Por José Carlos Castro Sanches

“ O mundo é uma praça universal, franqueada por Deus a todos para negociarem o céu” (Padre Antônio Vieira)
Neste 15 de fevereiro de 2019, durante uma rápida visita à Praça do Panteon em São Luís do Maranhão, me deparei com um ambiente revitalizado, amplo e bonito. E aproveito o ensejo para convidá-lo a fazer um tour pela capital maranhense, incluindo este maravilhoso ponto turístico.
Panteon significa “templo consagrado a todos os deuses. ”
A Praça do Panteon. A área de localização desse logradouro é onde ficava parte do monumental prédio colonial (1797) do antigo quartel 24 BC que ocupava toda a extensão desde a Praça do Panteon até o prédio do SESC (Serviço Social do Comércio), ladeado pelas Avenidas Gomes de Castro e Silva Maia, estas, erroneamente chamadas por alguns de Praça Deodoro, pois a verdadeira e histórica Praça Deodoro da Fonseca é o quadrilátero defronte a atual Panteon, onde hoje existe um “camelódromo” e “estacionamentos”. Extraído de artigo publicado no Jornal Extra, na Coluna Domínios da História do Maranhão, no dia 16/01/18, São Luís/MA.

“A praça é do povo como o céu é do condor. ” (Castro Alves)
Lá você encontrará imponente, ocupando posição de destaque, a Biblioteca Pública Benedito Leite, ao centro e, à sua volta bancos e estruturas de madeira, luminárias, árvores isoladas e um extenso piso que incentiva a movimentação e o passeio aleatório dos transeuntes pela circunvizinhança, alegres, tristes, pobres e ricos; pessoas sentadas a meditar sozinhas, acompanhadas a conversar ou namorar, bem como, crianças a brincar, correr, pular desordenadamente, patinar, circular de bicicletas e outros brinquedos. Na praça, alegria geral!

“Numa praça tem um banco inerte e calado, apenas experimentando abraços, sorrisos e prantos, conversas acaloradas e pessoas caladas, dando colo a quem precisa, descanso para quem busca e paz, mas só para quem a procura. ” (Professor Maurício Ferreira)
Tesudos e absortos pela sabedoria secular, em frente à biblioteca, você perceberá alinhados e empertigados dezoito bustos de personalidades do mais alto destaque, nove à direita e nove à esquerda, representando o que há de mais sublime na herança cultural do majestoso Estado do Maranhão.

“Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim. ” (Sigmund Freud)
Ali está simbolizado o que há de mais culto, reluzente e sublime personificado por poetas, escritores, jornalistas, cronistas, teatrólogos, advogados, médicos, políticos, entre outros destaques, refletindo a supremacia do conhecimento na literatura, artes, teatro e diplomacia.
“O poeta pode contar ou cantar as coisas, não como foram, mas como deviam ser; e o historiador há de escrevê-las, não como deviam ser e sim como foram, sem acrescentar ou tirar nada à verdade. ” (Miguel de Cervantes)
Observei atentamente cada um dos bustos, olhava de cima para baixo cada detalhe, com os olhos brilhantes e a mente fecunda para absorver tudo que pudesse ser percebido. Dos cabelos, aos dizeres que jaziam em cada placa assentada na lápide de pedra trabalhada; a fisionomia, boca, nariz, orelha, cabelos, formato do rosto, semblantes; lia as apresentações de cada um deles nas placas de metal à frente de cada busto e na base de suporte marmorizada.

Eu estava abobalhado diante daquele encantamento, que me traz, o conhecer destes grandes homens das letras. Fiquei deveras encantado com tamanho saber acumulado, com as histórias de vida, ricas em ensinamentos, exemplos e lições que me fortalecem.
“Um poeta é um mundo encerrado num homem. ” (Victor Hugo)
Aqueles 18 sábios distribuídos naquela praça de forma aleatória, um ao lado do outro, em duas filas, passaram em vida por nossa terra e deixaram o seu legado para as futuras gerações.
Estavam impassíveis e frios observando todos os movimentos das pessoas que por ali transitavam naquele logradouro revitalizado, cheio de vida e energia positiva.

Assim quero ser eu, um prospero viajante, a deixar para os meus descendentes, uma história de vida e luta que possa enobrecer o meu legado. Quem dera pudesse eu, ocupar um lugar de destaque nas academias que outrora conquistaram para o deleite do saber.
“O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido. ” (Aristóteles)
Percebi que a placa metálica do ilustre teatrólogo Arthur Azevedo, já não mais estava no lugar. Imaginei ter sido obra de algum admirador insensível ao valor da coisa pública, que se apropriou indevidamente do metal para outro fim que não o mais nobre: homenagear o ilustre acadêmico. Assim a história se perde e, quiçá em breve, até os bustos estarão sujeitos ao apropriar-se alheio.

