“Honestidade é o primeiro capítulo do livro da sabedoria.”
Thomas Jefferson
Hoje recebi uma sugestão do meu sobrinho Diego Sanches para escrever um texto sobre Black Friday, após compartilhar um folder que recebi do amigo Ivan Roberts que dizia: “Black Friday – do latim ‘comprar o que você não precisa com a grana que você não tem’.”
Essa frase deve ser criação de internautas, mas tem um certo sentido. É sobre ela que vamos discorrer neste artigo que dedico aos consumidores conscientes do Brasil.
Aceitei o desafio de escrever o texto e espero atender a expectativa dos leitores. Boa leitura e reflexão!
Interessante nestes dias que antecederam o BLACK FRIDAY os meios de comunicação reforçaram mais o que poderia acontecer de “fraude” do que propriamente a oportunidade de compra por melhores preços.
Todos os noticiários orientavam como o consumidor deveria se comportar e que deveriam ficar atentos para não serem enganados. O foco na prevenção foi maior que no consumo.
Uma reversão de valores decorrente da atitude e comportamento da maioria dos empresários e lojistas diante da acentuada demanda em busca de lucro fácil.
Por outro lado, os consumidores fantasiados pela grande oferta de produtos e falsas promoções seguem aumentando suas dívidas, adquirindo bens supérfluos pelo simples desejo de comprar cada vez mais…alimentando a especulação e os gastos desnecessários num momento de retração de despesas e crise econômica.
“O homem deseja tantas coisas, e, no entanto, precisa de tão pouco.” (Johann Goethe)
No bom e velho português, Black Friday quer dizer “sexta-feira negra” e se trata de um dia inteiro de descontos generosos organizados pelo varejo. Criada nos Estados Unidos, essa grande liquidação acontece um dia depois do feriado americano de Ação de Graças, um dos mais importantes do país.
Chegou em 2010 no Brasil. Já começou desacreditada e anos após ano reforçam a nossa crença de que estamos sendo enganados. A maioria dos descontos divulgados não eram reais e muitas outras tramoias foram praticadas, até o Procon tomar partido dos consumidores.
Avaliadores e consumidores atentos dão conta de que os comerciantes e lojistas às vésperas da “Black Fraude” aumentaram o preço dos produtos em até 152%, para darem a sensação de descontos fabulosos. Analisados 11 mil produtos de mais de 100 lojas virtuais com aumentos de até R$ 2.000,00 do valor original de alguns produtos.
Pura enganação, no Brasil somos especialistas em levar vantagens indevidas em tudo, assim sustentamos a corrupção e nos distanciamos da postura ética, da honestidade e integridade.
Mesmo as pessoas normais são induzidas a comprar algo quando expostas a grande oferta de produtos.
Quase ninguém passa incólume diante de tanta propaganda e oferta de produtos – até eu que estava consciente das manobras da mídia e das estratégias nem sempre favoráveis ao cliente hoje ao passar pelas Lojas Americanas não me contive e dei uma passada no setor de livros – mesmo não tendo a pretensão de comprar nada – não me contive e comprei o livro: “Vivendo em voz alta” de Miguel Falabella.
Ninguém consegue ficar isento – não existe vacina contra esse vírus do consumismo desenfreado.
“Na sociedade consumista de hoje, esta época (de Natal) é, infelizmente, sujeita a um tipo de poluição comercial que ameaça alterar seu verdadeiro espírito, caracterizado pela meditação, pela sobriedade e por uma alegria que não é externa, mas íntima.” (Papa Bento XVI)
Imaginemos os compradores compulsivos. Diante de tanta oferta. O que se passará na cabeça deles e quanto dinheiro jogado fora com coisas quase sempre desnecessárias.
“Segundo a psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do Programa para Compradores Compulsivos do Pró-Amiti, estima-se que os pacientes que apresentam esse comportamento representem 5% da população geral, sendo que ele é identificado com maior frequência nas mulheres. “Uma taxa bastante significativa”, ressalta a Tatiana.
O que leva uma pessoa a comprar compulsivamente, destaca a psicóloga, é que, muitas vezes, o ato de comprar serve como remédio para a angústia e a depressão. O ato de comprar desperta nas pessoas uma sensação de bem-estar, prazer e satisfação.
No comprador compulsivo, esse sentimento não é diferente. “O problema é que, para ele, isso é muito mais. Ele vai em busca dessa satisfação com uma frequência muito maior, porque não consegue atingir essa satisfação de outra maneira. A solução para as sensações desagradáveis, negativas e frustrações está nas compras. Muitos dizem que compram para preencher um vazio.”
“Não somos ricos pelo que temos, e sim pelo que não precisamos ter.” (Immanuel Kant)
Mas a culpa não é dos americanos que criaram o Black Friday já temos arraigados em nosso DNA e cultura de levar vantagens senão vejamos:
O meu professor de informática da DATACONTROL (vale merchandising) Deyvison, explicando uma tabela de Excel para os alunos – para dar ênfase ao conteúdo que explicava. Contou a seguinte estória para os alunos:
Certa vez um empregado que ele chamou de “pião” de uma empresa de construção civil recebeu R$ 1.020,00 no depósito do salário mensal. Sendo que o salario real era de R$ 1.000,00. O empregado percebeu o valor de R$ 20,00 acima do seu salário do mês ao receber o seu contracheque. Ficou calado. Não informou o departamento de RH da empresa nem o seu superior imediato.
A empresa percebeu que havia feito um deposito superior para o empregado e no mês seguinte fez o desconto de pagamento indevido de R$ 20,00 depositando apenas R$ 980,00 no salário do mês.
Quando o empregado recebeu o contracheque do mês que percebeu o desconto de R$ 20,00 imediatamente procurou o departamento de RH e foi reclamar para o chefe imediato.
Alegou que acordava cedo, era muito esforçado, trabalhava duro 8 horas por dia, todos os dias, produzia, gerava renda da empresa e ainda recebia R$ 20,00 a menos no salário mensal.
O chefe imediato tentou explicar para o trabalhador que no mês anterior ele havia recebido R$ 20,00 a mais e não se manifestou, não reclamou de nada.
O empregado esperto logo respondeu: “Chefe um erro é aceitável mais dois é demais”
Moral da estória: Quem trabalha com folha de pagamento não pode errar; o trabalhador sempre tem razão; a esperteza faz parte da natureza humana e quando se trata de brasileiro para tudo tem um jeitinho.
Um outro caso aconteceu num desses dias quando passeava pelo planeta Marte. O gerente de um supermercado atento aos clientes, me contou o seguinte caso:
Uma senhora que havia comprado duas toalhas de limpar pia por R$ 1,67 cada, ao passar no caixa foi surpreendida pelo registro de apenas uma toalha. Foi embora sorridente com o marido omisso contando vantagem porque só cobraram uma toalha. Não voltou para comunicar e pagar a diferença ao atendente de caixa.
Em outra oportunidade a mesma cliente comprou um vidro de produto de limpeza de R$ 1,45, ao passar no caixa registrou o valor de R$ 1,68, voltou imediatamente, reclamou para o atendente em seguida, procurou o gerente da loja e exigiu levar de graça outro produto de mesmo valor de acordo com O Código Brasileiro de Defesa do Consumidor (CDC).
A mesma pessoa reagiu de forma diferente diante de uma perspectiva de vantagem e desvantagem:
O que nos faz querer levar vantagem em tudo que negociamos?
Porque o direito sempre deve favorecer os nossos interesses?
Quando o prejuízo ou perda do outro nos incomoda?
Qual a sua opinião sobre os casos relatados?
Você faz parte desta estatística agindo da mesma forma que a maioria?
Como poderemos mudar o nosso país se continuarmos reforçando estes comportamentos e atitudes?
“Inocente é aquele que não foi apanhado em flagrante.” (Victor Hugo)
Gloria
22 de novembro de 2022 at 17:35
Muito reflexivo o texto.
sanches
1 de março de 2024 at 09:25
Obrigado querida Gloria. Aprecio sua atenção e comentário. Forte abraço, saúde e paz para você e família.