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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

O INFERNO É ENDOTÉRMICO

Por José Carlos Castro Sanches

“O paraíso de um tolo, é o inferno de um sábio. ” (Thomas Fuller)

Recentemente recebi um texto de autoria desconhecida intitulado “Termodinâmica do Inferno” que descrevia a experiência do Professor da Universidade de Oklahoma, Dr. Schambaugh, reconhecido por fazer perguntas inusitadas para seus alunos. Em uma de suas provas para a turma de Transmissão de Movimento, Massa e Calor II, ele fez uma única questão: “O inferno é endotérmico ou exotérmico? ” O aluno Tim Graham, justificou a sua opinião com uma resposta curiosa e inesperada, e foi o único aluno a receber a nota máxima na prova.

Após a leitura resolvi fazer uma provocação aos leitores e prometi provar que o “Inferno é Endotérmico”, desapegado dos fundamentos da Química, irei divagar na imaginação para justificar a minha resposta, em contraponto com a proposta original. Não passa de uma ilusão, sem comprovação científica, sequer fundamentação filosófica, histórica, religiosa… é uma ficção que levará o leitor a refletir sobre o olhar diferente de um cronista e poeta sonhador. Assim, segue a prosa.Quero antes fazer um lembrete não me julguem como um herege, não me prendam em nome da Inquisição ou Santo Ofício, por dizer que “O Inferno é Endotérmico”, nestes tempos de censura e privação da liberdade de expressão, quero ser livre para dizer o que penso e não sofrer as consequências como: Ignaz Semmelweis, médico húngaro que morreu espancado aos 47 anos, depois de preso ao ser considerado louco porque queria que os cirurgiões lavassem as mãos antes de operar; Galileu Galilei, astrônomo, físico e engenheiro, foi preso porque disse que existiam planetas e luas e defendia o heliocentrismo, tomou 36 anos de prisão domiciliar; Jordan Bruno foi jogado na fogueira por tentar fazer a disseminação do conhecimento científico; cientistas como Johannes Kepler, René Descartes e mulheres consideradas bruxas como Joana D’Arc, Helen Duncan, Margareta Korenika, Agnes Bernauer, dentre outros, tiveram o mesmo fim.  Eu quero continuar vivo para escrever a nossa história.

“É mais fácil para a imaginação compor um inferno com a dor que um paraíso com o prazer. ” (Antoine Rivarol)

Antoine-Laurent Lavoisier, o pai da Química moderna, disse: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Assim, como as pessoas sofrem as influências do meio em que estão inseridas; liberam ou absorvem energias positivas ou negativas, usam a criatividade e a inovação para a realidade e a fantasia, me apoiarei na subjetividade para discorrer sobre o tema proposto. Considerando que o axioma de Lavoisier poderá também ser aplicado pelos ficcionistas para transformar suposições em verdades e vice-versa.

Imagine que exista uma fornalha carregada de toras secas de madeira (lenha), diante de uma chama ardente ávida para transformá-las em calor, cinzas, dióxido de carbono e água, decorrentes da combustão.

Juntam-se a esse cenário os capetas empunhando mortíferos punhais pontiagudos e afiados, com os olhos vermelhos, tensos e embriagados pelo ódio feroz aos humanos, principalmente daqueles que ousam seguir a virtude dos justos e praticar as coisas certas; para estes o sabor das punhaladas e a dinâmica do massacre se acentua com atrocidade e frieza: o mal sobrepondo-se ao bem, com o rigor da lei do inferno e o desejo genuíno de sufocar os pecadores com a visceral punhalada mortífera que nenhuma alma viva seria capaz de suportar.

O inferno, portanto, é percebido como um misto de calor, perversão e morte, associado às más energias com o propósito de destruir o suposto inimigo ou inocente desprovido da guarda celestial, que por decisão própria ou forçado pelas circunstâncias se insurgiu contra o dogma de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível.

Sem saber da sua essência: quente ou fria. É apenas o inferno. O afamado lugar dos sofredores, incrédulos e maus-caracteres, que devem ser queimados na fogueira, vivos ou mortos, sem piedade.

