Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
“*Sê bendita, querida cidade
Na humildade da Paz Secular,
Cujos anos queremos louvar
Conclamando teu povo Altaneiro”
Recebemos o convite da amiga poetisa Ivone Dutra Mendonça para visitarmos Bacabalzinho de Anajatuba nos dias 14 e 15 de julho de 2023. Arrumamos a bagagem no Renault Kwid branco e partimos de São Luís pela BR 135, passando por Bacabeira, Santa Rita, Entroncamento, Colombo até o destino Bacabalzinho, entre vias em recuperação com longos engarrafamentos, quebra-molas e buracos. A bem da verdade, buracos e quebra-molas sobram na BR 135.
Anajatuba é um termo de origem tupi que significa “abundância de anajás”, por meio da junção dos termos anajá e tuba (abundância). É uma cidade maranhense localizada na mesorregião norte e microrregião da baixada, tem suas terras banhadas pelo rio Mearim a norte, fica distante 130 km da capital São Luís. Foi fundada em 22 de julho de 1854, completou 169 anos de emancipação em 2023. O senso realizado em 2022, indicou 25.322 habitantes, os naturais ou habitantes do município são chamados de anajatubenses.
“*Que o passado em florões de saudade
Com amor te conserva e vigia
Sê bendito, Torrão brasileiro
Bela vila de Santa Maria”
Como dito, minha amada esposa e eu, seguíamos viagem; paramos para almoçar no Espetinho Vitória em Santa Rita, demoramos na conversa com uma família oriunda de Pindaré que viajava para Barreirinhas; depois continuamos o trajeto até o encontro com a anfitriã Ivone Dutra Mendonça, que nos aguardava à sombra de uma mangueira ou amendoeira em frente à sua casa, à margem direita da estrada, em frente à praça da Igreja e de uma escola com o nome do seu pai, Marcos Dutra Mendonça, no povoado de Bacabalzinho, 12 quilômetros adiante de Colombo e,12 quilômetros antes de Anajatuba, na antiga propriedade da família Dutra Mendonça, onde outrora havia fazenda, moinho de arroz e guarda as ruínas da “Usina Ivone”, equidistante 12 km da BR135 e de Anajatuba. A família próspera destacou-se pelo resoluto trabalho do patriarca, deixando o legado para os dois filhos Valdemar e Ivone e familiares, que mantêm o controle das propriedades e bens adquiridos por hereditariedade.
Ao chegarmos na residência dos “Dutra Mendonça”, fomos recebidos pela progenitora Ivone Dutra Mendonça, pelas filhas Gislene e Rosângela, pelo filho Maikon, nora Iraildes, netos Daniel e Thaliane, seus cônjuges Letícia e Waldir e sua bisneta Yolle. Ivone nos apresentou aos familiares; os cômodos da antiga casa dos pais e o museu particular com uma rara coleção de antiguidades, que mantém a sete chaves, como boas lembranças dos saudosos pai Marcos Dutra e do marido Hercules Jorge; objetos de valor histórico, raridades, quadros, entre outros amuletos da sorte para relembrar a tradição familiar e registrar a memória da família; em seguida conversamos por algum tempo à sombra das árvores em frente à residência naquela tarde de sábado; depois visitamos a Fazenda São Bendito, ao grasnar dos gansos, cacarejo das galinhas, vento nas árvores em movimento frondoso, um açude carente de limpeza, a casa e um carro solitários, uma dupla de bezerros afrontando os visitantes; bosta de galinhas e gansos a sobrar pela varanda da casa e gramados ao derredor; a moradia do caseiro em tijolo aparente; assim contemplei o paraíso de Valdemar Dutra Mendonça, irmão de Ivone; ao pôr do sol passeamos de carro pela cidade de Anajatuba, visitamos a Praça da Matriz juntamente com Ivone, filhas e Sidelene, amiga da família que encontramos por lá – uma senhora, mãe de quatro filhos, morena, alegre e sorridente na faixa dos quarenta, que trabalhou para a família “Dutra Mendonça”, hoje tem o seu próprio negócio, estuda Pedagogia e pretende ser Psicopedagoga; com uma história de vida promissora e inspiradora, pelo que soubemos em conversa com Ivone e filhas; ela revela pureza e exprime nas atitudes um misto de lucidez e insanidade, ao sorrir de tudo, depois de ter feito muitas loucuras e do sofrimento que trouxe autoconhecimento e força para construir uma vida rica de experiências.
