José Carlos Castro Sanches
Entardecia numa cidade como outra qualquer onde a vida dos outros nem sempre era a prioridade, mesmo que ainda existissem pessoas dispostas a dedicar o precioso tempo para levar uma palavra de conforto, carinho e afeto a um desconhecido. Enquanto um homem caminhava catando latas no chão com um dos olhos encoberto por esparadrapos sujos, usando um boné cansado do sol, uma camisa azul e calça cinza, um tênis avermelhado que simbolizava o caminhar peregrino de um andarilho solitário que as pessoas não percebiam como gente. Para todo efeito era um indigente!
Ele era mais um catador de latas a caminhar retraído, com o olhar tristonho a trilhar os caminhos incertos pelas ruas do próprio mundo. Já anoitecia quando um transeunte curioso ao encontrá-lo, aproximou-se e perguntou-lhe: “Quantas latas você consegue recolher diariamente?” O senhor humildemente respondeu: “Umas 150 latas que corresponde a 1 kg”. Indagou novamente: “Quanto custa 1 kg de latas?”. O catador respondeu: “ Próximo daqui é R$ 3,50, mas tem um lugar um pouco mais distante que paga R$ 5,00”.
O jovem sensibilizado com a condição do ancião perguntou-lhe quantas latas havia no saco de plástico azulado que carregava. Eles estavam num campo verde e gramado onde nas circunvizinhanças aglutinavam-se bares, restaurantes e casas de diversões. Sentaram-se na grama o catador e o rapaz, derramaram as latas e contaram vinte e cinco, amassadas para ganhar espaço e facilitar o transporte. O pobre homem não sabia que o sensível mancebo estava decidido a fazer-lhe uma grande surpresa. Após a contagem das latas o jovem altruísta ofertaria R$ 500,00 pelas 25 latas, com o único propósito de ajudar o irmão necessitado.
Ao entregar-lhe o valor superfaturado o viandante não aceitou receber, pois julgava que os objetos não valiam aquela fortuna, insistia em não aceitar o pagamento. Chorava de emoção porque alguém parou para conversar com ele; dizia que não era pelo dinheiro que transbordava de gratidão, mas pela atenção e gentileza dedicada a ele.
Depois de muita insistência aceitou a ajuda. Disse não saber o que fazer com tanto dinheiro, logo teve uma ideia e declarou: “Vou tirar R$ 50,00 e entregar R$ 450,00 para minha esposa e filha que estão em casa à minha espera. E completou perguntando ao simpático rapaz que o presenteara se era justo ajudar quem cuidava dele, no que foi prontamente apoiado.
Então, seguiu feliz e sorridente ao dizer que descansaria um dia em casa sem catar e vender latas, depois voltaria à rotina. Ele transbordava de felicidade surpreso com a atitude do generoso adolescente que reciclava ideias e realizava sonhos.
Aquela tarde como disse o catador ficaria para a história das suas boas lembranças por receber uma bênção inesperada. Os anjos estão por todos os lugares alguns humildemente caminhando recolhendo latas nas ruas para a sobrevivência; outros fazendo a alegria momentânea daqueles que por tão pouco sentem-se valorizados. O simples fato de ser percebido fez sentir-se importante. Naquele momento “O catador de sonhos”, estava realizado.
A lição que aprendi: A gratidão do andarilho não foi pelo dinheiro recebido. A felicidade transbordava porque o jovem simplesmente parou para conversar, percebeu que ele existia diante da multidão, o valorizou como indivíduo e como crianças contavam as latas sentados no gramado verde da praça. Por fim, um forte abraço de despedida o fez sentir-se amado. Sorridente caminhou para casa ao encontro da esposa e filha. Passaria um dia descansando e voltaria ao trabalho. Tudo parecia um sonho naquele dia abençoado. O amor transforma!
São Luís, 11 de julho de 2022.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras, Artes e Ciências, da Academia de Letras, Artes e Cultura de Coroatá, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e vinte livros inéditos. Visite o site falasanches.com e a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o nosso trabalho.
Adquira os Livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja on-line www.ameilivraria.com; os livros da Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!, no site da Editora Filos: https://filoseditora.com.br/?s=Sanches
Os Livros “Pérolas da Jujuba como Vovô” e “Pétalas ao Vento” com edição limitada você também poderá adquirir diretamente com o autor ou na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja on-line www.ameilivraria.com
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS11.07.2022. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.