Por José Carlos Castro Sanches
Nesta semana de homenagem pela passagem dos 89 anos de Carlos Cunha (In Memoriam), deixo uma pitada de prosa permeada com belas trovas em reconhecimento ao notável trovador. Boa leitura e reflexão!
“Um dia hei de renascer numa grande cidade de outro sistema planetário, no passado ou no futuro, onde uma única montanha de 5 quilômetros de altitude se recorta no céu azul – com toda a compaixão que sinto dentro de mim, a única coisa que vou precisar é da sabedoria da terra.” (Jack Kerouac)
O sol brilhava em uma tarde exuberante de sábado, na Ilha Magnética. Era Dia de Santo Agostinho, o Doutor da Igreja. Aurelius Augustinus, conhecido como Santo Agostinho, foi considerado o maior filósofo e teólogo do cristianismo desde Aristóteles, um exemplo para todos os cristãos; Dia Nacional do Voluntariado; voluntário é aquele que conta com a motivação solidária, o desejo de ajudar e o prazer de se sentir útil. E Dia da Fundação da Academia Maranhense de Trovas. Neste dia especial, enquanto eu participava da Solenidade de reimplantação desta academia, recebi um pedido da confreira Wanda Cristina da Cunha e Silva, para escrever um texto sobre Carlos Cunha, com o propósito de incluí-lo no livro, em sua homenagem.
Certamente não seria uma missão fácil, visto que as contribuições literárias, artísticas e culturais do egrégio professor, educador, jornalista, escritor, declamador, poeta, cronista, teatrólogo, crítico literário, historiador e trovador, se confundem com a própria história da Literatura, Arte e Cultura do Maranhão.
Busquei então, tratar o desafio como uma oportunidade de refletir e ortografar as qualidades que tornaram notável, visível e diferenciado aquele homem visionário, eclético, brilhante, genial e revolucionário para a sua época. Um misto de filósofo, poeta, artesão e ator talentoso.
“Você de lá, eu de cá.
Bem no meio passa o rio.
Agora vai começar
nosso grande desafio.” (Desconhecido)
Seria ele o trovador-mor do Maranhão? Um exemplo a ser seguido? Uma agulha no palheiro? A luz do fim do túnel? O gênio da trova mágica? Ou simplesmente um ser extraordinário, criativo, inovador e idealizador? De nome Carlos (homem, guerreiro ou homem do povo) e sobrenome Cunha (peça de metal ou madeira dura cortada em ângulo agudo, usada para fender pedra ou madeira, bem como para calçar, nivelar ou ajustar objetos ou aquele que habita local caracterizado pela rocha em formato de cunha).
Passei a acreditar que seria possível avançar com o meu intento, porque o motivo era instigante, e viver é melhor que sonhar. Então, prossegui na peleja. Logo, encontrei uma peculiaridade entre nós, o nome “Carlos” já me fez parecer mais próximo, e fortaleceu a minha admiração pelo notável poeta. Aquele que não pretendia ser o maior poeta do nosso Estado, suspeitava ser o maior poeta da sua cidade, do seu bairro ou da sua própria casa. Entretanto, percebia que a sua poesia descia e subia ladeira nos braços do povo de São Luís. Isso dava-lhe a convicção de ser poeta. Hoje não temos mais dúvida de que tudo não passava de um devaneio do poeta, duvidar da sua indômita capacidade de criação e contestação.
Visualizei outra consonância, Carlos Cunha, também era um cronista combatente e jornalista irreverente, desbravador da educação maranhense com espírito humanitário, disposto a transformar e dar igualdade aos desiguais por meio do conhecimento, assim se doava aos mais necessitados, sem perder o senso crítico e a essência na crença, valores e princípios que direcionavam sua vida. Como disse Wanda Cunha: “Ele era um artista múltiplo, educador, historiador, jornalista, declamador; grande incentivador da juventude; publicou mais de vinte livros em várias áreas, não apenas na literatura, também no jornalismo, artes plásticas; um homem muito completo que vivia 24h, nas redações dos jornais, no Colégio Nina Rodrigues da Rua do Sol; na literatura – fazendo livros. Então, ele foi um grande representante da cultura do Maranhão”.
Carlos Cunha era um atento caçador de estrelas; um audacioso entusiasta da cultura, decantava as alegrias e angústias nos sonetos e trovas; sobrevoava a mente senil com o míssil da jovialidade sagaz, inteligência e a perspicácia que permeava os pensamentos de libertação e o entendimento da sua limitação como ser transformador, idealista, indomável, ansioso, respeitoso, impaciente, realizador e amoroso.
A dor se misturava com o amor nas profundas e constantes lutas consigo mesmo e com o sistema sobre o qual lançava o perfume e o veneno conforme a ocasião.
“Não me importo do passado,
muito menos do presente.