“Na solidão, desprazer; / distante da santidade;
sem saber o que fazer, / perdeu a sanidade.
Na ilusão do prazer, / deitada na ansiedade;
sem força para correr / não perdeu a dignidade.”
(José Carlos Castro Sanches)
Após alguns anos sem retornar à terra dos meus avós paternos, do meu pai, tios e parentes, fiquei triste ao perceber que a antiga Igreja Matriz, foi demolida dando lugar a uma construção sem apego histórico em arquitetura que destoa da tradição, além do desaparecimento dos restos mortais dos Padres que ali foram sepultados. Pelo que ouvi durante a rápida passagem pela cidade, foi uma decisão isolada, sem o aval da maioria da população local, causando revolta e distanciamento de muitos fiéis. A Padroeira Nossa Senhora do Rosário deve ter chorado em silêncio, inerte diante do sofrimento pela perda do berço sagrado.
“*Salve! Salve! Anajatuba
E teu povo varonil
Nos teus campos verdejantes
Brilham as cores do Brasil”
A pergunta que não quer calar: por que em vez de demolir a igreja não a restauraram? A opção de reerguer uma nova igreja não necessariamente deveria estar vinculada à demolição da original, pelo que vi não faltava espaço para construir um novo templo em volta do antigo ou em outro lugar pretendido. Deve-se pensar na manutenção do patrimônio histórico em vez de substitui-lo por monumento ao vento, frente aos campos verdejantes de Anajatuba que choram lágrimas de sangue saudosos pela bela vista da Igreja de outrora; carcomida pelo tempo com as cinzas da ignorância e os entulhos da demolição alhures.
Quanta ingenuidade dos “homens de boa fé”, embalados pela utopia da renovação. Que Deus perdoe os tolos que apagaram a chama das boas lembranças dos anajatubenses e a mim se fiz julgamento equivocado da decisão que transformou a igreja secular em porção vazia de entulho, sem valor, senão sentimental, para aqueles que amam Anajatuba.
“*Na beleza do campo infinito
No aboio viril do vaqueiro
Tradições do povão brasileiro
Tu conservas, torrão muito amado”
“*Pela cruz o teu povo Bendito
Quando a sombra de ermida nascida
Fez crescer a riqueza do gado
Nesses Campos de Santa Maria”
Eu tinha interesse em visitar o escritor anajatubense Mauro Bastos Pereira Rego, autor da letra do Hino de Anajatuba, percorri as ruas indicadas à procura de sua residência, orientado por um atencioso morador que apontou a casa do ilustre beletrista e dos seus familiares. No endereço indicado, fomos informados por uma vizinha que o poeta viajara para Itapecuru. Assim, saímos de Anajatuba sem nos encontrarmos com o professor Mauro Rego. Quem sabe na próxima oportunidade encontre-o por lá. Se Deus permitir que eu volte!
“*A poesia que os índios cantavam
No jardim de tua noite estrelada
Fez de ti rara joia encravada
Na Esmeralda dos campos floridos”
Em seguida nos deslocamos para o Hotel Plaza em Anajatuba, fomos recepcionados com atenção e simpatia por Rosileia e Denise Barros Lopes; surpreendidos pela excelente manutenção, limpeza e atendimento; tomamos um “banho de gato” e retornamos para as festividades juninas no Ginásio de Bacabalzinho, por lá jantamos, conversamos, assistimos as apresentações dos grupos folclóricos, inclusive com a participação do Padre, de idosos, jovens e alunos das escolas comunitárias.
