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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

DORMINDO SOBRE AS PEDRAS!

“ O melhor resultado, na maioria das vezes, não vem dos mais talentosos, mas sim dos que dominam melhor seus impulsos e suas emoções. ” Autor desconhecido.

Hoje sai de casa à procura de um médico para curar a minha ansiedade e tontura. Tenho tido dias de angústia e aborrecimentos, apesar das grandes vitórias conquistadas na labuta diária e do carinho e atenção recebido no aconchego do meu lar. Doce lar.

Às vezes fico desnorteado, pensativo, meio fora de órbita, sem ânimo para fazer algumas coisas que têm me incomodado, num dos trabalhos que realizo, que outrora era motivante e agradável e, por motivo adverso não sei bem explicar o porquê, tornou-se uma tortura, sem açoite.
Só o fato de pensar que tenho que ir para aquele lugar indesejado, atormenta o meu dia, absorve a minha energia e provoca intensa repulsa e desânimo.

Estava em busca de um profissional especializado para desabafar, conversar e liberar os problemas que me afligiam. Desloquei-me de casa até o Shopping da Ilha à procura de um endereço desconhecido. Chegando ao local percebi que estava no lugar errado. Não era aquele o profissional que precisava.

Triste e reflexivo me apercebi visualizando do 4º andar do “Ilha Medical”, sentado numa poltrona vermelha de frente para a “Torre 1”. Peguei o meu caderno e a caneta bic, inseparável, e, dediquei-me a escrever esta crônica.

“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. ” Oscar Wilde.

Sei que não é fácil descortinar a própria vida e contar intimidades, frustrações e testemunhar sobre problemas que nos afligem. Mas, como digo sempre aos meus leitores que a minha vida é um livro aberto, não posso perder a oportunidade de compartilhar este momento.

As lições aprendidas e compartilhadas poderão servir de motivação para outros, em situação similar à minha neste instante. Como estou certo de que amanhã é um novo dia e estarei sorrindo de tudo o que acontece hoje, tenho a convicção de que o melhor a fazer é liberar o aprendizado.

Enquanto escrevia, recebi uma mensagem da minha esposa para ir buscar a minha neta Julie na escola, simplesmente ignorei o pedido, queria continuar contando a minha história.

Logo lembrei que ao sair de casa convidei-a para ir comigo em busca do endereço desejado, não percebi nenhum interesse. Nem sempre as pessoas estão dispostas a deixar de lado o interesse particular para ajudar ao outro; o sofrimento e a dor, nem sempre é percebido.

As pessoas se movimentavam freneticamente, entravam e saiam, através das catracas de controle de acesso às torres do “Ilha Medical”. Eu ali, solitário, pensativo, circunspecto, continuava sentado a escrever o meu martírio. Observava que na Av. Daniel de La Touche, os veículos, ônibus, motos e pedestres transitavam agitados, naquela via. Cada um com o seu propósito, muitas vezes, sem rumo e direção a caxingar pela vida, boiando ao balanço das águas, ruas, avenidas…tudo isso eu visualizava através da vidraça transparente daquele bonito prédio comercial.

A minha tristeza era perceptível aos olhos de qualquer ser humano sensível, mas todos fingiam não perceber a minha solidão ao escrever naquele papel branco, com letras azuis. As rugas da minha testa se acentuam quando estou cansado, preocupado, doente ou solitário. O corpo fala o que a língua não diz, basta parar para escutar, ou ficar atento ao semblante que fica perceptível ao menos insensível dos homens.

Ainda sentado ali, recebi a informação de que a minha querida mãe Dona Zazá, voltara para o hospital, com dor estomacal, após o uso intenso de medicamentos para dor, prescrito por um médico pouco cuidadoso que esquecera de orientá-la para usar um protetor gástrico junto a outro medicamento que prescrevera. Procedimento esse que até um leigo que nunca estudou para ser médico deve saber. O que reforça a tese anterior de que muitas vezes não pensamos nos outros quando “prescrevemos as nossas receitas”. O sofrimento do outro não importa. Só o nosso!

“Aprenda como se você fosse viver para sempre. Viva como se você fosse morrer amanhã. ” Santo Isidoro de Sevilha.

Continuava naquele lugar agradável, de vista privilegiada para o interior e exterior, mas, estava literalmente distante do mundo, a escrever sem rumo para liberar a solidão, no meio daquela multidão – é quando percebemos que não basta estar no meio da multidão para sentir-se apoiado.

A solidão está dentro de cada um de nós, assim como a felicidade. O que parece ter sentido para nós, pode não significar nada para o outro. Cada um vê a mesma coisa com um olhar diferente, com base nas suas referências, antecedentes e percepção do presente e futuro.

Mais uma vez fui surpreendido durante o meu exílio particular. Quando recebi uma mensagem por meio do Facebook de uma colega de trabalho, com uma foto de uma criança deitada num solo de terra batida, ao sol quente, vestido como se fora um homem já feito (de calça, camisa e chinelo), com a cabeça sobre dois tijolos (duros e rígidos), a dormir como se estivesse num colchão confortável de um hotel de luxo. O que jamais em toda a sua vida tenha experimentado, ou sequer sonhado em visitar.

“Sonhe como se fosse viver para sempre, viva como se fosse morrer amanhã. ” James Dean.

A realidade daquela criança é limitada por suas posses e, o sofrimento parece fazer parte da sua rotina. Enquanto isso, eu estava a reclamar da vida sentado numa poltrona confortável, de barriga cheia, com dinheiro no bolso, a escrever por livre escolha e, usando o precioso tempo para contar-lhes esta história.

Aquela criança segue a vida, hora com fome, outra doente, deitada eternamente sobre os objetos que se lhe apresente, quando chegar o sono. Não tem escolha! Quem sabe esteja muito feliz, apesar das adversidades, do aparente sofrimento e solidão. Apesar de estar no meio de uma multidão que cruza aquela rua diariamente, sem querer percebê-lo.

“Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida. ” Sêneca.

Talvez o pouco que tenha represente muito diante da sua ambição, por isso, seja uma luz a inspirar as pessoas na escuridão.

Esta minha reflexão descortina o meu livre pensar e me faz perceber que a solidão está dentro de cada um. O que parece sofrimento pode ser felicidade. O que atormenta a minha alma, pode ser o bálsamo que alivia a sua.

“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido. ” Fernando Pessoa.

As virtudes dos fortes alimentam a vida dos fracos, que se rendem aos pequenos problemas, que quase sempre só existem na sua mente, bombardeada pela somatização dos problemas que se acumulam e parecem querer “fundir” ou “explodir” o corpo fragilizado. Sei lá porquê!

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. ” Clarice Lispector.

Então, me perguntei: o que pode levar um homem inteligente, cheio de sabedoria e conhecimento sentir-se isolado no meio da multidão? Será loucura despertando das trevas para ameaçar a minha vida? Ou o excesso de genialidade e sensibilidade aflorando dos céus para mostrar que sou mais que vencedor e nada poderá deter a minha criatividade e vigor?

Prefiro acreditar nesta última hipótese e, continuar a minha missão de escritor andarilho, a descrever as nuances da vida com um olhar penetrante e reflexivo, que só as pessoas com sensibilidade apurada conseguem perceber. Acreditando que amanhã terá um novo dia de sol ardente e reluzente para guiar os meus passos e permitir que a minha palavra seja esplendor de glória, refúgio e fortaleza para aqueles que dela saibam extrair o bálsamo da vida. Viva a vida! Abaixo a loucura!

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. ” Desconhecido.

José Carlos Castro Sanches
São Luís, 24 de abril de 2019.

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