“Vou passear na praça, lá a alegria contagia a todos que passam.” (Amara Antara)
Então, caminhando apressado pela praça do Panteon, fotografei um a um, todos os bustos e percebi que a nossa história é rica como as rimas dos poetas maranhenses que se deleitam em poesia, canto e prosa para enaltecer a nossa linda São Luís. Essa rápida e rica passagem me fez escrever esta crônica com o propósito de tornar público o meu grande contentamento e alegria pelo reencontro com a restaurada Praça Deodoro, que a história destaca, o seu brilho e influência para o povo maranhense, em especial aos ludovicenses.

“Existem coisas que não aprendemos no banco de escola, mas na praça da vida. ” (Gil Buena)
A revitalização do Complexo Deodoro foi entregue no dia 22/12/2018 pelo IPHAN e Prefeitura de São Luís. Os pedestais com os bustos formam uma verdadeira galeria a céu aberto no Centro da cidade. Uma inspiração para os escritores, poetas e aspirantes da arte e cultura maranhense. Neste clima visitei este lugar agradável e simbólico.
Os bustos foram retirados da Praça em 2007 após ações de vândalos. Durante esse tempo ficaram no Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), onde foram restaurados, higienizados e preservados.

Desde 1998, os bustos são uma homenagem póstuma oficial e permanente aos escolhidos para representar os homens sábios do nosso estado, que aqui estiveram conduzindo as letras, artes, teatro… nas diversas áreas da literatura à medicina, passando pela astronomia, política e diversas áreas do saber, engrandecendo a cultura e a história do nosso estado e da nossa querida ilha do amor, outrora Atenas Brasileira. Orgulho do nosso povo, em sua maioria carentes de conhecimento sobre o seu próprio berço.

“Os pedestais com os bustos formam uma verdadeira galeria a céu aberto no Centro da cidade. Os torsos homenageiam o escritor Josué Montello; o poeta modernista, Bandeira Tribuzi; a primeira mulher negra romancista do Brasil, Maria Firmina dos Reis; o teatrólogo e jornalista, Arthur Azevedo; o literário Gomes de Sousa; o escritor do Parnasianismo no Brasil Raimundo Correia; o cronista e ensaísta Nascimento de Morais.
Também estão de volta à praça, os bustos do folclorista e romancista Coelho Neto; do político e escritor Humberto de Campos; entre outras personalidades que deixaram alguma herança cultural e política à população de São Luís, como Clodoaldo Cardoso, Henriques Leal, Urbano Santos, Dunshee de Abranches, Gomes de Sousa, Arnaldo de Jesus Ferreira, Ribamar Bogéa, Raimundo Teixeira, Raimundo Corrêa de Araújo e Silva Maia. ” Fonte Agencia de Notícias São Luís.

“Agora os torsos têm um local digno e apropriado para eles. Um espaço sagrado para que a população possa referenciar pessoas que são verdadeiros ícones da cultura maranhense e do próprio Brasil.” Benedito Buzar – Presidente da Academia Maranhense de Letras.
A curiosidade me fez passar alguns minutos contemplando um pouco da biografia de cada um destes ilustres maranhenses homenageados. Biografia esta, que se confunde com a própria história de São Luís. Estou feliz por esta oportunidade e, mais uma vez, recomendo aos maranhenses e turistas, incluírem esta praça nos seus roteiros de passeios pela cidade dos azulejos. Um dos principais cartões postais para visitantes de todo o mundo conhecerem um pouco da nossa cultura e tradição literária.

“Para ser poeta basta ser sincero, escrever o que sente, amar o que realmente deseja, e esquecer a beleza superficial das palavras que formam a poesia, pois se verdadeiro é o seu sentimento, puro será seu coração…e lindas serão suas palavras! ” (Bruno Augusto Alves Costa)
Devo, também, reconhecer a parceria da Prefeitura de São Luís com o governo do Estado do Maranhão, e parabenizar o prefeito Edivaldo Holanda Junior e sua equipe pelo empenho na obra de revitalização do Complexo da Praça Deodoro. Faço isso, sem interesse ou conotação política, apenas fortalecendo a máxima: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. ”
O grande desafio agora é manter o Panteon “para todos os deuses”. Quero ainda passear pelas ruas de São Luís, caminhar pela praça Deodoro de mãos dadas com minha esposa, filhos, netos e bisnetos. Meu maior patrimônio e benção de Deus para a minha vida.


“No palco, na praça, no circo, num banco de jardim, correndo no escuro, pichado no muro… Você vai saber de mim. ” (Chico Buarque )


São Luís, 15 de fevereiro de 2019.
Revisado em 17 de outubro de 2020
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e outros nove livros inéditos.
Visite o site: falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho como escritor, cronista e poeta.
Adquira os Livros da Tríade Sancheana, composta pelos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja online www.ameilivraria.com.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS15.02.2019. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.