Padre Arnon de fantasia
na quadrilha de Bacabal
com destaque na homilia
no folguedo é magistral.”
(José Carlos Castro Sanches)
Por volta das 21h, encerrada as apresentações retornamos para Anajatuba, tomamos sorvete na sorveteria do centro, em seguida fomos para o Hotel Plaza. Dormimos com os anjos e acordamos regenerados, tomamos café com bolo, frutas e beijus, enquanto conversávamos com o casal de proprietários do hotel Adriano Barros Lopes e esposa, Leyde Rose. Pedi a eles que identificassem uma pessoa da família Sanches, residente em Anajatuba para que pudéssemos conhecer. O proprietário lembrou-se do Sr. José Ribamar Sanches, e nos acompanhou de moto até a residência do tio-avô desconhecido, em uma rua encoberta por gramado verde, casa avarandada com jardim florido e dois cachorros bem nutridos vigiando a propriedade, fomos recebidos pelo parente até então desconhecido, a partir daquele momento estávamos em casa, seguros em um lugar agradável e familiar, resgatando a memória e a história dos “Sanches”, em Anajatuba.
José Ribamar Sanches é filho de Raimundo José Sanches, este por sua vez era filho Alfredo Augusto Sanches e Maria Alexandrina Sanches. Ao vê-lo lembrei-me do meu avó José Alípio Sanches e do meu tio Raimundo Nonato Sanches. A fisionomia não nega o indiscutível grau de parentesco, bem como as peculiaridades da família Sanches.
Fomos recebidos pelo anfitrião que é neto do saudoso Alfredo Augusto Sanches irmão de “João Sanches” pai do meu avó José Alípio Sanches (a quem ele chama de “Zé de Cora” – por ser a mãe do meu avó), contou-me que conhecia a família “Sousa” da minha avó Rita Zélia Sousa Sanches; o meu pai José Firmino Sanches (a quem ele chama de “José filho de Zé de Cora”). Falou também sobre a origem da Família “Sanches” na Península Ibérica – colonizada por Portugueses e Espanhóis, sendo que o “Sanches” com “s” ao final, segundo o historiador Ribamar Sanches, é originário dos portugueses, enquanto o “Sanchez” com “z”, descende dos espanhóis. Feliz por conhecer o professor e funcionário da Prefeitura de Anajatuba, desejo voltar a visitá-lo com o meu pai, em breve e, continuar a busca ao meu passado.
Conversávamos com Ribamar Sanches e sua patroa, quando o telefone da minha esposa tocou informando que Ivone e as filhas Rosangela e Gislene nos aguardavam no Hotel Plaza para um passeio pelo Areal, povoado onde vivem os familiares do meu pai e avô, seguido do povoado Afoga e Porto das Gabarras, outrora, local de grande movimentação de embarcações que traziam alimentos e suprimentos para os portugueses que ocupavam a região de Anajatuba e circunvizinhança.
No Areal, apenas passamos, sem parar; no Afoga visitamos um poço antigo que a amiga Ivone Mendonça afirmou ter sido usado pelo seu pai, Marcos Dutra, avós e familiares, trazendo boas lembranças da sua infância. O poço hoje acumula água podre, depreciado pelo tempo e falta de manutenção, dizem as más línguas que a água é usada para lavar cavalos – eu suspeito, porque pelo visto, nem sapo quer contato com aquela água parada, de má aparência e odor desagradável.
Estávamos em quatro carros: o primeiro tendo como condutor José Carlos Sanches, este que vos escreve, acompanhado pela esposa Socorro Sanches e a amiga Ivone Mendonça; o segundo com a Thaliane, o marido Waldir e a filha Yolle; o terceiro conduzido por Maikon filho de Ivone, juntamente com a esposa Iraildes, o filho Darius e a irmã Rosangela; o quarto sob a direção de Daniel Mesquita, neto de Ivone, sua mãe Gislene Mesquita e a esposa Letícia.
