Por José Carlos Castro Sanches

“Os pensamentos que escolhemos pensar são as ferramentas que usamos para pintar o quadro de nossas vidas. ” (Louise Hay)
Voltei para casa após a caminhada matinal que herdei do período de quarentena da pandemia do coronavírus, o que posso dizer que foi uma das coisas boas que ficaram diante de tantas outras, sem desmerecer os infortúnios que essa doença trouxe para a humanidade, as perdas e a falta que fazem aos familiares e amigos aqueles que partiram para outra dimensão vitimados pelo Covid 19. Mas, isso é passado e rogo a Deus para fortalecer aos que sofreram as perdas dos entes queridos, dando-lhes força, determinação e capacidade para superar as adversidades.
Depois de tomar um revigorante banho para tirar o suor e resfriar o corpo, segui para o meu escritório e daqui de onde estou escuto o ruído dos marteletes pneumáticos manuseados pelos trabalhadores que labutam ao sol quente para o sustento próprio e dos seus familiares.
Ao mesmo tempo ouço o canto dos pássaros que visitam o nosso jardim e liberam toda a alegria para contagiar as pessoas que percebem o encanto do canto dos passarinhos que estão à sua volta, muitas vezes despercebidos.
De tão belo o cantar, se faz inaudível aos que só conseguem sentir os ruídos incômodos, daqueles que só percebem o negativo e são incapazes de ouvir a harmonia do vento nos galhos, o sibilar da cigarra e o sublime beija flor sorvendo o néctar das flores. Quão longe estamos da natureza que não a percebemos, em detrimento de coisas menores, sem importância, que tiram o nosso folego, sono, fome e nos fazem perceber o mundo com um olhar distante.
Enquanto caminhava percebia os veículos e pessoas se movimentando pelos estacionamentos, ruas e passarelas do condomínio. Observei atentamente quatro homens fazendo a pintura dos postes de iluminação e estruturas de madeira das áreas comuns do Condomínio Jardins. Aqueles homens com mais de quarenta anos de idade, pelo que aparentavam, dedicados ao labor, bem arrumados com o fardamento da Cyrela, usando máscaras, escadas e outros equipamentos e materiais, tintas e pincéis, requeridos para o desempenho das suas atribuições.
Aproximei-me dos trabalhadores e provoquei-os dizendo: “vocês estão pintando o sete”. Eu queria na verdade uma oportunidade para descontraí-los rapidamente e saber os seus nomes para poder citar nesta crônica.
Descobri que os mantenedores do nosso condomínio, que ali se encontravam concentrados no trabalho de pintura das estruturas metálicas e de madeira das áreas afins, eram os senhores: José de Jesus, Adailton Marques, Ednaldo da Silva e José do Nascimento Rodrigues.
Esses talentosos pintores “ pintavam o sete”, enquanto eu caminhava para reabastecer as energias, liberar calorias e fortalecer o corpo e mente para manter a vida saudável, realizar as minhas rotinas; inclusive escrever esta crônica que dedico aos artistas do pincel que revigoram as estruturas corroídas e desgastadas pelo tempo em nosso condomínio.

“Você é o resultado de todos os quadros que pintou para si mesmo. Você sempre pode pintar novos quadros.” ( Johnny De Carli)
Sei que eles ficaram felizes ao saber que seriam homenageados, sequer imaginavam quem era eu, porque nos conhecemos naquele encontro casual. Aqueles trabalhadores como muitos outros pelo mundo afora, passam despercebidos para a maioria de nós, quase sempre não recebem a justa recompensa pelo trabalho que realizam, tampouco são valorizados como pessoas e profissionais.
Aqui então, eu tiro o meu chapéu para eles e os presenteio com o que tenho de melhor a oferecer, a minha pena, leve, serena e sensível para torná-los visíveis a todos que se deleitam nesta leitura.

Como disse Rubem Alves: “O que faço é tentar pintar com palavras as minhas fantasias diante do assombro que é a vida.”. E Clarice Lispector, completou: Aliás, verdadeiramente, escrever não é quase sempre pintar com palavras?
Eu estava finalizando o tempo de caminhada quando me deparei com uma criança num velocípede, acompanhada pelo seu pai Antonio Augusto, que alegremente a conduzia pelo passeio matinal. Segui mais um pouco, acompanhando a dupla, quando o pai de Chiara lhe disse: “olhe o passarinho”, eu curioso para vê-lo também, perguntei “Onde está o passarinho? ” Ele respondeu: “Já voou”. Foi então que a sua filha atenta disse: “ oi, passarinho! ”, como se quisesse conversar com o pássaro que já havia tomado rumo ignorado. Somente quem está em paz consigo mesmo é capaz de perceber a beleza da natureza em derredor.

“Tornei-me vizinho dos pássaros não por ter aprisionado um, mas por ter me engaiolado perto deles. “ (Henry D. Thoreau)
Aqui encerro dizendo que inocência e a pureza das crianças fazem delas seres especiais, admiráveis e amáveis. Quero recuperar a minha essência de criança. Quero voltar a pintar o sete, sem o compromisso de não sujar o piso e fazer com perfeição. Será que ainda é possível? Me diga Chiara!

“Vou colorir meu mundo!
Experimentar novos sabores!
Pintar meu cabelo de vermelho e
esquecer velhos rancores! “ (Ro Matos)
São Luís, 20 de agosto de 2020.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e mais nove livros inéditos.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches, com crédito aos autores e fontes citadas, e está licenciada com a licença JCS20.08.2019. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.