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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

JUBER

Por José Carlos Castro Sanches

Site: www.falasanches.com

“Quem vive sem loucura não é tão sábio como pensa.” (François La Rochefoucauld)

A loucura se envaidece ao ponto de julgar-se sã, enquanto o Juber carregava o colchão velho, as muletas, o cachorro, o gato, a trouxa de roupas sujas, resgatados do mocambo onde a louca morava com os filhos, distantes do pai; quando encharcado pela cachaça dava-lhes palmadas e bofetadas sempre que julgava conveniente e a depreciava moralmente ao ponto de torná-la inferiorizada com palavras que destruíam sua autoestima.   

Cabeça de doido é cemitério da inquietação e  esplendor da criatividade. Arrogando-se pretexta, a louca tirou a roupa, pegou as cordas da marcha do jumento, sentou-se na boleia da carroça e dá-lhe chibatada no animal, a correr desordenado pelas ruas da cidade dos operários. Os peitos balançavam como as folhas do mamoeiro na tempestade, as pernas entreabertas ao sacolejo dos movimentos, abriam-se e fechavam mostrando as entranhas não tão limpas e cheirosas, mas apreciadas pelos transeuntes que observavam as peripécias de Enelides, que contrariamente dos lúcidos sorria destemperadamente enquanto o Juber seguia rumo ao desconhecido. Seguindo Aristóteles que dizia: “Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura.”

Quem disse que louco tem juízo? Quanto mais o bicho corria, mais ela sorria, imaginando que as burundangas estavam sendo transportadas por um caminhão baú, com as bagagens impávidas, invioláveis e seguras. Nada melhor que a mente destemperada para embriagar os tolos e fazer pensar que a vida nada mais é do que um vai e vem desordenado de ideias a pensamentos, ora sóbrios, ora ébrios – num divagar alucinado entre razão e emoção, realidade e utopia. “A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal”, já dizia Raul Seixas.

Agigantava-se a incerteza enquanto o jumento cansado, parou em frente ao Nina Rodrigues, deitou-se entre as varas da tabuleta de rodas e gritou fortemente: “retirem essa louca de cima de mim”, enquanto ela sorria alucinadamente. Todos fingiam não escutar o gemido cansado do sofrido animal. O bicho parecia ter mais consciência do que a mulher que o conduzia. Gritou mais uma vez: “controlem essa louca, antes que ela me mate”. Surgiu abruptamente um homem de branco, com os olhos arregalados, parecia mais desorientado que a triste motorista do Juber, aproximou-se juntou-lhe os braços e os amarrou, fincou-lhe uma agulhada nas nádegas, dopou-a;  adormecida foi conduzida por quatro homens até um quarto engradado; enjaulada, por lá dormiu até acordar na Praça da Igreja da Matriz de Jatubana, contando as anedotas em gargalhadas para as amigas Roslene, Gisone e Ivangela. Axel Oxenstiern, devia estar lúcido quando afirmou que “O riso é a trombeta da loucura.” Tem certo sentido!

Tudo não passava de um sonho! Enquanto o Uber não chegava, elas se divertiam com o Juber, que a louca no pesadelo dizia ser a carroça puxada por um jumento que realizava a sua mudança da modesta casa, destruída pelo desamor e violência, para o manicômio. E dizem que os loucos não sabem pensar, enganam-se, eles pensam e conseguem fazer os que se julgam ajuizados sorrirem abobalhados na praça.

Enquanto eu escrevia alucinadamente, pensei:  não seria a loucura dela uma maneira de tornar a vida mais alegre e feliz junto aos tolos? Ou quem sabe os loucos sejam os sisudos que levam a vida muito a sério?

É tudo tão complexo que eu chego a duvidar se Erasmo de Roterdã tinha razão ao afirmar que “A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.” Ou acreditar que “Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura.” e “As coisas mais belas são ditadas pela loucura e escritas pela razão.” Seguindo as premissas de Charles Bukowski e André Gide, respectivamente. Chegou a hora de chamar o Juber! Preciso parar para dormir antes de ficar louco, se já não estou.

São Luís, 01 de agosto de 2023.

José Carlos Castro Sanches

É químico, professor, escritor, cronista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Academia Rosariense de Letras, Artes e Ciências, da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro Correspondente da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências e da Academia Vianense de Letras.

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro!, Gotas de Esperança; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento e Borboletas & Colibris, além de vinte livros inéditos. Visite o site falasanches.com, a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o trabalho do autor.

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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS01.08.2023. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

FONTE DA IMAGEM: INTERNET

Comments (5):

  1. Goreth Pereira

    13 de agosto de 2023 at 17:46

    Fala Sanches um poeta trovador
    Com suas crônicas e trovas sabe discernir o valor .
    A crônicas comentada , o verso escritos . Leia e releia o ele tem descrito. Grande poeta ,escritor. Só tenho a dizer fala Sanches

    Responder
    • sanches

      1 de março de 2024 at 09:06

      Obrigado. Aprecio sua atenção e comentários. Forte abraço, saúde e paz para você e família.

      Responder
    • sanches

      1 de março de 2024 at 09:05

      Obrigado. Aprecio sua atenção e comentários. Forte abraço, saúde e paz para você e família.

      Responder

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