Fizemos uma rápida e estratégica parada no Afoga para aguardarmos Daniel, mãe e esposa, que se deslocavam de Anajatuba ao nosso encontro, com a chegada deles, partimos em comitiva para o Porto das Gabarras, por uma estrada construída com tabatinga sobre os campos verdejantes de Anajatuba, onde as garças, jaçanãs, os touros e as vacas desfrutam de plena liberdade.
Aqui um adendo sobre o detalhe construtivo da estrada que percorríamos. Em vez de usarem laterita (piçarra) para construírem a estrada, recolheram a tabatinga do próprio terreno do campo e elevaram uma passagem de veículos – a tabatinga em contato com a água da chuva vira um mingau de lama – que gruda nas rodas dos veículos, fazendo-os patinar parado, sem permitir o movimento, acentuando o risco de tombamento durante o deslocamento.
O meu avó tinha boas recordações do Porto das Gabarras, sempre comentava sobre as experiências naquele lugar, o que me fez ir até lá para conhecer; encontrei outra paisagem no local. Não poderia ser diferente, seria impossível manter a realidade de outrora, apesar de ainda conservar as características de um lugar pouco habitado com pequena interferência humana.
“*E onde outrora os Tupis te habitavam
O teu nome, por certo, Luzia
Por teus anos, tão longos vividos
Sob as bênçãos de Santa Maria”
“Gabarras era o nome dos barcos de dois andares que eram utilizados para transporte de gado, suínos e até mesmo pessoas para a capital São Luís.
O Porto das Gabarras foi o maior porto da Baixada Maranhense durante o século XIX, até meados da segunda metade do século XX, permitindo o desenvolvimento comercial do município de Anajatuba. Por sua localização estratégica, foi um dos locais escolhidos para combater a invasão francesa, além de ter sido marcante na Guerra da Balaiada.
Durante os séculos XVII e XVIII, Anajatuba foi o grande abastecedor de carne da capital, pois para a Vila de Porto das Gabarras convergiam a maioria das antigas estradas de gado que partiam do sul do Maranhão.”
Visitamos o local assoreado, outrora grande porto da região, atualmente apenas um pequeno regato estreito, tomado pela vegetação e solo sedimentado nas margens. Durante a visita, o córrego tinha não mais que um filete de água, visto que a maré estava seca; duas pequenas embarcações amarradas ocupando toda extensão do córrego, sem possibilidade de movimento, sendo factível a saída dos barcos do local onde se encontravam, apenas na maré alta.
Era hora do almoço, bateu a fome, nuvens carregadas no céu; para nossa surpresa começou a chover bruscamente. Entramos apressados nos veículos com o propósito de seguir a viagem de volta – foi aí que a natureza nos pegou de supetão e deu um “nó de porco” -, difícil de desatar sem a ajuda de um especialista. Todos nós sabemos que água com tabatinga (terra argilosa) não combinam com estrada para tráfego de veículos leves, com pneus de borracha; água e argila combinam com argamassa para produção de cerâmicas, telhas e tijolos para construção de casas, entre outras utilidades.
Daniel, apesar de jovem era o motorista mais experiente, “especialista” em estradas enlameadas, saiu na frente e conseguiu passar pelo “rallye” na estrada de tabatinga; os demais, inclusive eu, ficaram presos, rolando pneus sem sair do lugar; um destes o Maikon, filho de dona Ivone, que dirigia o seu veículo à minha frente, quase desceu ladeira a baixo; o que me fez tremer de medo e o coração quase sair pela boca; a pressão arterial deve ter atingido o pico; amarelei, parei o carro, deliguei o motor e disse para os passageiros que estavam comigo (Socorro e Ivone) que não avançaria um milímetro se a chuva não passasse. A minha esposa também ficou tensa e ansiosa diante da situação, era visível a sua preocupação; dona Ivone estava mais preocupada em saciar a fome – queria que seguíssemos viagem de qualquer modo – ela gosta de aventura, viajou por estradas perigosas com o saudoso marido e aprendeu a não ter medo da morte. Ela está vacinada contra todas as adversidades possíveis, reagindo com extrema e invejável tranquilidade, espero que um dia eu atinja esse nível de maturidade e equilíbrio emocional diante das incertezas e adversidades.
