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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

MEU NOME É JULIE (Homônimas)

Por José Carlos Castro Sanches

Site: www.falasanches.com

“Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”.(Mateus 19:14)

Saí de casa para um encontro natalino na “Casa do Senhor”, juntamente com a minha esposa, quando nos aproximávamos da igreja decidimos passar na farmácia para comprar um antialérgico, visto que eu espirrava bastante. Então, fomos à “Drogasil” mais próxima de onde estávamos. Ao chegarmos estacionei o veículo, ao tempo em que a minha esposa foi à drogaria.

Deixei o carro no estacionamento enquanto fazia a leitura de um livro dentro do veículo – quando surgiu uma menina oferecendo uns pacotinhos de amendoim. Perguntei-lhe quanto custava, respondeu: R$ 2,00. Disse-lhe que estava muito caro, envergonhada ela se desculpou dizendo que havia se enganado e que o pacote custava R$1,00. Aproveitei a oportunidade para dizer-lhe que devíamos ser justos nas relações com as pessoas – nunca querer levar vantagem e que devemos ser honestos, agir com ética e integridade diante de qualquer condição.

O olhar triste da garota e a sua atenção enquanto eu falava me comoveram. Disse-lhe que aguardasse o retorno da minha esposa que compraria um pacote de amendoim. Assim ela fez, distanciou-se e recostou-se na parede da farmácia – e discretamente colocou todos os pacotinhos no bolso da bermuda e pensativa aguardou silenciosamente.

Na breve conversa perguntei o seu nome. Ela disse: meu nome é Julie! Repeti: Julie? Ela afirmou, sim! Lembrei-me da minha neta que tem o mesmo nome e mora em outro país. Perguntei a sua idade. Respondeu: 11 anos! Mais uma coincidência a minha neta tem 11 anos. Naquele momento eu me emocionei – os olhos encheram-se de lágrimas. Quando a minha esposa voltou falei sobre a conversa que tive com Julie e a chamei para conversarmos novamente.

Decidimos ajudá-la, em vez de comprar, deixamos os pacotes de amendoins para que ela vendesse a outros interessados. Perguntei-lhe onde estavam os seus pais – disse-me que a sua mãe estava próximo, mas não a vi. Subitamente tive o desejo de fazer uma oração com as mãos sobre a cabeça dela, recebeu calada, permaneceu estática enquanto eu orava pedindo a Deus que a encaminhasse por caminhos retos e seguros e guardasse a sua vida em suas mãos. Em seguida nos despedimos e seguimos para a “Casa do Senhor.”

O remédio era apenas uma desculpa para irmos à drogaria – o verdadeiro motivo seria  aquele encontro inesperado com Julie nas vésperas do Natal. Ali percebi o maravilhoso poder de Deus usando um evento casual para nos comover diante daquela criança triste exercitando o amor, a generosidade a empatia, a solidariedade e acima de tudo refletir sobre a essência do Natal.

Os espirros cessaram sem que fosse necessário usar o remédio, portanto mais uma confirmação de que aquela passagem pela farmácia era permissão divina, um pretexto para o encontro com Julie.

Fomos assistir à peça teatral sobre o Natal. Todavia a lembrança daquela menina não saía da minha cabeça. Depois fomos para o nosso ninho: almocei, dormi e acordei pensando naquele acontecimento inusitado. Peguei o lixo no cesto do apartamento e desci para colocar na lixeira do condomínio, levei comigo e celular, porém havia esquecido de carregá-lo, tinha apenas 1% de carga na bateria, frustrou-me a ideia de fazer um vídeo contando a história de Julie.

Voltei para o apartamento coloquei o aparelho na tomada elétrica e fiz um áudio sobre o ocorrido. Eu tinha um outro compromisso inadiável com a minha esposa em outra igreja que também iria apresentar uma peça sobre o Natal – dessa vez na CN – Comunidade da Nações do Calhau. Como deixei o celular carregando usei uma caderneta e a caneta para escrever essa história enquanto a peça era encenada eu estava tão concentrado na escrita que não percebi o tempo passar.

Lembrei-me a tempo que quando eu me deslocava para descartar o lixo no container do condomínio Lombardia – tive um desejo que nunca me havia ocorrido antes – reencontrar aquela menina para ajudá-la. Nunca mais a vi – apesar do breve encontro – ficou marcado e registrado o sentimento de amor que tenho pela minha neta Julie, fortalecido pela condição da homônima que vendia pacotinhos de amendoim no estacionamento da farmácia. Espero que a leitura e reflexão sobre o tema em evidência intensifique a sensibilidade e empatia, fortaleça a generosidade e o espírito de solidariedade dos leitores.

Eu amei aquela criança quando a vi, por ter o nome da minha neta o amor aumentou. O culto continuava, as palavras reforçavam o meu desejo. Será que 2025 chegará com novidades para a família daquela garota? Ela terá oportunidade de crescer saudável, bem alimentada e  educada?  Ou viverá a mendigar uns trocados nas farmácias da vida?

Cheguei a pensar pela primeira vez em adoção. Seria uma boa experiência? Estaria agindo pela razão ou emoção? A minha idade e da esposa admitiria essa aventura? Seria apenas um desejo passageiro, logo esquecido? Ou duradouro?  Não tenho respostas para as dúvidas que se apresentam.

A luz do sol me trouxe uma nova experiência, um novo desafio, uma reflexão sobre a expectativa de vida daquela menina. Deus vive em mim e nele confio, então entregarei a Ele as respostas para as minhas dúvidas. Eu farei a sua vontade! Deus seja louvado!

“Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão.” (Salmo 37:25)

São Luís, 22 de dezembro de 2024.

José Carlos Castro Sanches. É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Literária do Maranhão, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras Artes, da Academia Vianense de Letras e da Academia de Ciências, Letras e Artes de Presidente Vargas. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de amor e liberdade.

Autor dos livros: Tríade Sancheana – Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das coisas que vivi na serra gaúcha, Me Leva na mala, Divagando na Fantasia em Orlando e O Voo da Fantasia. Coautor de diversas antologias brasileiras.

NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS22.12.2024. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

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