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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

NOVENTA ANOS DE JOSÉ FIRMINO SANCHES (Meu Pai Meu Herói! Parabéns pelo seu dia) 

Por José Carlos Castro Sanches

“A gratidão é o único tesouro dos humildes.” (William Shakespeare)

Nesta data especial a minha reverência é para o meu amado pai.  Guerreiro, forte, corajoso e destemido que completa 90 anos de vida abundante em 1º de junho de 2022.

Nos momentos festivos, aniversários e datas comemorativas sempre registro passagens importantes da nossa família. Nessa oportunidade contarei um pouco da história de José Firmino Sanches, conhecido carinhosamente como “Zé Surdo”.

Em 01 de junho de 2017, enquanto os escassos fregueses não chegavam aproveitei para conversar com o meu pai no seu comércio em Rosário – MA, logo comecei a escrever um pouco da sua história, num pedaço de papelão de caixa de margarina Primor, depois em folhas brancas de papel Chamex.

O meu pai me ensinou os valores da ética e integridade por meio de pequenas atitudes do cotidiano. Eu era criança e o observava fazendo as pesagens das mercadorias numa balança antiga de dois pratos de cobre, ainda hoje no seu comércio, dela a inspiração para o título daquela crônica “O fiel da balança”, dedicada a ele, que reproduzo em parte nesta narrativa.

Ele sempre pesa os produtos usando o fiel da balança – e nos ensinou que deveríamos usar o peso correto – não deixar o fiel pender para um lado ou outro – ou seja, vender o produto no peso certo. Nunca levar vantagem usurpando o cliente com preço favorável em detrimento de peso defasado. É por isso que a balança tem um fiel para sermos justos, como a imagem da Deusa Themis com os olhos vendados sustentando uma balança com as mãos e sem deixar pender o prato para um dos lados – na justa medida. A justiça é imparcial. Epicuro disse que: “Não podemos viver felizes se não formos justos, sensatos e bons; e não podemos ser justos, sensatos e bons sem sermos felizes. Somente o justo desfruta da paz de espírito”. Ele segue essa máxima provavelmente sem conhecê-la.

O meu amado pai nasceu em 01 de junho de 1932 no povoado Areal Beira de Campo em Anajatuba – MA. Filho de José Alípio Sanches e Rita Zélia Sanches. Meus queridos avós – base da nossa existência e sustentáculos dos valores e princípios consolidados ao longo de suas vidas. Exemplo, lição e orgulho para todos os filhos, netos, bisnetos…Teve como avós paternos Cora Rosa Martins e João Alípio Sanches e maternos, não tem lembranças porque ao nascer estes já haviam falecido.

Mudou-se de Anajatuba para Rosário em setembro de 1951. Trabalhou no comércio da família “Aragão – com o Velho Oscar e José Aragão”, no período de 1951 a 1961. Quando completaria 10 anos se achava doentio, desanimado e decepcionado com o retorno do seu trabalho. Para comprar uma calça e uma camisa trabalhava de dois a três meses. Era um trabalho árduo, com baixa remuneração. Naquele tempo o fato de estar empregado fora da roça, ter onde passar o dia e dormir era um fator limitante para ele tomar a decisão de largar tudo e voltar para a casa dos pais em Anajatuba. Não era fácil voltar atrás. Para onde ir? O que fazer?

Um momento marcante para reflexão na vida do meu pai ocorreu quando houve o aniversário de Terezinha Aragão. Os familiares dela vieram de Bacabal e de Anajatuba para Rosário. Era uma festa onde todos estavam bem-vestidos, incomodando o meu pai que ficou constrangido porque não tinha uma calça e uma camisa adequada para o evento. Após esse acontecimento festivo o meu pai disse para o seu patrão José Aragão que voltaria para Anajatuba, não queria mais trabalhar no comércio e iria embora naquele dia “vou embora hoje” disse resignado.

José Aragão percebendo a aflição do meu pai pediu-lhe para esperar o “Velho Oscar”, – voltar de uma viagem a São Luís. O meu pai abandonou o balcão e ficou aguardando a chegada do “Velho Oscar” que viajava no ônibus Danúbio. A estrada era péssima e a viagem demorada. E a espera parecia uma eternidade, até a chegada do velho.

