“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido. ” (Fernando Pessoa)
Querido amigo vento peço desculpas caso cometa algum equívoco ou provocação na interpretação dos fatos que descrevo nesta carta, pelos questionamentos intempestivos, pelo tempo que permaneço dentro de casa nessa quarentena sem que possa receber o seu afago devido a pandemia do coronavírus e também pelo momento inoportuno para escrever esta carta, mas gostaria de compartilhar com você o que se passa na “Terra Brasilis” do samba e do pandeiro de onde escrevo e sou sobrevivente, graças a Deus.
Camarada confidencio a você que traz a brisa do oceano, o frescor, a rajada, o sopro e a ventania que chegou em nosso planeta Terra um tal coronavírus que está desgraçando com a vida dos pobres e ricos.
Os governantes desorientados estão mandando todas as pessoas ficarem em suas casas, pararam as indústrias, as empresas, os comércios, até os camelôs, vendas de esquina e beira da rua. Está uma “disenteria geral” digo assim porque todos os prefeitos, governadores resolveram tomar conta do seu território como se fosse um país, cada um fazendo ao seu modo, com o aval da suprema corte. Todos agora são presidentes, a ânsia do poder faz a democracia estremecer diante dos autocratas.
O governante geral da nação previu algo diferente de todos e parece que está certo, mas a maioria rebelada quer combater o Covid -19 conforme a sua vontade. O número de mortes aumenta a cada dia, assim como o número de contaminados, recuperados e curados. Os hospitais sobrecarregados, os profissionais de saúde sacrificados e o povo desorientado.
A OMS tem uma determinação, o Presidente tem outra, o Ministro da Saúde é contrário às determinações do líder, os governadores e prefeitos agem ao bel prazer, cada um cria a sua própria lei. Não seguem a hierarquia de comando. Será que a vida é menos importante do que os interesses dos nossos governantes querido vento?
Os remédios que dizem curar não são declarados pelos infectologistas para uso pelos mais necessitados. Os beneficiados escondem o remédio usado para a própria cura, e o número de doentes e mortos, adulterados. O povo incrédulo não sabe mais em quem acreditar. Se é que ainda pode acreditar em alguém. Em quem você acredita grande mestre vento?
O aprisionamento em casa começa a causar fastio, ansiedade e depressão. Os idosos desesperados com a prisão doméstica pulam muros, janelas, sobem escadas, gritam, esperneiam e permanecem submissos aos mais novos que os protegem e/ou subjugam.
Os jornais, revistas, televisão, rádio, internet e mídias sociais noticiam as mortes com alegria e escondem o sucesso dos recuperados. Parece que vibram com o insucesso, desgraça e fracasso do nosso país.
O judiciário promove a liberdade dos presos e incentiva a prisão de inocentes, aprova a desobediência e protege os culpados; o legislativo aproveitando-se do recolhimento, medo e desatenção do povo devido à pandemia, reajusta os próprios salários, mantem benefícios para assegurar as eleições com o dinheiro suado do povo e, não contribui para amenizar a crise, ao contrário incentiva as diferenças, legisla em causa própria.
O povo meu amigo vento, está sofrendo tipo sovaco de aleijado, alguns governantes de estados limitam até o movimento entre cidades nos ônibus, vans e carros particulares; outros controlam as pessoas que estão nas ruas através das linhas telefônicas, enquanto alguns reúnem milhares de pessoas para entregar cestas básicas, se aproveitam do momento de sofrimento para subjugar os miseráveis e imprimirem as suas marcas autoritárias e opressoras.
Os apresentadores de TV que incentivam os cidadãos a se manterem em quarentena, sem sair de casa, passeiam nos bosques e correm nas passarelas dos condomínios de luxo, nas avenidas, ruas, em volta de lagoas, lagos, nas margens dos rios e calçadões das praias. Enquanto, os mais necessitados não podem sequer sair à rua porque poderão ser presos, como fizeram com uma senhora, mãe de família em Goiânia e, com um senhor, dono de um lava-jato que tentava trabalhar na cidade de Maringá no estado do Paraná e foi imobilizado, sufocado e quase morto no meio da rua. Aqui companheiro vento algumas pessoas não usam de imparcialidade, isenção, equidade em seus juízos, atos e decisões. Aplicam-se dois pesos e duas medidas.
“As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade. ” (Victor Hugo)
As maiores redes de supermercados se mantem abertas, enquanto os pequenos comerciantes, lojistas e ambulantes estão impedidos de abrirem as portas e saírem às ruas para vender seus produtos. Percebo que neste pedaço do planeta o vento sempre sopra a favor dos mais afortunados.
Quero dizer amigo vento que por aqui os direitos não são iguais como dizem. Nem todos são iguais perante a lei – apenas está escrito na constituição da República Federativa do Brasil, mas não se cumpre. Quem tem mais influência, tem os privilégios, enquanto os menos favorecidos vivem a mendigar favores dos governantes.
