“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana. ” Franz Kafka
Na sexta-feira 13 de setembro de 20, doentes que estavam sendo tratados no Hospital Badin, no Rio de Janeiro, foram surpreendidos pelo incêndio, fumaça e chamas descontroladas que tomaram conta daquele ambiente.
O desespero e a angústia dominaram as pessoas enfermas, sem possibilidade de refúgio. Ao mesmo tempo em que os familiares, funcionários do hospital, corpo de bombeiros, policiais, transeuntes e vizinhos se avolumavam nos arredores da área buscando ajudá-los.
Uma lição de solidariedade que precisa ser multiplicada, visto que temos a tendência de divulgar apenas fatos negativos. Quero aplaudir os voluntários que se dispuseram a ajudar naquele momento desesperador.
“Não espere por grandes líderes; faça você mesmo, pessoa a pessoa. Seja leal às ações pequenas porque é nelas que está a sua força. ” Madre Teresa de Calcutá
Mais um incêndio com catorze vítimas, em número superior às fatalidades ocorridas no Ninho do Urubu. Diante de tanta tristeza, foi possível perceber que ainda existe solidariedade.
As pessoas se revezavam na busca de reduzir os impactos daquele trágico incidente, contrariando a premissa de que aceitamos passivamente as adversidades, as pessoas se uniram para ajudar no combate ao incêndio e ações de primeiros socorros. Numa verdadeira aula de solidariedade e amor ao próximo. A generosidade se fez presente ao ar livre, nas ruas, residências, hospitais e escolas, próximas ao evento.
“A felicidade de grandes Homens consiste em levar amor e solidariedade a quem necessita. ” Walyson Garrett
O proprietário de uma creche ao lado do hospital em chamas, logo cancelou as atividades e abriu as portas do seu estabelecimento para atender os acidentados. Disse: “Para mim foi muito fácil, apenas abri uma porta; para os acidentados e familiares foi uma grande ajuda. ”
Água, alimento, colchões, agasalhos, roupas… tudo chegava de todos os lados para ajudar. O diretor geral do hospital chorava pelos enfermos, mortos e feridos. Enquanto os familiares e amigos desesperados buscavam salvar as vítimas, asfixiadas pela fumaça, ou tragadas pelas chamas, entre choro e ação, pessoas solidárias, se faziam presentes naquele lugar indesejado.
Um segundo diretor do hospital saiu da condição de médico e passou a dirigir uma ambulância levando os enfermos para os hospitais próximos.
A satisfação de todos que ajudavam era estampada no rosto e externada nas palmas a cada acidentado atendido. Como disse uma senhora que acabara de enterrar a própria mãe: “ Mesmo tendo perdido a minha mãe, ao ver esta situação não pude me acomodar, precisava ajudar, e estou aqui fazendo isso”. Todos queriam dar a sua contribuição. O momento oportuno era aquele.
“A genuína solidariedade é aquela praticada com quem nem mesmo conhecemos. ” Lessinha
Estes exemplos devem ser multiplicados. É contagiante ver a ousadia de querer viver, e ajudar a quem necessita nos momentos difíceis. Era hora de sobreviver na fumaça, sair revigorado de um ambiente de martírio, que infelizmente ceifou a vida de catorze anciãos que dedicaram as suas vidas para cuidar dos familiares e, não lograram êxito no procedimento de evacuação daquele ambiente hostil. Existe a suspeita de que o hospital tenha uma brigada preparada para atender emergências. O pode ter favorecido a propagação das chamas e causado a morte dos pacientes. A falta de infraestrutura de combate a incêndio é um problema recorrente em todo o Brasil.
As calamidades se sucedem, recentemente com os jovens jogadores de futebol asfixiados pela fumaça, enquanto outros foram queimados. Agora tudo se repete com os idosos que buscavam o tratamento num hospital, onde imaginavam estar seguros para tratar das enfermidades e retornarem para os seus lares curados. Pura ilusão. Estavam desprotegidos. O medo imperou naquele ambiente onde a fumaça, o fogo, a angústia e o desespero sobrepujaram sobre a vida.
“Não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito da dignidade individual. ” Pierre Nouy
Lamentamos mais um trágico acidente causado por um incêndio que poderia ter sido evitado. Infelizmente os pacientes não tiveram a oportunidade de continuar os tratamentos no Hospital Badin do Rio de Janeiro. Em vez de serem curados das enfermidades. Foram penalizados com a morte.
Quem deveria restabelecer a saúde, provocou a morte dos enfermos e o sofrimento dos familiares. O lugar deveriam estar seguros era um terreno minado. Até quando inocentes serão penalizados com a morte por falta de compromisso do poder público e empresas privadas com a segurança?
A sucessão de eventos envolvendo incêndios com fatalidades no Brasil demonstra a necessidade urgente de rigorosa fiscalização e implementação de controles eficazes para prevenção de perdas. Não basta a solidariedade para mudar essa realidade, precisamos atuar na identificação da causa raiz dos problemas.
“Está se sentindo vazio? Preencha esse espaço com solidariedade. Saia desse buraco. Há muita gente precisando de você. ” Gabriel Chalita
José Carlos Castro Sanches
São Luís, 13 de setembro de 2019.