A vida é sempre um machado,
Cortando os sonhos da gente. ” (Carlos Cunha)
Carlos Cunha era como uma águia que voa livre e alto com os olhos atentos; uma lição de vida e renovação; o seu alimento era o conhecimento; buscava com o dom da oratória elevar a verdade, persuadir com a palavra e encantar pela audição, assim prosperava na crença de que seria possível transformar as pessoas e o mundo.
Apropriando-se dessa convicção ele criava fantasmas e castelos, realidade e fantasia, crônicas, contos e poesias; declamava com ímpeto, entusiasmo, precisão e magia – fazia do movimento, da força das palavras, dos versos – a beleza da poesia que o alimentava; na veia como seu próprio sangue rúbeo, corria também, a dramaturgia: arte ou técnica de escrever e representar peças de teatro; nas sinapses, os impulsos nervosos se comunicavam com o passado por meio da história que tanto apreciava e o inspirava; do coração brotavam as sementes do amor, o carinho e o afeto que confrontavam com sua visão de crítico literário criterioso e perfeccionista. Ele transitava entre a cruz e o punhal, o bem e o mal, desejos e comportamentos de espectro dualístico, onde, numa direção, estão aqueles aspectos considerados moralmente positivos e, na outra, os moralmente negativos. Em constante revolução buscava encontrar o melhor caminho, a verdade, o amor, a pureza, o conhecimento e a sabedoria.
A razão e a emoção, andavam de mãos dadas, eram cumplices nas horas de dúvida e de certeza, ora razão, ora emoção, justificando a essência de homem, poeta e trovador. A trova era o seu amor.
“Para a dor da solidão,
a saudade é um bom remédio;
e um chá de capim-limão,
a anestesia do tédio.” (Carlos Cunha)
Aqui e agora, trinta e um anos depois o Poeta reencontra o passado, no seu próprio planeta, na própria cidade onde nasceu, voltando aos recitais, o educador, jornalista, escritor, cronista, poeta e trovador retoma o seu papel de destaque de Membro da Academia Maranhense de Letras –AML; investe-se da sua áurea iluminada, reincorpora o folego da vida como se estivesse em 22 de outubro de 1990. Revestido de toda a energia e vibração que marcaram a sua vida – ele passa a recuperar o intelecto, o pulso, os movimentos, as sinapses, o pensamento, o sentimento, a razão e a emoção. Volta a relaxar a pena sorrateira sobre o papel e a poesia flui magnética como a Ilha de São Luís para encantar e decantar os admiradores da boa literatura.
“São Luís é uma cidade
que se veste de azulejos;
o mar quando tem saudade,
banha seu rosto de beijos!” (Carlos Cunha)
Não satisfeito em apenas escrever e declamar. Ele decide segurar na mão da sua própria filha Wanda Cunha e caminham juntos para a “Recriação da Academia Maranhense de Trovas”, no dia 28 de agosto de 2021. Consolidando o “Renascimento de Luís Carlos da Cunha, nascido em São Luís do Maranhão em 18 de maio de 1933, filho de Carlos José da Cunha e Edith Campos Cunha. Pai de Wanda Cristina Cunha da Silva, Rossana Cristina da Cunha, Carlos Anaxímenes da Cunha, Rosana Cristina da Cunha Andrade, Daniela Cristina da Cunha e os saudosos, Carlos Anaximandro da Cunha, Isabel Cristina da Silva Rodrigues e Teresa Cristina da Cunha. Professor, jornalista, crítico literário, ensaísta, poeta, cronista, graduado em história e geografia e membro efetivo da Academia Maranhense de Letras. Fundador da Academia Maranhense de Trovas, em 07 de dezembro de 1968. Faleceu em 2007. Ele seguiu o seu destino e deixou um grande legado, que hoje resgatamos. Como disse um desconhecido: Ele “Nasceu, morreu, renasceu e progride sempre, tal é a lei”. Ele permanece entre nós como trovador e poeta nato.
“Desconheço nessa vida
quem possa sentir saudade;
É a mucama preferida
da própria felicidade.” (Carlos Cunha)
Renascer significa, nascer de novo: a Fênix, segundo a mitologia grega, renasceu das próprias cinzas; crescer de novo, rebrotar: as flores renascem na primavera; recuperar forças, reviver: renascer após longa enfermidade.
Renasce a Academia Maranhense de Trovas, não como a Fênix, que segundo a mitologia grega, renasceu das cinzas, mas como as flores que renascem na primavera para enfeitar os jardins, produzir sementes e dar bons frutos, mantendo o ciclo de vida ativo, criativo e dinâmico como a trova que perdura desde a Idade Média, até os nossos dias. Como disse Vinicius de Moraes: “Nada renasce antes que se acabe. E o sol que desponta tem que anoitecer”, antes que chegue a saudade das trovas.
“Saudade é vaso quebrado,
Guardado em maior recato;
é o fantasma do passado
colorido num retrato.
Confesso, na mocidade
Saudade não ter sentido;
mas hoje sinto saudade
daquele tempo perdido!
Saudade traz o perfume
de tudo que já passou;
a saudade é um vagalume,
resto de luz que ficou.”
