração do homem está ferido, empedrado e carregado de ódio. Um filhote de homem vale muitas vidas, quem as tira não valoriza sequer a sua. Assim foi quando os dois jovens após cometerem o massacre, sem dó nem piedade, seguiram o ritual macabro de tirar as próprias vidas, talvez faltasse a eles amor, noção de civilidade, afetividade dos pais, ou quiçá a palavra de Deus através das orações noturnas.
“Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho. ” William Shakespeare
Duas teses complementares, que circularam recentemente na mídia, uma atribuída ao Pe. Fábio de Melo e outra de autoria desconhecida, tentam explicar a causa do massacre. Transcrevo-as abaixo e deixo com o leitor a possibilidade de refletir sobre elas para tirar a sua própria conclusão:
Na primeira tese: Culpam o porte de armas, os jogos violentos, o Bullying, a escola omissa. Mas, a verdadeira razão está nas famílias desestruturadas e fracassadas.
“Cansado e perplexo com tantas baboseiras e falsas justificativas para as atrocidades que ainda nos surpreendem todos os dias…
Os meninos não mataram porque o porte de arma é um projeto do atual governo. Os meninos não mataram porque jogavam jogos violentos. Os meninos não mataram porque a escola foi omissa. Os meninos não mataram porque sofreram Bullying…
Eles mataram porque as famílias estão desestruturadas e fracassadas, porque não se educa mais em casa, não se acompanha mais de perto, a tecnologia substitui o diálogo, presentes compram limites, direitos e deveres e não há o conhecimento e respeito a Deus.
Precisamos parar de nos omitir, de transferir culpas. A culpa é minha, é sua, de todos nós!
As armas não matam, o que mata é a ausência de AMOR!!!” (Autor desconhecido)
“O amor é filho da compreensão; o amor é tanto mais veemente, quanto mais a compreensão é exata. ” Leonardo da Vinci
A segunda tese considera que a violência é o desdobramento de carências afetivas e distúrbios emocionais, atribuindo o vínculo não à obrigação, mas, o amor.
“ A tragédia em Suzano não nos entristece. Ela expõe a nossa vulnerabilidade social. Foi o tempo em que só temíamos os bandidos. Hoje, uma dor emocional não curada, pode levar um adolescente a se tornar um assassino.
A violência é o desdobramento de carências afetivas, da necessidade de ser visto e notado, ainda que da pior maneira. Os distúrbios emocionais nem sempre são percebidos e considerados pelos que formam a nossa ambiência afetiva.
Não é incomum encontrar adolescentes reféns de seus traumas e completamente desamparados. Colocar um filho no mundo requer disposição de lidar com ele. Só a proximidade nos faz perceber as necessidades e conflitos do outro. É justamente na construção da intimidade que erramos. Laços familiares se limitam a ser parentescos, o que não quer dizer absolutamente nada. O que nos vincula não é a obrigação, mas ao amor.
O desamparo emocional alimenta uma desolação silenciosa. A partir dela a pessoa passa a nutrir o ódio pelos que estão felizes. ” (Pe. Fabio de Melo)
“O que o pai calou aparece na boca do filho, e muitas vezes descobri que o filho era o segredo revelado do pai. ” Friedrich Nietzsche
Estas reflexões me fazem sentir culpa pela distância que mantenho do meu filho, apesar do amor, da responsabilidade e da obrigação como pai. Devemos sim cultivar a presença, a proximidade, construir intimidade e fortes laços familiares, assim reduziremos as dores e distúrbios emocionais destes jovens que não pediram para nascer. Afinal não basta ser pai tem que participar! Um grande beijo e um forte abraço para você meu filho Carlos Daniel da Rocha Sanches. Amo você! Mas, pelo que vi, só o amor não basta!
“O amor é um sentimento sublime; supera os problemas e diferenças, resiste ao tempo e se fortalece com a distância. Difícil fugir, impossível esquecer. ” Barbosa Filho
José Carlos Castro Sanches
São Luís, 22 de março de 2019.