“Acontece-me às vezes, (…) um cansaço tão terrível da vida que não há sequer hipótese de dominá-lo.” (Fernando Pessoa)
Seguindo uma rotina intensiva de treinamentos, viagens e compromissos com o magistério hoje estou me sentindo muito cansado.
Chego a pensar se vale a pena exceder os horários de trabalho nesta jornada cansativa e incessante.
Estou aqui na escola aguardando em sacrifício, as aulas que se acumularam nos últimos horários.
Dia e noite sigo caminhando entre espinhos e rosas, hora lamentando, outra festejando, às vezes motivado, outro decepcionado, enquanto a chuva bate no telhado, a fome chega de mansinho e o sono acumulado quer me fazer dormir acordado.
A pressão sobe, o coração bate cada vez mais rápido, a cabeça rola e a testa franze como resposta a tanta preocupação, trabalho e cansaço físico e mental.
“Mas o pior é o súbito cansaço de tudo. Parece uma fartura, parece que já se teve tudo e que não se quer mais nada.” (Clarice Lispector)
O ventilador da sala dos professores, onde espero o horário da aula, sopra o ar e gira desordenado alimentando a minha esperança de que a vida estará suprida de oxigênio, vento, aconchego e alegria, opostos da solidão e tristeza que teimam em ocupar os pensamentos quando estamos estressados.
Não querendo me manter desocupado peguei a caneta e agenda para escrever o que sentia naquele momento, como forma de liberar o estresse e passar o tempo.
Quando menos esperava era chegada a hora de assumir a missão de professor em sala de aula. O tempo parece passar mais rápido quando estamos ocupados. É também uma forma de liberar a ansiedade da espera.
A sala de aula cheia de alunos interessados buscando o conhecimento numa escola agonizante de um sistema educacional decadente. Vejo interesse de poucos alunos, pouco caso e leviana demonstração de vontade de aprender de muitos.
Neste país desgovernado de um povo sofrido que busca a educação e a essência para uma vida digna nas “carcomidas” escolas apodrecidas e tomadas pelos cupins que teimam em descer teto abaixo como se querendo demonstrar que a nossa educação desce ladeira abaixo e o conhecimento superficial segue o ritmo da “internet” e What App da vida que passaram a ser a referencia para a maioria dos alunos. Tentando fugir das aulas monótonas, que insistimos em ministrar por desinteresse, desmotivação e baixo incentivo aos professores, em sua maioria, de escola em escola vendemos o conhecimento como laranjas, cocadas ou coisa parecida, num dilema massacrante e tedioso dia após dia.
Cansa a espera por um momento de prazer numa escola de mudanças, num país comprometido com o saber, onde a elite (aristocratas) e a plebe (povo menos favorecido) pudessem gozar dos mesmos privilégios de uma educação diferenciada e motivadora para juntos agruparem reticências, seguirem parágrafo a parágrafo, construindo um conhecimento sólido e escrevendo uma nova historia para a nossa educação.
Divagando, falando, pensando podemos ajudar a transformar a nossa difamada educação em algo que possa engrandecer o potencial criativo, fortalecer a diversidade e elevar a dignidade de cidadãos oprimidos distantes da essência do conhecimento, impossibilitados de “crescer”, limitados pela violência, corrupção, submissão e anonimato que se apossaram da nossa triste educação aprisionada, algemada e encurralada no mar de lama que tomou conta do Brasil.
Esta realidade não se limita apenas à escola pública, também o ensino privado virou comércio e cada um vende ao preço que julga conveniente para atender da forma mais precária o mercado oferecendo o produto de acordo com a demanda.
Poucos estão preocupados com a qualidade e todos de olho no lucro. É fácil verificar como algumas empresas de variados ramos estão criando conglomerados de escolas, focadas no lucro fácil, reduzindo a concorrência e criando monopólios, exploração sem concorrentes com posse ou direito exclusivo. Onde vamos parar? É tudo mentira, ilusão ou fantasia?
Será que o meu cansaço, estresse e desanimo neste dia de intenso trabalho me fez pensar de forma diferente? Ou estou excedendo a minha sanidade e percebendo neste momento de extremo “cansaço” o que não veria se estivesse relaxado?
Seria esta a realidade da nossa educação?
“Confesso que ando muito cansado, sabe? Mas um cansaço diferente… um cansaço de não querer mais reclamar, de não querer pedir, de não fazer nada, de deixar as coisas acontecerem.” (Caio Fernando Abreu)