José Aragão falou com o seu pai “O velho Oscar” e pediu para o meu pai procurar um lugar para botar um comércio que eles iriam ajudá-lo a começar o seu próprio negócio. Eles forneceram R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos cruzeiros – antigo) de mercadorias e alugaram uma carroça para levá-las até o local designado próximo ao Mercado Central de Rosário. Assim, o meu pai iniciava o seu próprio comércio. Diz ele que naquela época os contadores exigiam muito dos donos de comércio, tudo tinha que ser legalizado. Então, de imediato, organizou todos os documentos para não ter problema com a prefeitura. Começou certo!

No ano de 1961, Bernardo Matos foi eleito Prefeito de Rosário e pediu o ponto em que o meu pai mantinha o comércio no mercado central. Mudou-se para uma barraca próximo da casa de “José Maria da Égua” na rua do meio em Rosário. Depois foi para um novo ponto na Rua Eurico Macedo de propriedade de Raimundo Alves (Mundico Correa). Nesta casa eu nasci de 7(sete) meses. Depois o meu pai comprou uma casinha, na mesma rua, não sabe o valor. José Aragão tornou-se grande amigo do meu pai e, emprestou o dinheiro para comprar a referida casa. Os meus pais moram até hoje nessa casa onde nasceram os meus 7(sete) irmãos: Caca, Nilra, Beto, Nilde (Jozy), Nilma, Uilton e Josete. Vivemos felizes com nossos queridos pais até que partimos para estudar em São Luis – casamos e continuamos construindo as nossas próprias histórias. Cada um seguiu o próprio rumo, levando os aprendizados, experiências, valores e princípios éticos, morais e religiosos adquiridos em família.

O meu querido pai conheceu e arranjou um namoro com Zanilde Castro Sanches (Zazá), minha amada mãe, em 23 de junho e casaram-se em 13 de julho de 1961. Conheceram-se numa festa na casa de Babá Cordeiro. “Ela estava com vontade e eu com precisão também, então nos casamos logo – com menos de 20 dias de namoro”. Meu pai morava na casa alugada do seu Lunguinha e casados, “os dois pombinhos”, foram morar nessa casa.

O nascimento e a criação dos filhos, um em cima do outro, todo ano. Diz meu pai: “As necessidades não eram tantas. Nessa época o comércio era outra coisa. Eu comprava um cofo (variedade de cesto alongado, feito com palha de palmeiras, com ou sem alça, usado para transportar ou acondicionar produtos ou objetos) de camarão e vendia em um dia na feira. Era muito fácil. Tinha freguês. Eu era conhecido do povo todo de Rosário. Todos sabiam onde encontrar as mercadorias difíceis no comércio de ‘Zé Surdo’, pagavam o preço justo pelos produtos que só eu vendia na cidade. Não foi difícil a criação dos filhos. O comércio era pequeno uma barraquinha. Mas, tinha facilidade para vender”.

Em 1972, o meu pai comprou uma Rural Vermelha e Branca – que marcou as nossas vidas e temos boas lembranças. Pagou à prestação em 24 vezes, por dois anos, com facilidade. José Aragão e Orlando Aquino, foram seus avalistas e assinaram as 24 prestações.

Nossa gratidão aos avalistas “in memória.” Essa aquisição naquela época foi um grande marco para a nossa família, momento ímpar de felicidade para todos nós e uma oportunidade para o crescimento do comércio do meu pai – porque a partir de então – ele iria semanalmente a São Luís comprar mercadorias, alavancando a ascensão dos negócios – além de permitir que pudéssemos (filhos e esposa) viajar para São Luís juntamente com ele.

Aquelas viagens eram nossos sonhos de criança. Como nos alegrávamos quando éramos escolhidos para acompanhá-lo. Era uma festa! Ele usou a rural por 14 anos. Quando vendeu ficamos tristes e até hoje quando vejo uma rural tenho boas lembranças da minha infância. Escrevi sobre essas lembranças na crônica: A rural vermelha e branca do meu pai!

O meu generoso pai pagou o INSS durante 26 anos, 11 meses e 20 dias desde que começou o seu comércio. O limite era 35 anos de trabalho, mas não podia aposentar-se porque não tinha completado 65 anos de idade. Pagou 2(dois) anos a mais para poder aposentar-se. Hoje recebe pouco mais que um salário-mínimo (chegando a pagar até 5 salários). Com a alta do salário na época do cruzado (passou a pagar 3 salários) até se aposentar.

Ao finalizarmos a nossa conversa fiz algumas perguntas para o meu pai, que seguem:

Qual a maior decepção da sua vida?

“Eu acho que foi trabalhar por 10 anos como escravo. Mas, não foi por eles, foi para não voltar para a roça.”

