O avião
No chão parece
Seguro
Quando estou dentro
Um casulo
Voando
Me sinto inseguro
Vendo de longe admiro
De perto
Dou um suspiro
O bicho parte do chão
Como se fosse
Um gavião
Com as asas duras
Causando tribulação
Tenho um medo desgraçado
Dele voltar para o chão
Não por vontade própria
Mas por defeito
Ou falta de manutenção
Que quase sempre
Impacta na morte
De toda tripulação
Voando só ou acompanhado
No meio da multidão
Estou sempre amedrontado
Parece que todos
Fingem sofrendo na solidão
O voo seguro é aquele
Que tateou no torrão
E recebeu o comando
Para permanecer no chão
Se gosta de viajar
Não me chame meu irmão
Prefiro os buracos das ruas
Que viajar de avião
Os homens se dividem
Em duas categorias
Os que fingem não ter medo
E os que assumem
Sem segredo
Eu me enquadro na segunda
Sem perder o sossego
Prefiro ser realista
Que morar numa tumba
Já percebi
Muitas mortes
Nas batidas de caminhão
Agora ficou difícil
O que devo fazer?
Viajar de trem, de ônibus ou de avião?
Dizem que o avião é mais seguro
Que carro, carroça
E burro
Mas eu prefiro
Escrever, cantar e pular
No meu cantinho escuro
Por que lá tem um tesouro
Que me faz pensar
No ouro
E acabo esquecendo
Que voar é perigoso
Então logo fico triste
E volto para o meu repouso
E o avião passa zoando
Sobre o meu chapéu de couro
De repente a luz apaga
Os destroços se acumulam
E a vida vai embora
Carregada numa mula
O avião caiu por terra
Com a minha inocência
Que se enterra na cratera
Entre o medo e a paciência
Como se estivesse
Fugindo da guerra
Sem força e inteligência
Adeus Varig, Vasp
Air bus, TAM, Gol
Azul e Avianca
Se depender de mim
Não terão minha fiança
E todas juntas
Muito em breve
Perderão a confiança
E algum dia serão
Peças de museu na França
Que Deus não me deixe
Perder a esperança
E acreditar
Numa aliança
Que fortaleça
A minha crença
De que viajar de avião
É seguro e acalenta
Ao ponto de um dia
Voar, comendo e bebendo
Olhando para todos os lados
Sorrindo, cantando e lendo
Como se estivesse
Escrevendo poemas, crônicas
Romances e contos
E histórias de um homem tremendo
De mente alvissareira
Que acreditou no vento
Levantou voo Dumont
Depois quase virou Santo
Da aviação brasileira
O avião de hoje
É como pássaro que vagueia
Que já não causa espanto
Espalhou-se por toda
A fronteira
E hoje é transporte
De primeira
Em nossa nação
Brasileira
Espraiou-se pelo mundo
Como erva rasteira
Mas tudo começou aqui
Nesta terra hospitaleira
Onde o avião, lampião
E o cangaço
Se misturam
No espaço
E tudo vira
Bagaço
As distancias ficam curtas
E longe ficam os destroços
Que sacrificaram
Os corpos
Daqueles que se
Perderam
Numa viagem
Sem volta
Naquele avião sem rumo
Que sumiu daquela rota
Com destino
À bancarrota
E eu com medo
Aqui estou parado
No tempo a escrever
Enquanto os aventureiros
Seguem firme as viagens
Descobrindo novas
Paisagens
Contando novas histórias
Vivendo novos momentos
Conhecendo outras culturas
Povos e continentes
E enobrecendo a literatura
Viva a liberdade
A beleza
E a cultura
Fora o medo
A tristeza a vaidade
E a luxuria
Que o medo de avião
Caia por terra
Como a viagem do gavião
Que enfrenta com coragem
Toda adversidade
Para buscar o alimento
Que sustenta
A sua própria liberdade
O que é necessário
Para voar suave e fácil
É voar solto e despreocupado
Como disse Richard Bach
Grande musico apaixonado
Helen Keller a me inspirar
Completou que nunca
Se pode concordar
Em rastejar quando
Se sente ímpeto de voar
Uma vez que tenha
Experimentado voar
Você andará pela terra
Com seus olhos voltados
Para o céu
Pois lá você esteve
E para lá desejará voltar
Assim disse da Vinci
Para nos aconselhar
O Pastor Gesiel
De sobrenome Oliveira
Dito homem fiel
Fruto da natureza
Acreditando no porvir
Revelou uma certeza
Só voa alto
Quem não tem medo de cair.
E agora o que fazer?
Desafiar o medo de avião ou
Buscar a liberdade do gavião?