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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

METAMORFOSE SEDENTÁRIA!

Por José Carlos Castro Sanches

“A alma é uma borboleta…

há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose…” (Rubem Alves)

Esta crônica reflexão levará o leitor a perceber que mesmo nos momentos de dificuldade, incerteza e medo, surgem as oportunidades que permitem mudanças inesperadas e importantes em nossa vida. A águia se recolhe para sair renovada e a lagarta que imaginava ter acabado o mundo vira borboleta.

A quarentena de prevenção do coronavírus me fez repensar a vida e realizar coisas que antes nunca tinha feito e reavaliar práticas e atitudes que agregam valor para o meu crescimento pessoal e profissional.

Posso dizer que estou num processo de metamorfose para ser um homem melhor, uma pessoa mais humana e sensível, um indivíduo mais fraterno e solidário, um marido mais parceiro nas atividades domésticas, um pai mais carinhoso, e um avó mais paciente, um filho mais amável com os pais, um irmão mais irmão. Enfim, estou me tornando mais gente, num momento da solitude, misturada com solidão – quando tenho a certeza de que o homem não nasceu para viver prisioneiro na caverna. Precisamos ter pessoas ao nosso lado para dar sentido à vida, do contrário nada tem valor.

Metamorfose significa mudança, é a transformação de um ser em outro. De uma forma em outra. No sentido figurado metamorfose é a mudança considerável que ocorre no caráter, no estado ou na aparência de uma pessoa. É a transmutação física ou moral.

“Justo quando a lagarta achou que o mundo tinha acabado ela virou borboleta. ” (Lamartine)

Tive a ideia de escrever sobre esse tema porque durante anos tenho o hábito de diariamente tirar a barba ao amanhecer, antes de ir para o trabalho ou sair de casa. Por alguns dias fiquei tentando experimentar deixar a barba crescer, dois dias depois via que a aparência não era agradável, aquela cara de doente – então, decidia tirar e voltava a cara limpa e agradável como me vejo melhor. Tudo não passa de ilusão porque eu continuo sendo a mesma pessoa, sadia ou doente, bonito ou feio, barbudo ou pelado, apenas me vejo diferente ao espelho porque criei uma referência do belo e agradável talvez, mais aos outros do que a mim mesmo.

Por alguns minutos enquanto caminhava refletia que às vezes precisamos ser feios para nos tornarmos bonitos, outras precisamos sofrer a solidão para valorizar a liberdade, por vezes é necessário esvaziar o pote para perceber que existe sujeira no fundo, assim como a águia precisa de reclusão para trocar o bico, eu preciso de novas experiências para me tornar sábio. Por isso me arrisco a quebrar o protocolo sendo diferente do que devo ser, rompendo com o paradigma do politicamente correto e elevando a minha mente para um novo patamar de pensamento. Quando saio da clausura me liberto das correntes que me aprisionam ao nada e passo a visualizar um novo horizonte belo, que antes, não era visto – porque não me permitia vê-lo. Ainda que aprisionado na minha metamorfose sedentária, contrária à metamorfose ambulante.

“Quero dizer agora o oposto do que eu disse antes

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…” (Raul Seixas)

A história conta que a águia, quando se torna velha, voa para o alto de uma montanha e toma a decisão de arrancar o próprio bico, penas e garras para se renovar e viver por mais algumas décadas. Nesse processo fica dezenas de dias sem se alimentar. Assim, vejo esse momento de reclusão e confinamento pelo qual estamos passando para preservar a vida e ter a oportunidade de reavaliar as atitudes, comportamentos e valores essenciais para o ser humano. O tempo e a distância das pessoas que amamos nos faz perceber o que realmente importa, o que vale a pena.

Lembrei-me que a borboleta, que foi lagarta, para chegar ao seu estágio final de beleza e liberdade passou por um ciclo de quatro fases: o ovo, a larva, a pupa (também chamada de crisálida) e a adulta. Este ciclo ocorre devido ao processo de metamorfose.

“Somos borboletas de Deus! Passamos pelo apertado e sufocante casulo, mas a metamorfose nos transforma em seres ainda mais belos. ” ( Day Anne )

Fiz então algumas reflexões. Não tinha o hábito de ligar para a minha mãe semanalmente, às vezes passava meses sem nenhum contato, apenas envolvido com os compromissos profissionais e literários. Agora passei a ligar semanalmente, nunca antes havia falado com o meu pai pelo telefone, porque ele é surdo, recentemente conversamos por duas vezes. Até a surdez do meu pai melhorou para poder me escutar, certamente porque isso é uma novidade e o fez feliz. Assim se procede com os irmãos, filhos e netos, aumentou a interação familiar, embora distantes e confinados, passamos a nos preocupar uns com os outros como nunca antes.