Sou corajoso para falar e escrever o que penso, porém medroso para me aventurar nas incertezas; aprendi a trabalhar com segurança e tenho percepção de risco aguçada motivo pelo qual parei. Imaginei que se dona Ivone quisesse seguir, que fosse a pé; eu não sairia dali sem estar seguro da condição de trafegabilidade na estrada. Certamente, se eu soubesse que o material de construção era de tabatinga, não teria ido ao Porto das Gabarras.
Durante a breve parada no Afoga, antes de nos dirigirmos ao Porto das Gabarras, conversamos com alguns moradores que estavam sentados na varanda de uma casa, nas proximidades do caminho de acesso para o poço e seguimos viagem; estes ao perceberem a chegada da chuva pediram para um motociclista nos informar sobre o risco de transitar pela estrada molhada; era tarde, ao meio do caminho o motociclista voltou, do contrário ficaria preso na lama. Ao retornamos ao local de encontro no Afoga recomendei aos moradores que ao perceberem grupos de turistas ou visitantes deslocando-se naquela região – informem antecipadamente sobre os riscos – sob pena de sofrerem acidentes graves por desconhecerem o perigo da estrada de tabatinga molhada.
Às vezes a ignorância nos permite chegar a lugares desconhecidos, todavia, sofremos as consequências dos nossos atos; em algumas circunstâncias podemos contar as experiências sorrindo dos próprios erros, decisões equivocadas, aventuras descabidas, noutras não; como ocorreu com os cinco passageiros do submarino Titan que desejavam visitar os destroços do Titanic no fundo do mar e nunca mais voltaram para contar a história. Eles negligenciaram a segurança e pagaram caro – literalmente, com a própria vida – além de milhões de dólares perdidos no fundo do mar, pelo passeio sem volta.
Ainda bem que o sol voltou a brilhar sobre os campos de Anajatuba, a tabatinga começou a secar e Daniel, o motorista de rallye, nos salvou retirando todos os carros da estrada com perícia invejável. Ele dirigia o próprio carro em marcha a ré sobre a estrada estreita de tabatinga. Retirava um carro, avançava; corria, pegava o outro, avançava; descia deslocava outro… como uma lançadeira de máquina, alegre e sorridente parecia fazer a coisa mais simples e gostosa da vida. Enquanto a sua esposa e demais parceiros de aventura, saíam dos carros e caminhavam a pé sobre a argila mole e untosa. O clima de “relax”, voltava à normalidade; a tensão e o medo tomaram rumo ignorado. Era tudo alegria novamente. Os bobos que pisaram na tabatinga com sandálias e tênis – quase perderam os calçados, nesse aspecto eu fui mais esperto, pisei com os pés descalços, depois lavei-os no Plaza Hotel e estava tudo limpo e resolvido.
“*Desabrocham mil flores das ervas
Abre as palmas o belo anajá,
E o futuro, por certo dirá
No vigor de teus jovens agora”
A situação nos apresentava mais uma lição aprendida para a vida: devemos saber não apenas para onde vamos; também, o trajeto, o meio de transporte, a condição da estrada e o tipo de material de construção. Pelo que sei, argila é utilizada para fazer pote, telha, tijolo e outros objetos nas olarias de Rosário, terra natal; não para construir estradas nos campos úmidos da baixada. Assim como nos ensinou que mais importante que tudo isso, é a forma como enxergamos o momento e os acontecimentos; Enquanto Maikon bufava e se maldizia pela dificuldade apresentada, Daniel apreciava o momento como uma criança que acaba de ganhar um pirulito, exalando felicidade e aproveitando toda a diversão que o momento proporcionava.