Eu sei que o vento não tem soprado favoravelmente ao governo do nosso país, talvez seja porque o governante maior tenha cortado as regalias de muitos, não tenha fatiado os ministérios e rateado cargos entre os partidos políticos.
A luta para combater os desvios de recursos e o esquema de corrupção sistematizada que imperam nessa nação é gigantesca e ultrapassa a fronteira do nosso vasto território. Não sei como o vento com toda a sua liberdade conviveria harmonicamente numa terra corrompida.
Os cidadãos de bem do nosso país estão confusos. Não importa se defendem a esquerda, a direita, o centro, existe algo impedindo o crescimento, dificultado a ordem e o progresso, provocando contínua discórdia e conflito entre os brasileiros.
As emissoras de televisão, rádio, revistas, jornais, e mídias sociais em sua maioria incentivam o caos, promovem a mentira, a histeria, a confusão… em detrimento de propagar o amor, a paz, a união, a ordem e o progresso e, sobretudo vestir a camisa verde, amarelo, azul e branco em vez de defender os interesses de países de bandeira vermelha, dentre eles o possível difusor do coronavírus para todo o mundo, que adquire as nossas riquezas a preço de banana.
Me diga grande conselheiro “Vento” a quem podemos recorrer para trazer a paz ao Brasil?
Seriam os governantes capazes de usar um vírus para manter o povo submisso ao poder e ao mercado? A dimensão real dos efeitos do coronavírus e tão catastrófica quanto a fome, a gripe comum, a dengue, a malária, e doenças crônicas como hipertensão e diabetes? Quem levará vantagem promovendo a histeria e o pânico? O que nos impede de ter uma convivência pacífica? Por que os interesses políticos estão acima dos interesses do país e dos cidadãos brasileiros? A pandemia do coronavírus não seria mais uma estratégia dos chineses para dominar o mundo? O que podemos fazer para dizimar esse vírus do planeta terra?
O que você tem a me dizer amado vento? Hoje estou a exatamente um mês que não saio de casa para o trabalho, nestes dias me dediquei à leitura de bons livros entre eles Rubem Braga e Humberto de Campos; concluí a revisão de três livros inéditos e a diagramação de um deles: No Fluir das Horas, A Vida é um Sopro (crônicas) e Gotas de Esperança (Poemas); continuei a produção literária diária de crônicas, poemas, contos; terminei de escrever um livro contando as minúcias de uma viagem realizada entre o final de 2018 e início de 2019 para Alagoas, intitulado “Me Leva na Mala pra Maceió”. E, agora, estou escrevendo o livro “Conversando com Walt Disney” sobre uma viagem que realizei em junho de 2019 para Disney em Orlando na Florida.
Fiz tudo isso além de trocar mensagens de e-mail, WhatsApp, publicações diárias no Fala, Sanches (Facebook) e falasanches.com; compartilhar poemas e crônicas em homenagem aos 400 anos de Rosário, minha terra natal.
Todavia, o tempo parece não passar.
Os dias são longos e as noites curtas. Sei que estou sendo produtivo, mas estou me sentido um prisioneiro na caverna como disse numa das crônicas que escrevi sobre o confinamento “Prisioneiros na Caverna”; e, também em outras recentemente escritas “Pandemia: Espalhe o Vírus do Amor! ”; “Anjos da Guarda: De Mãos Dadas para Salvar Vidas”; “Percebi Que o Jardim é Lindo! ”; “Oito ‘Nós’ do bambu”; “O Retrato da Rua Grande”, além desta crônica “Carta ao Vento”. Todas retratando o período de confinamento a que estou submetido, na expectativa de me manter saudável com a saúde física e mental preservada.
Agora faço a pergunta final ao vento: Depois de todo esse tempo em quarentena estou imunizado contra o coronavírus?
E o vento apressado responde:
” Até o momento não estamos protegidos’ contra o Covid-19: ‘ Não há vacinas, não há tratamento ’, e o homem não está naturalmente imunizado contra o vírus, que seu organismo nunca antes experimentou. O seu tratamento consiste em tratar os sintomas. Alguns pacientes recebem antivirais e outros tratamentos experimentais, cuja eficácia está sendo avaliada. Em relação à vacina, há algumas pesquisas em andamento, mas só se poderá contar com ela após vários meses. ”
Fiquei triste e decepcionado ao ouvir a resposta indesejada e resolvi finalizar aqui esse relato. Dedico esta crônica aos pesquisadores e especialistas que trabalham diuturnamente em busca de uma vacina para combater o coronavírus que atormenta a humanidade, mas será vencido em breve pela ciência. No futuro será mais uma página virada na história das pandemias superadas pela humanidade. Viva a Vida! Viva a Ciência! Fora coronavírus!
“A maioria das pessoas nunca vai longe o suficiente no seu primeiro vento para descobrir que elas terão uma segunda rajada. Dê a seus sonhos tudo o que você tem e você se surpreenderá com a energia que vem de você. ” (William James)
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
São Luís, 10 de abril de 2020.
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