Por José Carlos Castro Sanches

“O mundo da simplicidade, da natureza, da fonte de água limpa e do canto dos pássaros é um pedaço do céu e a voz de Deus, que muitos não conseguem ouvir. (Luiza Gosuen)
Enquanto eu lia “O último dos Moicanos ” de James F. Cooper, revezando a leitura com o livro “AUTISMO. Uma leitura espiritual ” de Herminio C. Miranda, um desconhecido que sentou ao meu lado no banco da “Praça Imaginária”, me contava da necessidade de visitar um prostíbulo, na sexta-feira que estava por vir, naquela semana que para ele demorava passar – porque estava encurralado num apartamento, e a tia que o adotara após a morte dos pais, não o deixava passear pelo centro da cidade de São Luís, onde o jovem quarentão dizia conhecer as raparigas, que conviviam nos casarões por trás da “Casa Freitas”, também outras que aportavam nos arredores da Fonte das Pedras e Fonte dos Bispos, onde o discreto companheiro dizia gostar de passear sempre que possível.

“Não há paixão mais egoísta do que a luxúria. ” (Marquês de Sade)
A vida daquele homem que outrora foi estudante, depois formou-se advogado sem ter o privilégio de exercer a profissão pelo fato de ter sido abatido pela ansiedade, depressão e inquietude que o impediam de trabalhar temporariamente, e aos medicamentos que usava, mantendo-o quase sempre sonolento e pouco ativo. Permanecendo vivo, o seu desejo de visitar o cabaré e deitar com as garotas que conhecia, morenas, loiras, brancas e índias de idades variadas da juventude à terceira idade, que se revezavam nos pontos em que frequentava. Como dizia, não ter preferência por nenhuma delas, apenas procurava liberar a sua sensualidade.
“Há na sensualidade uma espécie de alegria cósmica. ” (Jean Giono)
Ele estava sempre a falar da sua necessidade de passear, sair daquele ambiente, contava com parcos recursos que a sua tia liberava, a conta-gotas, vez por outra; segundo ele, mal dava para pagar o motel e as despesas com a “quenga” que variava entre R$ 60,00 e 70,00, somados aos R$ 10,00 a 20,00 do aluguel do quarto.
Era difícil, “trocar o óleo” com o dinheiro escasso, talvez tudo aquilo que ele confidenciava fosse apenas fruto da sua mente criativa, querendo libertar-se da prisão naquele condomínio do qual só saía com a tia, o tio e uma sobrinha. O tédio era o seu companheiro de alucinações e desejos não realizados. Pinocar com as meninas do centro da cidade era quase um sonho para o inconformado e versado viandante.
“Como em todos intelectuais, sua sensualidade era toda cerebral. ” (Vargas Vila)
Depois das inúmeras intervenções, a minha leitura estava comprometida, ele sentava-se ao meu lado, naquele banco de fibras sintéticas. A todo momento dizia algo que me tirava do foco, enquanto isso eu guardava as informações que julgava interessante para escrever esta crônica. Em um certo ponto, enquanto lia e escutava as conversas paralelas sobre o seu desejo insaciável de visitar o “xirizal” disse a ele que “O Chafariz das Meretrizes” seria um bom título para um livro.
“Escrever é como prostituição. Primeiro você faz por amor, depois para alguns amigos próximos e depois por dinheiro. ” (Molière)
Afinal, como surgiu a ideia sobre “O Chafariz das Meretrizes”?. O recatado ermitão insistia na conversa sobre a sua necessidade de passear pelas imediações do Mercado Central, em direção ao terminal de ônibus do Anel Viário, próximo à Fonte do Bispo, segundo ele naquele local se reuniam as garotas de programa ao anoitecer, ali era o local ideal para encontrar uma presa fácil para satisfazer a sua libido, sem amor, nem compromisso, dentro das limitações financeiras impostas pela tia, que controlava a mão de ferro os recursos para aquele propósito do sobrinho. Entre outras conversas, ele disse: naquele retorno onde as garotas ficam à noite, estão construindo um “Chafariz”.

Disse-lhe que julgava apropriado o chafariz para o encontro das Meretrizes, fazendo-o pensar sobre o porquê da minha sugestão, ele sorrindo respondeu que havia entendido.
“Quem dá uma parte de si por vantagens pessoais prostitui-se como a mulher que atribui um preço à sua docilidade. ” (Giovanni Papini)
Não tenho certeza que ele tenha entendido o que quis dizê-lo, em metáfora, todavia, se de fato fosse edificado um chafariz naquele espaço ficaria uma dica para nomeá-lo como “Chafariz das Meretrizes” em homenagem àquelas mulheres que por necessidade ou opção se prostituem ou comercializam o corpo por dinheiro ou prazer. Um chafariz com várias bicas serviria para jorrar água potável para abastecimento público ou de animais, refrescar as pessoas que por ali transitam, para as crianças e adultos tomarem banho e, lavar os pecados das prostitutas e dos visitantes dos bordéis.

“A luxúria é como a avareza: quanto mais tesouros tem, mais sôfrega se torna. ” (Montesquieu)
São Luís, 03 de fevereiro de 2021.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e outros dez livros inéditos.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS03.02.2021. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.
“Como o artesão da palavra, busco retratar as vivências, aprendizados e experiências do cotidiano obstinadamente. Reconhecendo e compartilhando o mérito de quem cumpre bem a sua missão. ” (José Carlos Castro Sanches)
