Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
“Dizer adeus é dar boas-vindas ao recomeço.” (Luiz Gasparetto)
Como escritor, cronista, contista, trovador e poeta o simples fato de retratar a cidade de São Luís, que aprendi a amar, seria motivo de sobra para inspiração, somando-se ao fato de que a escola na qual encerro a gratificante missão de educador ser homônima a esta fortalece a minha convicção de que nada ocorre por acaso, tornando mais fácil discorrer sobre as experiências e aprendizados ao longo da caminhada.
O meu pai queria que eu fosse médico. Nasci na cidade de Rosário do Maranhão, às margens do rio Itapecuru, onde se produzem artefatos cerâmicos com destacada originalidade e beleza, sem a devida valorização dos artesãos. Terra da padroeira Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, porta de entrada para a região do Munim – passagem do trem que outrora cruzava o Maranhão com destino ao Piauí – por meio da Estrada de Ferro da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), que atualmente opera apenas com trem de carga.
“O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar.” (Milton Nascimento)
Naquela urbe estudei o jardim de infância e o ensino fundamental no Colégio Paroquial e no Grupo Escolar Dr. Paulo Ramos, respectivamente. Após essa etapa segui para São Luis, dando continuidade aos estudos do segundo grau, à época (atualmente ensino médio) no Colégio Ateneu “Teixeira Mendes” e, posteriormente cursei Licenciatura em Química e Química Industrial na Universidade Federal do Maranhão – UFMA; estudei Engenharia Civil até o sétimo período na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, quando passei a trabalhar no Departamento de Meio Ambiente do Consórcio de Alumínio do Maranhão – Alumar, iniciei como Químico, atuando na operação do aterro sanitário; coleta, transporte e deposição de resíduos sólidos; limpeza da fábrica; coleta seletiva, reciclagem e reutilização de resíduos; monitoramento e controle de águas superficiais e subterrâneas; paisagismo e manutenção de áreas verdes. Além da experiência na Gestão de Saúde, Segurança do Trabalho e Meio Ambiente – SSMA durante na construção e comissionamento nos projetos de expansão AL3C da Redução e ALREFU2 da Refinaria Alumar. No decorrer do tempo concomitantemente atuei ministrando treinamentos de SSMA e Desempenho Humano na Alumar, EMAP, Hydro e Empresas Contratadas. Consultoria na Gestão do SESMT – Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho da Cimentos do Maranhão S.A. – CIMAR, com equipe especializada composta por médico(a) do trabalho, engenheiro de segurança e técnicos de segurança a serviço da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE.
Era apenas o início de uma carreira de sucesso, quando a convite do amigo, José Maurício de Macêdo Santos, então Gerente de SSMA da Alumar enveredei para a área de Segurança do Trabalho e Higiene Ocupacional, liderando os processos de segurança de contratadas, supervisão de segurança do trabalho e higiene ocupacional na Refinaria e Redução da Alumar, ao tempo em que me especializei em Engenharia Ambiental pelo CEUMA e Higiene Ocupacional pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais – FCM-MG. No passo seguinte passei a atuar pela Business Partners Serviços Empresariais – BPSE, como Consultor de Segurança do Trabalho e Higiene Ocupacional, com atuação em gestão de SSMA, treinamentos, palestras, capacitação e desenvolvimento de pessoas, inspeções, auditorias, consultorias especializadas, entre outras atribuições do portfólio da empresa, até a presente data.
Paralelamente ao trabalho na indústria metalúrgica, exercia a profissão de professor. Missão gloriosa iniciada no ano de 1984, ministrando a disciplina Metalurgia na então, Escola Técnica Estadual do Maranhão “João Bacelar Portela”- ETEMA, no bairro Ivar Saldanha, em São Luís; depois atuei como professor de Física, Matemática e Química na referida escola e nas demais que me acolheram nos quarenta anos dedicados ao magistério, sendo oito anos como contratado pela SEDUC, e trinta e dois anos como funcionário público nomeado do Estado do Maranhão, após aprovação no concurso público em 1982, para o cargo de Professor Licenciado em Química.
Simultaneamente às atribuições na SEDUC, fui professor de Matemática por um curto período no Colégio Neiva Moreira no bairro do Monte Castelo; lecionei também no Colégio Batista “Daniel de La Touche”, do João Paulo por dois anos, escola em que a minha esposa Maria do Socorro Menezes Monteiro Sanches trabalhou por 32 anos até a aposentadoria, iniciou como professora do ensino fundamental e encerrou a jornada pedagógica como coordenadora; naquela escola as minhas filhas Rafaelle Monteiro Sanches, Fabielle Monteiro Sanches e Danielle Monteiro Sanches e, o filho Carlos Daniel da Rocha Sanches, estudaram desde o jardim de infância até a conclusão do ensino médio de onde seguiram para a universidade, conforme suas escolhas. Bendita educação que nos permite aflorar em solo inóspito e crescer no deserto. Já dizia, Immanuel Kant: “O ser humano é aquilo que a educação faz dele.” Ele estava certo! Ai de mim sem a educação que recebi e dissemino todos os dias.
