Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
“Antes de ter amado um animal, parte da nossa alma permanece desacordada” (Anatole France)
Alice chegava em casa, ao descer do veículo, um sobrinho que a acompanhava disse-lhe que havia algo diferente – um bicho pequeno ou fantasma – se movimentando debaixo do carro estacionado à frente.
Alice logo se interessou para saber do que se tratava. Percebeu que era um animal que tinha patas, indefeso, miúdo, desnorteado e sem rumo. Ao tentar pegá-lo, o animalejo correu para dentro de uma tubulação de drenagem pluvial que se encontrava na calçada, por algum tempo Alice ficou à espreita do animalzinho para lhe dar o devido acolhimento.
Na hora certa o filhote de mãe desleixada, apontou a cabeça para fora do cano, quando foi imediatamente puxado pelo pescoço pela sensível cuidadora de desprezados. Levou-o para casa – ao mostrar a criatura para o seu marido – este rejeitou veementemente a ideia de adotá-lo, até que depois de muita insistência da patroa – o consorte, mesmo a contragosto acatou a proposta. Supostamente seguiu a máxima de Paul Shaffer: “Quando você olha nos olhos de um animal resgatado, você não pode deixar de se apaixonar”
Era chegada a hora de batizar o animal, que agora seria de estimação, portanto merecedor de um nome e sobrenome à altura da posição que ocuparia naquele abrigo que Deus havia reservado para acolhê-lo com carinho e cuidado. Logo deram o nome de Guilherme, porque Alice e familiares achavam que poderiam chamá-lo carinhosamente de Gui…Gui.
Passaram-se os dias quando uma sobrinha de Alice, suspeitando de algo, percebeu que Guilherme não era um “macho”, na verdade era uma “fêmea”. O que fez com que adotassem o nome de Guilhermina, em vez de Guilherme.
Guilhermina, protetora e corajosa, cresceu e tomou conta da casa, escolheu uma mesinha da sala para ser o seu dormitório e lugar de descanso diário, donde quando acordada acompanha todos os movimentos dos moradores da casa, especialmente do Sr. Antônio, marido de Alice, que se tornou o seu melhor amigo e confidente.
Eles eram como pescoço e cabeça, unha e carne, mão na luva, arroz com feijão, martelo e bigorna, estavam sempre juntos e misturados – um protegendo o outro, cumplice na alegria e tristeza, saúde ou doença… Como disse Paul McCartney: “É possível julgar o verdadeiro caráter de um ser humano pela forma como trata os animais.”
Das vezes que visitamos Alice em sua residência, Guilhermina sempre estava na sala, debaixo da mesa sobre uma almofada de papelão, para ela parece que não existe diferença entre dia e noite, está sempre cochilando ou dormindo.
Alice me disse que tem uma foto dela muito linda, guardada a sete chaves e queria que eu escrevesse uma crônica dedicada a ela. Lembro-me que da primeira vez que estive em sua casa para buscar costuras e bordados a pedido da minha esposa Socorro Sanches, juntamente com uma toalha bordada com os dizeres: “Borboletas & Colibris”, em referência ao livro “Borboletas & Colibris, que escrevi em parceria com o escritor Pedro Neto – fui presenteado com o mimo.
Naquela oportunidade já me apaixonei pela dorminhoca a ponto de citá-la em outra crônica que não lembro o título, escrevo diariamente a ponto de esquecer o que escrevi há duas semanas, especialmente os títulos, em decorrência desse fato dedico essa crônica a Guilhermina, Alice e Antônio. O trio parada dura da Cohab: dorminhoca, modista e encantador de animais.
Deixo aos leitores curiosos uma indagação: Quem é Guilhermina ou Gui…Gui?
Será uma estrela, uma pedra, um sapo, uma pata, um periquito, um papagaio, um macaco, um gato, um cachorro, uma onça pintada, um coelho, uma cobra, uma galinha, uma cutia, uma pipira azul ou apenas a criação da mente fértil do cronista?
Na dúvida ligue para Aline ou Antônio. Caso Guilhermina atenda não se assuste – ela é versátil e arteira quando não está dormindo e sonhando. James Herriot, sintetiza muito bem o sentimento que os animais têm pelo dono, ao afirmar: “Se ter uma alma significa ser capaz de sentir amor, lealdade e gratidão, os animais são melhores do que muitos humanos.”
São Luís, 08 de fevereiro de 2024.
José Carlos Castro Sanches. É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras Artes e Academia Vianense de Letras. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de liberdade.
Autor dos livros: Tríade Sancheana – Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das coisas que vivi na serra gaúcha, Me Leva na mala e Divagando na Fantasia em Orlando. Participa de inúmeras antologias brasileiras.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS08.02.2024. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.