Graças a Deus saímos do atoleiro, retomamos a viagem de volta para o Hotel Plaza, fizemos o “checkout” e seguimos apressados para o almoço em Bacabalzinho, quase duas horas da tarde com o sol a pique; calor maior que o de Teresina no Piauí. Eita terra quente meu pai do céu! Suspeito que dona Ivone desejava comer as castanhas que havíamos levado num pequeno depósito plástico, mas estava apressada para chegar em casa e almoçar. Eu dizia a ela que castanha causa refluxo na expectativa de sobrar alguma para mim. Graças ao pai do céu que saímos da estrada de tabatinga em paz, vivos, com algumas castanhas na vasilha e inspiração para escrever essa crônica contando as aventuras da amiga poetisa de Bacabalzinho, Anajatuba.
“Passeávamos em Anajatuba, / terra do meu pai e avós.
Tocávamos tambor, gaita e tuba, / fazendo arte com os cipós,
enquanto Ivone Mendonça / revivendo as lembranças dos bisavós
clamava a Deus com fome de onça,/comendo castanha nos igapós.”
(José Carlos Castro Sanches)
Enfim, chegamos de volta ao paraíso dos “Dutra Mendonça”, almoçamos galinha assada, carne, arroz, feijoada com feijão duro (após dias cozinhando) não sei de onde saiu aquele feijão – saberei com Gislene Mesquita – para não recomendar aos mestres-cucas. Apesar da dureza do feijão, eu fiquei impressionado, quando ao final do almoço, não sobrou um só grão de feijão para fazer remédio, raspamos a panela e comemos tudo – não era apenas dona Ivone que estava com fome de leão, estávamos todos famintos. Constatei então que a premissa do dito popular “a fome é o melhor tempero” é verdadeira, após o almoço tomamos refrigerante; jogamos conversa fora na varanda da casa e degustamos uma saborosa sobremesa regada a suquinho de coco e de bacuri. Saciados, o sono quase nos abateu, todavia não podíamos dormir, tínhamos o compromisso de retornar para São Luís naquela tarde e, chegarmos em casa antes do anoitecer.
De barriga cheia era hora de voltar para a capital – partimos às 16h; passamos em Rosário; visitamos os meus pais José Firmino Sanches e Zanilde Castro Sanches. Contei-lhe as novidades da viagem a Anajatuba, Areal, Afoga, Portos das Gabarras; sobre a visita ao parente Ribamar Sanches, ao final da conversa, convidei-os para irmos em breve a Anajatuba. Na rápida “visita de médico” nos despedimos, uma hora depois estávamos em nosso doce lar, na Ilha do Amor, Jamaica Brasileira, Cidade dos Azulejos, São Luís do Maranhão. Ligamos para informar à minha mãe que havíamos chegado em paz, logo após enviamos mensagem de agradecimento à amiga, aventureira e ansiosa poetisa anajatubense Ivone Mendonça, pela receptividade, carinho e atenção durante nossa estada em Bacabalzinho e Anajatuba, bem como para avisá-la da chegada segura ao nosso destino. Tudo agora era apenas lembrança, de um passado, presente em nossa história. Parabéns, Anajatuba pelos 169 anos!
“*O Que o passado fiel te conservas
Para a nossa grandeza e alegria
Pois louvamos, também, com outrora
teu nome de Santa Maria”
(*Hino de Anajatuba – Letra Mauro Bastos Pereira Rego)
São Luís, 25 de julho de 2023.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras, Artes e Ciências, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão, da União Brasileira de Escritores e da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro Correspondente da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências e da Academia Vianense de Letras.
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas, A Vida é um Sopro!, Gotas de Esperança; Pérolas da Jujuba com o Vovô; Pétalas ao Vento e Borboletas & Colibris (em parceria com Pedro Neto). Visite o site falasanches.com e a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o trabalho do autor.

Adquira os Livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja on-line www.ameilivraria.com; os livros da Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!, no site da Editora Filos: https://filoseditora.com.br/?s=Sanches

NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS25.07.2023. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária devido ao plágio de textos do autor, por pessoas que queriam assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

valdeci
3 de agosto de 2023 at 23:27
Obrigado ..sempre tive um q secreto sobre Anajatuba.