Tudo o que descrevi acima é o que julgamos como o “inferno”, por força da imaginação criativa:  esse lugar é quente, agitado, tomado por energia negativa, o diabo e outros demônios, desde a criação, passando pela “Divina Comédia” de Dante Alighieri, dentre outros.

O céu e o inferno são decantados, o primeiro como um lugar doce, agradável, harmônico, um paraíso enfeitado por jardins e pássaros, ocupado por seres do bem, alegres, abençoados, amados e livres do pecado; o segundo dizem ser tenebroso, fúnebre, triste, amaldiçoado, amargo, abarrotado da chama ardente e viçosa da maldição, trevas, solidão e pecado, casa dos abominados, bruxas, serpentes, lugar fétido que exala enxofre e irradia calor, o que nos induz a pensar que seja um ambiente exotérmico. Como disse Machado de Assis: “O inferno é um hospício de incuráveis. ”

“Os homens são criadores do seu próprio inferno. ” (Textos Judaicos)

De agora em diante me deterei na narrativa oposta para defender o indefensável e justificar o injustificável. Pergunto: Alguém já visitou o inferno? Quem pode afirmar que o inferno é quente e libera calor para o meio externo? Diga-me!

Como em uma reação endotérmica a energia total (entalpia) dos seus produtos é maior que a de seus reagentes, absorvendo energia (na forma de calor), tendo como consequência, a temperatura dos produtos finais (mortes) menor que a dos reagentes (vidas), fazendo com que todo o recipiente no qual estão contidos (inferno) se resfrie da mesma maneira (sistema endotérmico).

O calor absorvido representa a maldade, o desamor, a inveja, o ódio, a soberba, a avareza, a luxúria, a gula e a preguiça incorporada naqueles que ocupam o sombrio, tedioso, utópico e enigmático “inferno endotérmico”.

Eu prefiro acreditar que o inferno é gélido. Por algumas razões: aqueles que julgamos ocupar lugar de destaque nesse ambiente abominável têm almas frias, corpos vazios de luz, são seres viventes sem energia para elevar um grão de areia (incapazes de dar um salto quântico), sem força para movimentar uma agulha; carregam consigo a desmotivação, a inveja, o sofrimento, a solidão e a treva. Diante das evidências que ora cito é possível perceber calor? Não seria mais fácil visualizar uma grande geleira? Um lugar de extremo frio? De pouco movimento? Que absorve energia, em vez de liberar?

O inferno é um local de fogo que representa a morada dos mortos, onde os demônios atormentam as almas condenadas e absorvem energias negativas e maus fluidos. Diante das evidências levantadas. Se o inferno realmente existe. Não seria sensato imaginar que o inferno é endotérmico?

A vantagem da literatura é que tudo se cria, pouco se transforma e nada se perde. Comecei julgando ser impossível encontrar uma resposta para a minha própria indagação e finalizo com a descoberta de que o Inferno é uma criação da mente humana para limitar a si próprio. Independe da sua natureza quente ou fria, se existe ou não, o inferno continuará a fazer parte da ficção, ora como protagonista, ora como vilão. O que importa é cumprir a sua triste sina no cativeiro da solidão.

Se ao final nada valeu a pena. Apesar de não encontrar nada escrito sobre o “Inferno ser endotérmico”. Fiquei extremamente feliz ao descobrir que “só não existe o que não pode ser imaginado”. Então agora posso afirmar que o Inferno endotérmico existe, porque o imaginei.

“Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes. ” (Marquês de Sade)

São Luís, 23 de agosto de 2021.

José Carlos Castro Sanches

É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.

Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, União Brasileira de Escritores e PEN Clube do Brasil.

Visite o site falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho.

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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS23.08.2021. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.

Comments (4):

  1. Thairllys

    6 de setembro de 2021 at 13:05

    Oi professor
    Me chamo thairllys ,o texto é muito interessante gostei muito

    Responder
    • sanches

      13 de setembro de 2021 at 17:04

      Aprecio a sua atenção e comentário. Obrigado e forte abraço.

      Responder
  2. Ana Carolina

    6 de setembro de 2021 at 14:56

    O inferno é endotérmico..

    Responder
    • sanches

      13 de setembro de 2021 at 17:03

      Uma reflexão diferente!

      Responder

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