Cita que não teve outra decepção na vida em família. Os filhos sempre foram atenciosos e amigos.

Qual a maior felicidade?

“Ter casado com uma mulher que me ajudou a trabalhar até agora. De boa família. Ajudou-me porque se a mulher não ajudar a gente não vai longe.” Nessa hora o meu pai se emocionou e chorou contando a sua história de vida. Emoção de alegria e felicidade.

Que mensagem você gostaria de deixar para os seus filhos e netos?

“Agradecer a todos. Nunca me envergonharam. E a maior honra é ter criado todos vocês e nenhum filho me envergonhou. Nunca fizeram coisas erradas tenho essa honra. Nunca tive uma decepção de alguém dizer que um dos meus filhos fez isso ou aquilo de errado. Não tem isso não.” E completou dizendo: “Peso certinho, no fiel da balança. O meu peso sempre foi correto. Nem mais, nem menos. Nunca me dediquei a botar 900g por 1kg. Tinha fama de vender caro, mas nunca lesei ninguém. As pessoas que não gostam da gente, nos botam todos os defeitos, mas, eu sou justo e tenho consciência”

“Dois pesos e duas medidas, uns e outras são abomináveis ao SENHOR.” (Provérbios 20:10)

O que você acha relevante da vida e deseja relatar?

“Quero agradecer aos meus filhos e à minha mulher que nunca me envergonharam. Sei que vou morrer satisfeito. Trabalhei muito, mas nunca passei vergonha dos meus familiares. Filhos e mulher”.

Obrigado meu pai! Você me ensinou o que é ser integro, responsável e respeitar ao próximo. Valores e princípios que nunca serão esquecidos. Uma referência para toda a vida a ser replicada para as futuras gerações.

Assim ele continua por 71 anos dedicados ao comércio e à família. Destes, 61 anos, em seu próprio comércio e 10 trabalhando para a família Aragão a quem agradeço a oportunidade e ajuda necessária para que o meu pai pudesse alavancar os negócios, alimentar os sonhos e objetivos de vida com honestidade, coerência, simplicidade, integridade, ética e responsabilidade. Ele é reconhecido por todos que convivem ao seu lado como um homem honrado, dedicado à família, trabalhador, responsável, íntegro, honesto, focado e empreendedor. Como ele diz com orgulho: “Sempre paguei todos os impostos desde o começo até hoje. A César o que é de César”.

Um Pai maravilhoso, dedicado e visionário, que nos ensinou os princípios da honestidade, integridade e lealdade; que sempre cumpriu a sua missão com galhardia, nobreza e responsabilidade. Valores que estão arraigados em nosso DNA e jamais serão retirados.

Sempre demonstrou através do exemplo que a palavra de um homem vale mais do que um documento escrito. A sua palavra tem valor. É certeza de cumprimento. Dito e feito.

Não existirá outro pai igual a você. Um homem justo, transparente, verdadeiro, puro, sincero, incansável, determinado a vencer e empreendedor nato, com vitalidade e energia invejável. Que sempre acorda cedo e mantem as rotinas e afazeres diários com dignidade e firmeza aos 90 anos de idade. Você é a minha bússola, inspiração e livro de cabeceira.

Dizem que não devemos olhar para o retrovisor, mas a sua história nos inspira e me faz valorizar cada vez mais o passado e o presente ao seu lado, em família.

Meu Pai, nesta data especial gostaria de agradecer por tudo que você fez e faz por mim, por minha mãe, meus irmãos e familiares. Você é uma referência para a minha vida! Um exemplo e lição a ser seguido. É seu reflexo de PAI HERÓI que vejo quando miro a minha face no espelho. Tenho orgulho de você meu querido pai. Para você eu tiro o chapéu!

Desejo que Deus lhe conceda muitos anos de vida abundante com saúde, paz, alegria e muitas bênçãos. Feliz aniversário, meu pai! Te amamos profundamente.

“As pessoas que possuem e praticam os valores e princípios de vida, como por exemplo, a justiça, a verdade, a integridade, e tantos outros, podem ser comparados com o ouro, quando posto no fogo, é refinado, purificado e se torna ainda mais valioso, oferecendo um brilho ainda mais encantador aos seus observadores. ”(Joel Beuter)

José Carlos Castro Sanches

São Luís, 16 de maio de 2022.

É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense. Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e catorze livros inéditos. Visite o site falasanches.com e a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o nosso trabalho.

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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS16.05.2022. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

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