(In Minha Terra Tem Palmeiras/Clóvis Ramos/1970)
Posso afirmar que: a retomada da trova no Maranhão é fruto de Carlos Cunha; o amor, o reconhecimento e a gratidão de Wanda Cunha por seu pai tornaram possível a reinauguração da Academia Maranhense de Trovas. Portanto, é fácil concluir que, Carlos Cunha, renasce com a Academia Maranhense de Trovas. Juntam-se a ele, todos aqueles que acreditam no Trovadorismo e na importância da Trova para a Literatura. A trova como a primavera renasce cada dia mais bela, uma flor perfumada e singela. O que era saudade agora é realidade, o que era treva agora é luz, a escuridão virou dia na trova do coração.
“Saudade é chuva caída
na calha do coração;
É centelha revivida,
em noite de escuridão.” (Carlos Cunha)
Tudo agora passa a ser o presente renovado do renascimento, o trovadorismo assumirá papel de destaque no Maranhão, juntos elevaremos a trova ao mais alto pedestal da Glória. O pódio será o lugar ocupado por todos os trovadores da Academia Maranhense de Trovas – AMT, que inicia a sua história de forma magistral, com segue:
Em 28 de agosto de 2021, ocorreu a solenidade de retomada da AMT, idealizada e fundada em 1968, pelo professor, escritor, declamador, poeta, cronista, teatrólogo, crítico literário, historiador e trovador, Carlos Cunha. Trinta e um anos depois da sua morte a Jornalista e Escritora Wanda Cristina da Cunha e Silva retoma os passos do seu pai fundando a Academia Maranhense de Trovas. Momento especial para engrandecimento da Literatura, Arte e Cultura Maranhense.
“Meu retrato muito antigo,
cheio de vida e de brilho,
já não parece comigo,
parece mais com meu filho.” (Carlos Cunha)
Eis, que se fazia necessário a participação ativa de um grupo de pessoas determinadas a tornar possível aquele sonho, porque a distância entre sonho e realidade se chama ação. Era chegada a hora de reunir num compromisso inadiável os Trovadores Fundadores da Academia Maranhense de Trovas: Adilson de Jesus, Carol Cunha, Carlos da Cunha, Cel. Furtado, César William, Clores Holanda, Dilercy Adler, Dinacy Correia, Emanuelle Ferreira, Fernando Ferraro, Ferreira da Silva, Francinalda Montelo, Goreth Pereira, Gracilene Pinto, Gustavo Carneiro, Ivone Silva, José Carlos Castro Sanches, Josenilde Castro Sanches Sampaio, José Maria Brito, Karla Oliveira, Ligia Almeida, Luciana Cunha, Neuzimar Mandu, Nicolau Fahd, Paulino Dimaré, Pedro Neto, Rossana da Cunha, Wanda Cunha, Washington Menezes, Yondara Vargas. Dentre outros trovadores presentes não citados nesta relação. “A vida humana não tem só um nascimento, só uma infância, é feita de vários renascimentos, de várias infâncias.” (Francesco Alberoni)
Também participou da solenidade de Fundação da AMT, na condição de Presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão a ilustre confreira Jucey Santana. Na oportunidade foi eleita a Junta Governativa da AMT, tendo como Presidenta, Wanda Cunha; Secretário, Ferreira da Silva e Tesoureiro, Paulinho Dimaré. Como disse Virgínia Mello: “E que a gente consiga renascer quantas vezes forem necessárias para ser feliz e, mais que isso: para fazer o outro feliz…” por meio do Renascimento de Luis Carlos da Cunha na Academia Maranhense de Trovas. Viva a Vida! Viva a Trova! Viva Carlos Cunha!
“Aquele que não se arrisca,
como versa o jargão,
Certamente não petisca:
Siga a trova campeão. “
(José Carlos Sanches)
São Luís, 29 de agosto de 2021.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense. Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras, Artes e Ciências, da Academia de Letras de Coroatá, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.
Autor da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina; Tenho Pressa e A Jangada Passou, da Trilogia da Vida: No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever; Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Me Leva na Mala, Das Coisas que Vivi na Serra Gaúcha e Divagando na Fantasia em Orlando, dentre outros livros inéditos e participação em diversas Antologias. É detentor da “Comenda de Mérito Gonçalves Dias” e do Título Honorífico de Grande Honra de “Defensor Perpétuo do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro”, concedido pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes – FEBACLA.
Visite o site falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho.
Adquira os Livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja online www.ameilivraria.com. E os livros da Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!, no site da Editora Filos: https://filoseditora.com.br/?s=Sanches
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS29.08.2021. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.
Ramon Vidal
24 de maio de 2022 at 13:52
Querido amigo seu curriculo a cada dia que passa vai ficando maior faça um resumo abraços
sanches
25 de maio de 2022 at 17:40
Obrigado pelo feedback querido amigo e incentivador Ramon Vidal Gomez. Forte abraço