1236657.1677ed0.a1d49e5be45046c98447636dfa3d9e34
Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

DE 10 EM DATILOGRAFIA A ZERO EM INFORMÁTICA!

“É espantosamente óbvio que nossa tecnologia excede nossa humanidade.” (Albert Einstein)

Quando estudei datilografia lá em Rosário-MA. As máquinas de datilografar eram bem antigas e precisávamos fazer um grande esforço com os dedos para escrever a primeira lição “asdfclkj” e avançando no processo parecia que os dedos ficavam mais leves e a máquina amolecia. Tudo fantasia. A dureza era a mesma e as letras pesadas tipo chumbo. 

Todo dia uma hora de prática. Meu pai orgulhoso porque seu filho estava aprendendo datilografia. O filho aplicado a cada dia se tornava mais ágil e comprometido com as letras e números daquele teclado endurecido pela ferrugem. 

O tempo passou até o dia da prova para receber o diploma de datilógrafo mor. Já começavam a divulgar na cidade, que o filho de “Zé Surdo” como meu pai é conhecido, era um talento na arte de datilografar. E de verdade era. Não sei como desenvolvi aquela habilidade de datilografar, sem olhar para os teclados, com todos os dedos, nas letras e números, pontos e vírgulas, espaçamento e correções com tanta proeza. 

Chegou o dia da tão esperada prova. Que consistia em digitar um determinado texto escolhido pela Dona Lucita, esposa de Zé Pretinho (professora e proprietária da escola que funcionava em sua própria casa) que acompanhava tudo atentamente do começo ao fim. Era definido um tempo e um número de palavras para datilografar. 

A prova começou. José Carlos pegou o teclado com as duas mãos e dedos afiados, com o foco dedicado e entrou em ação naquela bendita aventura. 

Talvez tenha sido este o meu primeiro desafio profissional. Lucita me disse que eu podia começar e assim, arranquei a primeira naquela Ferrari enferrujada como Airton Sena fazia nos seus carros do passado. Toquei adiante com dedadas fortes e rápidas que pareciam querer atingir a velocidade da luz e provar ao meu pai e aos meus conterrâneos que era o melhor datilógrafo da cidade. 

Aí foi a surpresa. Quando continuava nas batidas frenéticas de dedos no teclado. Abruptamente a dona do curso disse que tinha encerrado o tempo de prova, enquanto eu batia a última letra. Enfim tinha atingido a meta e vencido o meu próprio limite. Só não sabia que esse pequeno “gesto ou feito ” tinha se propagado pela vizinhança e que várias pessoas da cidade comentavam que “Zequinha filho de Zé Surdo” tinha sido o primeiro a conseguir fazer aquela prova, naquela máquina enferrujada, no tempo requerido pela professora. Nem eu sabia. 

Certo dia estava em São Luís no Colégio Ateneu Teixeira Mendes, onde cursei o segundo grau (hoje ensino médio) quando reencontrei com Altino Aragão, um amigo de infância filho do velho Oscar Aragão, amigo do meu pai, que me contou sobre a euforia que aquele recorde provocou na minha pacata cidade de Rosário no interior do Maranhão, naquela época. Um garoto destemido e inocente bateu um recorde que sequer sabia existir antecedentes, talvez por isso tenha sido fácil, porque foi espontâneo e despretensioso. 

Até hoje mantenho guardado a sete chaves o meu manual de datilografia na minha mala de madeira quase corroída pelos cupins e uma lembrança que beira a saudade do tempo em que fui bom em datilografia. 

O fato é que nada disso me ajudou a ser um Expert em informática ainda que os homens tenham se adaptado com muita facilidade às evoluções tecnológicas eu ainda prefiro escrever minhas crônicas, artigos e poesias datilografando no meu computador como se fosse a minha antiga máquina de datilografar que mantenho como amuleto, em minha casa, no depósito de coisas antigas e indispensáveis para alimentar as boas lembranças do passado.

“Ao contrario do que hoje se crê a humanidade não representa uma evolução para algo melhor, de mais forte ou de mais elevado. O “progresso” é simplesmente uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa.” (Friedrich Nietzsche) 

Quem me conhece um pouco mais sabe do que estou falando. Pouco mais do que datilografar é o que sei fazer com o computador no meu limitado conhecimento de tecnologia de informação e internet. 

Algo foi feito de errado entre o macaco e a internet. Trocaria toda a tecnologia por uma manhã de conversa debaixo de uma árvore aprendendo sobre a vida e a natureza com Albert Einstein, Friedrich Nietzsche e filosofando com Sócrates, Platão e Aristóteles.

“Tornamo-nos deuses na tecnologia, mas permanecemos macacos na vida.” (Arnold Toynbee)

Comments (2):

  1. Ferreira da silva

    30 de junho de 2020 at 22:21

    As lembranças de alguém quando são expostas em forma de crônicas como essa que a sua genialidade e experiência narrativa, passa, é uma prova inconteste de que as vidas são repetições de matérias que só as almas privilegiadas percebem.
    Quando jovens nossas vidas tiveram por exemplo, a mesma história, pelo menos nessa fase: também fiz datilografia e hoje manuseio computadores com a mesma sensação: ,10 em datilografia e Zero em computação. Valeu parceiro, foi uma boa lembrança.

    Responder
    • sanches

      30 de agosto de 2020 at 17:32

      Querido confrade Ferreira da Silva, aprecio a sua generosa atenção e agradeço pelo comentário. Forte abraço. José Carlos Sanches

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *