Por José Carlos Castro Sanches
“Em um mundo virtual, a janela da alma fica desconectada. ” (Abigail Aquino)
Viajando pelo planeta Marte escutei uma história que me remeteu à Terra de onde eu havia partido no Século XXI à procura de um lugar distante para viver sem preocupação com o excesso de informação. O comandante da nave espacial me contou sorrindo uma “pérola” da sua esposa e filha. Escrevo e compartilho o aprendizado e dedico esta crônica aos viciados em celular.
Marciana estava ligada ao celular como a maioria dos pobres mortais do universo; depois da invenção dessa peste que contamina mais que doença infectocontagiosa e o Coronavírus tudo ficou diferente. Ela saiu do mundo real se atualizando das novidades e da vida alheia; quando a filha Venusa disse: Mãe de Deus larga esse celular de mão e vai explodir o mundo. ” Ela queria repetir o que sempre ouvia da mãe: ”larga esse celular e vai explorar o mundo.
“A inocência tem na alma uma pérola, e as pérolas não se dissolvem no lodo.” (Victor Hugo)
As crianças entendem as coisas muitas vezes de maneira diferente dos adultos, mas assimilam as informações e processam à sua maneira. Entendeu explodir em vez de explorar. Agora resolvi explodir esse tema para explorar alguns aspectos que considero importante sobre o mundo da comunicação virtual que transformou o comportamento de milhões de pessoas em todo o mundo.
A distração digital aumenta a ignorância, diz professor: “ Uma série de pesquisas nos últimos anos mostra que a ignorância dos jovens americanos é epidêmica. Para Mark Bauerlien, professor da Universidade Emory, em Atlanta, e autor do livro The dumbest generation: How the digital age stupefies Young americans and jeopardizes our future (A mais burra das gerações: Como a era digital está embrutecendo jovens americanos e ameaçando nosso futuro), o excesso das chamadas distrações digitais está por trás da crescente falta de cultura dos jovens”
Estamos malucos com essa história de celular. Já não damos conta das pessoas em nossa volta. Focamos no aparelho, nas informações, WhatsApp, Internet, Facebook, Instagram… E as pessoas ficam em segundo plano, esquecidas e solitárias ao nosso lado. Cada um no seu quadrado, casulo, redoma, cárcere privado, blindagem, com máscara antissocial e “antigente. ”
“ Sempre que um homem se dispôs a afastar-se e a isolar-se para se bastar a si mesmo a filosofia esteve pronta para isolá-lo ainda mais e destruí-lo por meio desse mesmo isolamento. ” (Friedrich Nietzsche)
Enquanto eu escrevia esta crônica percebia inúmeras pessoas centradas no celular cada uma para o seu lado; o contato virtual passou a ter mais valor que o presencial e o aparelho eletrônico mais importante que o ser humano. Poderíamos aproveitar o momento para conversar, criar vínculos, fazer novos amigos reais, mas preferimos os amigos virtuais (se é que existem). Vivemos numa ilusão de que temos centenas de amigos na Internet, Facebook, WhatsApp e outras mídias e, quando nos apercebemos estamos sozinhos na multidão.
“Se você não valoriza seus amigos no mundo real, o que dizer das amizades no mundo virtual…” (L.L.Santos)
Nestes dias percebi que também já entrei nessa “pirâmide”, “onda” ou melhor “vício” de não poder ficar distante do celular – ele passou a ser o meu “amuleto”, santinho de estimação, protetor, padre, confessionário, maior amigo, guarda costa… Tenho sempre que estar próximo dele. Uma relação de dependência. Está tudo errado! Mas, estou na moda, fazendo igual a todo mundo, codependente do celular, informação, novidade, velocidade…
“Não fosse a temperança de alguns, um pouco mais maduros, que sabem como separar o mundo virtual do real e sabem como se comportar adequadamente nos dois, as redes antissociais poderiam ser vistas como verdadeiros manicômios. ” (Swami Paatra Shankara)
Estudos da Universidade de Harvard já identificaram um novo tipo de “distração digital”. Nós já não precisamos mais estar usando o celular, basta estarmos com o pensamento nele, com a expectativa de ver os contatos a todo momento; ansiosos para dar uma olhada a cada minuto que ele vibra ou toca. O corpo não dorme, a mente não relaxa; mesmo sem estarmos com o aparelho junto ao corpo sentimos a vibração no local onde normalmente usamos, tudo faz parte da paranoia.
“As coisas andam de tal forma mudadas, que a gente já tem mais amigos e afinidades no Facebook do que na vida real, mais “contato” virtual do que físico com os velhos amigos.
Não digo nada se as coisas se inverterem definitivamente e aí vamos escolher os amigos pela internet. ” (Marinho Guzman)
É uma verdadeira loucura essa dependência sem limites, dia e noite, com chuva ou sol. Até quando dirigimos desafiamos a nossa capacidade de realizar duas ou mais atividades conscientes simultaneamente, aumentando o risco de acidentes de 11 a 23 vezes ao falarmos ou enviarmos mensagens pelo celular. E o pior, é que uma “cagada” que durava em média 3 minutos, passou em média para 27 minutos, é um olho na “merda” e outro no celular. Nesse ritmo, em breve, esqueceremos de passar o papel e usaremos o celular para limpar a “bunda”. Para completar a desgraça, a contaminação com microrganismos patogênicos e coliformes fecais no celular é maior do que nas cédulas do real e dólar. Até porque dinheiro está mais difícil que celular. Ferrou total! Ansiedade virtual? Ou loucura real?
“Cerca de 20 milhões de passageiros por ano acabam perdendo a condução por ficarem distraídos usando seus celulares — as pessoas não veem o ônibus ou trem passarem…. A maior distração para os passageiros, segundo a pesquisa, é a navegação na internet e em redes sociais (35%), seguida da checagem de e-mails (28%). Depois, estão os jogos (27%), ligações (15%) e vídeos ou TV (7%)…. Atualmente, nós vivemos em um mundo de telas, onde as distrações digitais competem com nossa necessidade de aprender. Mas será que realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo é uma boa ideia? ”
A capacidade de concentração fica prejudicada com tantos aplicativos que cobram atenção. Celulares: smartphone é uma arma de distração em massa. É difícil manter o foco. O celular cria vício. Domesticá-lo não é simples.
“A felicidade da humanidade caminha para um mundo virtual, e o virtual não sabe e nunca saberá o que é calor humano. ” (Thiago Herinch)
Ao amanhecer, o primeiro “bom dia” é para o meu celular, levo-o para o banheiro e me atualizo sobre as notícias da noite. Passo parte do dia ligado nele, antes de dormir dedico alguns minutos ocupado com futilidades, quando deveria priorizar o sono estou ligado no smartphone. Quanta burrice e perda de tempo!
Percebi algumas vezes que em vez de curtirmos os momentos felizes: a música, o churrasco, a cerveja, a viagem, abraçar, beijar, apreciar os momentos os familiares e amigos, estamos ligados no celular: o mal do século, curtindo a dependência maldita!
“Somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade: solidão, ansiedade, depressão, destruição, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar. ” (Erich Fromm)
Quando chegamos a algum local onde deveríamos relaxar, conversar, curtir o momento, ouvir a boa música, degustar um bom vinho, apreciar a beleza do ambiente, saborear as delicias, perceber e valorizar a presença das pessoas… ocorre o esperado: cada um para no seu celular focado nos assuntos externos, tomados pela individualidade e solidão virtual. Somos todos solitários na multidão! O tempo que poderíamos curtir e viver o presente com as pessoas que amamos estamos distraídos no mundo da imaginação e fantasia virtual. Talvez, se vivêssemos menos no mundo virtual, encontrássemos a felicidade no mundo real. No mundo virtual somos superficialmente felizes.
Venusa tinha razão quando disse para Marciana: “ Sai do celular e vai explodir o mundo”. Todos temos as nossas escolhas. Eu escolhi: Explorar o mundo do Conhecimento. Qual a sua escolha?
“Em tempos de mundo virtual eu ainda prefiro uma conversa real. ” (Srta Wrobel)
São Luís, 28 de junho de 2021.
(Resumo adaptado da crônica Explorar ou Explodir o Mundo? Eis a questão! Escrita em 29 de setembro de 2017 e publicada no site falasanches.com e no Livro inédito “Sanches, com a Palavra” de própria autoria.)
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS28.06.2021. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.