Com o passar dos anos no magistério – trabalhei em diversas escolas públicas – dentre elas: Liceu Maranhense, Gonçalves Dias, Barjonas Lobão, Paulo Freire, Vicente Maia, Robson Martins, IEMA, entre outras, encerrando a carreira de professor do ensino médio neste ano de 2024, ministrando a disciplina Corresponsabilidade Social e Empreendedorismo para os alunos do terceiro ano no CEM Cidade de São Luís – Cohab.
Experiência marcante pela acolhida da liderança e professores desta escola, bem como pela oportunidade de conviver com os alunos das turmas 300 CNS, 300 CHL, 301 CNS e 301 CHL. Aqui eu pude reunir e compartilhar toda a minha experiência de gestão adquirida ao longo dos anos de trabalho em empresa multinacional, associada à metodologia, didática e ao conhecimento multidisciplinar assimilado em quatro décadas de sala de aula. Juntaram-se o útil e o agradável, num ambiente acolhedor e receptivo no período de 22 de abril a 10 de agosto de 2024, quando estive pela última vez em sala de aula com os alunos sedentos por novidades eu refletia sobre a minha trajetória de sucesso como professor dedicado e comprometido com uma educação transformadora – certo de que elevei as pessoas para novos patamares, acreditando que a melhor receita para o progresso de uma nação é o investimento na educação do seu povo. Nelson Mandela já dizia: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” Eu sempre acreditei e continuarei a acreditar nessa premissa.
Para minha surpresa no dia 12 de agosto de 2024, dois dias após ter encerrado as aulas fui chamado ao CEM Cidade de São Luís para um almoço em homenagem ao Dia dos Pais. A bem da verdade fui surpreendido pela direção da escola e professores com um momento especial de despedida, onde todas as mensagens lidas durante a festividade eram poemas ou crônicas escritas por mim dedicadas aos pais, dentre elas: Um Pai Pescador (Crônica); Pai; Amado Pai(Poemas), recitados pelas professoras durante o evento – causando emoção aos participantes – especialmente a este que vos escreve. Naquele momento entendi perfeitamente a máxima de Machado de Assis, ao afirmar: “As despedidas mais longas são as mais difíceis de suportar.”
Aproveito o ensejo para agradecer à Gestora Geral: Sonia Maria Pearce Alves, pelo carinho, atenção, compromisso com a missão educadora e pulso firme na Gestão da escola; às Gestoras Pedagógicas Eliane Ribeiro Pinto Silva e Maria do Perpétuo Socorro Ribeiro Mendonça pela atuação presente e responsável, apoio logístico, sensibilidade e empatia; à querida amiga Supervisora Maria Merces da Silva Martins, pela atuação proativa, alegria e parceira na organização dos processos e atividades escolares junto aos professores e ao apoio pedagógico sempre ativo com presença marcante na rotina escolar e interação com os professores e alunos sob a batuta do quarteto diligente e dinâmico: Sandra, Jucilene, Thereza e Simone.
Aqui um agradecimento especial ao amigo professor Renan José Pereira Soares, pela disponibilidade para ajudar, simpatia, dinamismo, resolutividade e proatividade, essenciais para o andamento das ações, solução de problemas, esclarecimento de dúvidas, cópias de planilhas, entre outras atividades do ofício. E aos professores(as) que carregam a bagagem do saber e usam das suas habilidades para transmitirem com amor e sabedoria o maior dos presentes que pode ser dado aos alunos, o conhecimento e a educação. Na exiguidade do tempo me conterei com poucas palavras e muita emoção aos mestres. Aos alunos o nosso compromisso eterno como educador de fazê-los pensar e desenvolverem o intelecto para aplicação na vida cotidiana. O convívio harmonioso e respeitoso com estes permitiu a troca recíproca de conhecimento, aprendi com todos eles, a cada aula ministrada, durante as conversas e interações amigáveis. Cora Coralina na sua simplicidade disse tudo: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes.”
Digo que desde o primeiro momento que adentrei naquele estabelecimento de ensino fui muito bem recebido e percebi uma atmosfera de engajamento, um ambiente agradável de relações sinceras e produtivas; gestores, supervisores, corpo técnico, administrativo e professores comprometidos com a melhoria contínua da educação e aperfeiçoamento dos processos de ensino-aprendizagem – vocês constroem uma escola diferente – certamente o melhor lugar indicado por Deus para encerrar um ciclo de vida dedicado à educação, bem como manter acesa a centelha da esperança de dias melhores para a educação do nosso país, desviado dos princípios e valores éticos, morais e espirituais por questões políticas e ideológicas, que depreciam as convicções de uma nação que poderia ser próspera, motivo de orgulho para os brasileiros e atrativa para o mundo. Agora sigo o axioma de Bastos Tigre: “Como um adeus de despedida / Nos faz o coração sofrer! / Que instante rude o da partida… / Fecham-se os olhos para não ver.”
Agora dou início a um novo ciclo em minha vida, tenho grandes ambições pessoais e profissionais, ajo com foco, determinação, constância e perseverança para realizar os meus objetivos; dedicarei o tempo possível e necessário para transformar os meus sonhos em realidade. Convicto de que a distância entre sonho e realidade se chama ação. Compartilharei o conhecimento todos os dias além-mares, por meio dos meus escritos em meios eletrônicos e livros; no site falasanches.com, Instagram, LinkedIn, entre outros grupos literários que participo ativamente; serei a pequena gota d’agua lançada pelo bico de um colibri; a semente que plantada em terreno árido prosperará; o passarinho que constrói o ninho em lugar inseguro e mantem a vigilância constante para salvaguardar a perenidade da espécie.
Serei aquela estrela que brilha na escuridão para alegrar aqueles que precisam de uma luz; permanecerei decidido a transformar o mundo com palavras de incentivo, esperança, amor, gratidão… Manterei toda a minha energia direcionada para o bem, com a certeza de que o único caminho para a prosperidade está na direção divina; a paz será sempre o meu lema; a empatia uma referência para abrigar o outro com a mesma visão que espero ser abrigado. Como disse o escritor norte-americano Richard Bach: “Estamos sempre partindo. Sempre dizendo adeus.”
Finalizando deixo um agradecimento especial às pessoas que me permitiram chegar até aqui. Primeiramente aos meus amados pais José Firmino Sanches e Zanilde Castro Sanches; aos irmãos que juntos prosperamos; à minha querida esposa Maria do Socorro Menezes Monteiro Sanches, companheira de todas as horas, fonte de inspiração; às minhas filhas motivo da labuta diária e enfrentamento das adversidades para supri-las do sustento, amor e carinho; ao meu filho pelo incansável caminho trilhado em busca do crescimento pessoal e profissional; aos meus professores desde o jardim até a presente data, sem vocês nada disso seria possível; aos amigos e colegas de jornada agradeço pelos aprendizados compartilhados e desafios superados juntos. Como disse Millôr Fernandes: “Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus.”
A Deus toda honra e toda a glória! A vida é bela, apesar de efêmera deve ser vivida intensamente, comemorando cada conquista como se fosse o primeiro passo dado para a incerta caminhada. Ingênua vida de um guerreiro que acredita no amanhã, que será hoje, enquanto o tempo flui e o sol alimenta a minha esperança de um novo dia que surge a cada amanhecer. Não quero dizer adeus! Prefiro dar um brinde aos recomeços que me permitem escolher outros caminhos e novos fins. Encerro com o adágio de Mario Quintana: “As mãos que dizem adeus são pássaros que vão morrendo lentamente.” Eu continuo vivo! Graças a Deus! Talvez a forma mais prática, eficaz e inteligente para fugir desse momento de extrema felicidade, designado epifania, seja seguindo o aforismo do escritor português Eça de Queiroz, que sabiamente escreveu: “Uma despedida brusca evitam-se as explicações.”
´Por isso, agora vou correndo pegar o trem para Rosário… não posso me atrasar…quero chegar a tempo de contar para os meus pais tudo o que se passou até eu chegar aqui…
Peguei o trem em Teresina
Pra São Luís do Maranhão
Atravessei o Parnaíba
Ai, ai que dor no coração
O trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa
Bom dia, Caxias,
Terra morena de Gonçalves Dias
Dona Sinhá avisa pra seu Dá
Que eu tô muito avexado
Dessa vez não vou ficar (…) (João do Vale)
São Luís, 14 de agosto de 2024.
José Carlos Castro Sanches. É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras Artes e Academia Vianense de Letras. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de liberdade.
Autor dos livros: Tríade Sancheana – Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das coisas que vivi na serra gaúcha, Me Leva na mala, Divagando na Fantasia em Orlando e O Voo da Fantasia. Participa de antologias brasileiras.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS14.08.2024. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.