Coisas que estavam paradas por anos foram concluídas, como dois livros sobre viagens realizadas a Maceió em 2018, para Disney – Orlando e Fortaleza em 2019. Sobrou tempo para colocar em dias as pendencias e recordar as belezas da vida.

Os amigos também passaram a ser mais generosos e nos ligam com maior frequência ou trocam mensagens mais íntimas como não faziam no passado. Entre estes o estimado amigo e escritor José Fernandes, com o qual tenho me comunicado com maior frequência e com os demais que tenho me esforçado para manter o envio das crônicas, contos e poemas diariamente escritos.

Nem todos se importam ou demonstram interesse pelo contato, mas faço a minha parte para lembrá-los que ainda estou aqui, vivo e à disposição de qualquer um deles, embora que distante continuo grato a todos pela oportunidade de convívio e aprendizado contínuo. Só sabe do valor dessa interação quem tem a chance de experimentar momentos especiais ao lado destes grandes mestres, que por motivo especial aprecio a amizade e tenho a honra da familiaridade.

Vivi para experimentar o sol da manhã diariamente, associado a uma caminhada de 30 a 40 minutos, sem a pretensão de me tornar um esportista, mas agora parece que se tornou hábito.

Jamais imaginei que essa prática passasse a ser incorporada na minha vida – porque, os que me conhecem sabem o quanto sempre detestei qualquer atividade física, como dizem os estudiosos do assunto, após 21 dias de repetição – tudo vira hábito, passei a acreditar nessa assertiva porque agora fiquei viciado na caminhada ao sol, seja lá a hora que for de preferência entre as 10 e 16h, como asseguram os especialistas, horário adequado para a reposição da vitamina D3, fundamental para aumentar a imunidade e nos proteger contra o Covid-19, que atormenta a todos nestes dias de pandemia.

Deixei também de participar de alguns grupos de WhatsApp e, exclui pessoas do meu Facebook que causavam incomodo pelo desrespeito e ofensas pessoais sempre que discordavam de ideias contrárias às suas e, também deixei de assistir aos programas da Rede Globo, os únicos que gostava JN e Fantástico, foram definitivamente excluídos da minha rotina, porque me faziam mal por deturparem as informações e abusarem da inocência dos telespectadores.

Juntei-me em parceira com Cleilson Fernandes e Natanael Castro para publicação semanal de crônicas, contos, poemas e textos sobre temas universais nos blogs: “Quarentena Literária” e, no “Portal de Notícias Tordesilhas, respectivamente. Uma boa iniciativa para incentivar a participação e interação de escritores, cronistas e poetas com os leitores e público interessado pela literatura em tempos de pandemia e certamente após este momento de reflexão e criação.

Enfim, poderia registrar inúmeras outras mudanças que ocorreram em minha vida neste período de intensa reflexão e ação. Entretanto, como tenho um sonho muito bem definido, estou fazendo o possível para não parar no meio do caminho, o que depender de mim farei, contudo quem decide sobre a minha vida está acima de mim – então, peço ao soberano Deus que guarde a minha vida, e, me proteja, também aos meus familiares, amigos, aos brasileiros e estrangeiros, afinal todos somos filhos D‘Ele e necessitamos da sua proteção para nos mantermos livres das doenças e saudáveis. Que a sua benevolência nos permita viver dias de glória com saúde, paz e alegria.

Eu estou anestesiado pelo sonho e não percebo passar os dias, focado no objetivo que me levará ao pódio. Deus sabe dos meus planos e da certeza que tenho: “ A distância entre sonho e realidade se chama ação”. Também estou certo de que existem três coisas fundamentais para fortalecer a minha crença no sucesso, são elas: a doação, o agradecimento e o perdão.

Doação é que faço diariamente, agradecimento é a essência da sabedoria e a melhor maneira de dizer a quem fez algo por mim, o quanto a sua contribuição foi importante para eu chegar até aqui e por fim o perdão a quem me tem ofendido – esse é o maior desafio que tenho. Busco exercitar, e, com dificuldade tento vencer a indisposição para romper a inércia do perdão, mas estou superando a cada dia e perdoando cada vez mais quem me tem ofendido. É um exercício diário com dizem Gary Chapman e Jeniffer M. Thomas no livro “As cinco linguagens do perdão”.

Cada perdão é um alívio, é uma libertação. Assim vou flutuando entre as nuvens de bênçãos e a felicidade toma conta da minha vida. Me transformando num novo ser. Sendo o protagonista da minha própria metamorfose. A metamorfose de um sedentário. Graças a Deus!

“Os fenômenos vitais são transmutações dos fenômenos materiais e, portanto, as forças biogênicas são transmutações das forças cósmicas. Existe também uma transformação da matéria produzindo um novo corpo, o corpo humano. ” (Antonio Pinheiro Guedes)

José Carlos Castro Sanches

É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.

São Luís, 01 de maio de 2020.

Visite o site falasanches.com e página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho.

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