Por José Carlos Castro Sanches
“A esperança é um urubu pintado de verde.” (Mario Quintana)
Enganou-se quem imaginou que os urubus não inspirariam o cronista. A vivência do quotidiano constrói a minha realidade, eterna fonte de inspiração.
Era uma manhã ensolarada do dia 24 de dezembro de 2022, véspera de Natal quando eu passeava pelo Zoológico de Brasília com a minha esposa apreciando os animais. Ao chegarmos no local de confinamento dos hipopótamos havia uma família com quatro crianças e cinco adultos, avós, pais, filhos e netos, alegres e sorridentes.
A molecada estava extasiada com o que via, os pais e avós aplaudiam. Junto aos hipopótamos naquele momento em terra firme estavam os urubus, não entendi muito bem o motivo da parceria, o convívio parecia familiar. Enquanto eu observava aquela cena pitoresca ouvi uma senhora dizer em voz alta para o filho adulto que a acompanhava empurrando um carrinho com um bebê a bordo. Ela disse: “Quando você era criança eu perguntava que bicho você queria ser.” E recebia como resposta: “Quero ser um urubu”.
Aquela conversa inusitada me chamou a atenção. E passei a indagar-me: “Por que alguém poderia querer ser um urubu?” Encontrei algumas respostas aparentemente plausíveis, uma delas é que o urubu biblicamente simboliza o amor pela terra, a vida, a morte, os mistérios e dons proféticos.
Continuei o passeio com a minha amada esposa Socorro, filha Fabielle e Bruno Balbino. Um pouco à frente passamos por um pequeno lago de águas turvas abarrotado de urubus dedicados ao banho matinal, não vi carniça, mas os bichos estavam felizes. Como disse Dionathan Hart : Beija-flor anda só, já o urubu sempre acompanhado.
A minha eterna companheira de viagem disse que não gostava de urubu, enquanto eu tentava convencê-la de que o urubu é um dos animais mais úteis para a humanidade. Ela discordava e seguimos conversando durante o passeio.
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Por ironia do destino quando retornávamos à entrada principal para saída do zoológico um urubu pousou na passarela à nossa frente e nos conduziu até a portaria caminhando pela calçada. Ele andava elegantemente, como poucos humanos, quando percebeu que tínhamos chegado ao destino despediu-se e apesar de estar com uma asa machucada tomou voo ignorado, suponho que tenha voltado para o banho com o bando de urubus, orgulhoso pelo generoso gesto de cortesia aos turistas maranhenses.
Naquela breve caminhada reflexiva, minha esposa, filha e genro que me acompanhavam durante o passeio convenceram-se da importância dos urubus para a humanidade. Essas aves preciosas mantêm limpo o ambiente em que vivem são responsáveis pela eliminação de 95% das carcaças de animais mortos na natureza, alimentam-se basicamente de cadáveres, têm o olfato extremamente apurado, capazes de detectar um pequeno cadáver a grandes distâncias.
Além de corteses anfitriões e guias turísticos no zoológico de Brasília. Eles ajudam a prevenir a propagação de doenças, eliminando bactérias que poderiam adoecer ou matar muitos animais selvagens e domésticos. Os urubus são aves pertencentes a ordem Cathartiformes, diferente dos abutres do Velho Mundo, pertencentes à ordem Accipitriformes. Existem sete espécies de urubus, sendo que cinco ocorrem no Brasil: o urubu-rei (Sarcoramphus papa), urubu-da-mata (Cathartes melambrotus), urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura), urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus) e o urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus). De forma geral, possuem poucos predadores, sendo jiboias, sucuris e pequenos mamíferos carnívoros os mais conhecidos. Não é por acaso que biblicamente o urubu simboliza o amor pela terra, a vida e a morte, os mistérios e os dons proféticos.
O urubu na sua essência de necrófago deu-nos uma lição. Quem pensava que ele não era útil estava tremendamente enganado. Menos eu que sempre valorizei a ave preferida do filho da turista. Talvez o garoto tivesse razão de querer ser urubu.
O que você achou da ideia?
Após concluir a escrita desta crônica lembrei-me que o urubu é o mascote do time mais querido do Brasil: Clube de Regatas do Flamengo. Destarte, aproveito o ensejo para dedicar essa crônica a todos os torcedores do Brasil, aos flamenguistas e anti flamenguistas que compõem as duas maiores torcidas do país. Viva o Urubu!
P.S. Ao compartilhar com um amigo de Brasília, ele me informou que na região de Goiás o urubu é chamado de *GALINHA DO CÉU* devo rever o título dessa crônica.
Brasília, 25 de dezembro de 2022.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Atheniense de Letras, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e Pétalas ao Vento. Visite o site falasanches.com pelo Google ou Instagram e conheça o trabalho do autor.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS25.12.2022. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.