Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
“O verdadeiro valor de um presente está na real intenção de quem o deu.” (Johnny De Carli)
Com o passar dos dias e o amadurecer do corpo efêmero, associado ao sedentarismo, a minha barriga sempre esguia e bem definida passou a tomar ares de riqueza tornando-se roliça – logo eu que era um baixinho franzino, agora estava diante da indesejada pança.
Para contrabalançar o excesso de peso concentrado no abdome, passei a caminhar, com a ideia de que essa prática poderia reverter a tendência à obesidade.
Numa caminhada matinal fui surpreendido por um garoto – que correndo atabalhoadamente – aproximou-se com uma vagem verde à mão e perguntou-me: “moço o sr. quer uma ‘chuva dourada’ – dizendo em seguida – é de graça.”
Eu estava diante de uma situação inusitada – primeiro pela generosidade daquele menino que não me conhecia, segundo por presentear-me com uma “chuva dourada”, que tampouco sabia o que significava, para completar era de graça, sem outro interesse senão o de fazer uma boa ação – em dias onde nada é feito sem interesse e quase tudo que é ofertado tem um preço. Só me restava receber o presente e agradecer. Assim foi feito!

Segui a caminhada sempre lembrando daquele simples gesto grandioso -com a pretensão de escrever algo sobre – logo esqueci o nome do mimo recebido, as dúvidas surgiram: chuva de bênçãos? Chuva colorida? Chuva de ouro? Semente dourada? Tudo passava pela cabeça, menos o nome pronunciado pelo garoto. Enquanto isso eu aproveitava para auxiliar nos movimentos de braço e fortalecer a musculatura da barriga – durante a breve caminhada reflexiva. Deixei para depois a ideia de escrever sobre a referido acontecimento.
Dois dias depois, eu caminhava novamente pelo Jardim de Lombardia quando ao passar próximo de uma árvore – visualizei um garoto trepado e ouros dois outros embaixo ao lado dos pais que conversavam. Foi então, que percebi o menino arrancando a vagem da árvore e perguntando para os amigos: vocês querem chuva dourada? Naquela oportunidade descobri que o nome do bom menino – presenteador de chuva dourada – era Samuel. Como disse Herbert Souto: “Quisera eu, ter a sabedoria de um Ancião e a inocência de uma criança.”

Voltei à cena anterior, parei e o garoto gentil mais uma vez me presenteou uma “chuva dourada.” Ao recebê-la perguntei ao seu pai: você sabe o porquê dessa vagem verde, comprida e dura ser chamada de “chuva dourada”? Ele prontamente respondeu: eu também recebi uma de presente do meu filho, não tendo certeza sobre o nome, pesquisei na Internet. A denominação “chuva dourada” (Chuva-de-ouro / Cassia Fistula), provém das belas flores amarelas em forma de cacho que ornamentam os jardins ao desabrocharem, elas são realmente muito lindas.

Agradeci ao pai de Samuel e disse que iria escrever uma crônica sobre o fato inusitado, segui a caminhada. Depois cumpri o prometido – eis o escrito, com aprendizados e lições para a vida extraídas do episódio:
- O valor de um presente não prova sua importância. Com muito pouco é possível transmitir amor e generosidade, conquistar um coração e tornar eterno um significado.
- O melhor presente que recebemos, é aquele onde podemos encontrar mais sentimentos do que valores.
- Somente as crianças podem despertar a pureza da alma. A inocência de uma criança é a demonstração de sua sinceridade.
- Na inocência e simplicidade encontramos os melhores presentes: o mais sincero sorriso, a empatia, o carinho, o amor, a vibração; o luar, a luz do sol, o brilho das estrelas, o canto dos pássaros, o balanço das folhas, o desabrochar e o perfume das flores, o sabor de castanha assada, o beijo da pessoa amada, a mais intensa felicidade.
- Vivo cada dia em busca da inocência de uma criança, como a águia que busca o renovo para se manter mais bela.
- Não importa ser um lindo presente, basta ter significado. Na simplicidade encontramos o verdadeiro valor das coisas.
- Por trás de uma vagem dura, alongada, roliça e indeiscente pode haver uma “chuva dourada” para iluminar e transformar uma vida.

Moral da história:
Quando receber um presente não se importe com o valor ou o que ele representa para você. O maior presente é o sentimento despertado, real motivo e intenção de quem o presenteou. Aquilo que não se compra, nem se vende por qualquer valor, simplesmente damos ou recebemos e sentimos a emoção de fazê-lo com amor, carinho e prazer. E mais nada! Tem presente que vale mais que ouro, que brilha mais que diamante e tem um valor inestimável, porque vem do coração! Quando o presente vem espontaneamente de uma criança, pode-se ver a mais pura inocência, o mais belo sorriso e o mais radiante sentimento de epifania.

“Floresceu Chuva Dourada, um presente com amor. Na semente depurada: voa um lindo beija-flor.” (José Carlos Castro Sanches)*

São Luís, 01 de dezembro de 2024.
*José Carlos Castro Sanches.
É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Academia Literária do Maranhão, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras Artes, da Academia Vianense de Letras e da Academia de Ciências Letras e Artes de Presidente Vargas. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de amor e liberdade.

Autor dos livros. Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das Coisas que Vivi na Serra Gaúcha, Me Leva na Mala, Divagando na Fantasia em Orlando e O Voo da Poesia. Participa de diversas antologias brasileiras.

NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS01.12.2024. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.





