Por José Carlos Castro Sanches Site: www.falasanches.com
Açailândia e Imperatriz
Um perfeito casamento
Casal próximo, alegre e feliz
Sintonia em movimento.
(José Carlos Castro Sanches)
O trem em movimento parecia estar parado, eu só percebia o deslocamento pelo passar da paisagem. Nas estações os passageiros entravam e saiam do trem. Um povo sempre alegre, levando a vida num repente. O chefe do trem observava a tripulação, as linhas e o maquinista para garantir que a viagem fosse segura – para ele cada viagem é um nova conquista, a manutenção dos vagões, os serviços e os passageiros são seu foco em tempo integral.
O trem corria a oitenta quilômetros por hora – em oito horas – cruzou catorze estações, de São Luís a Açailândia o tempo presente era apenas um momento para apreciar o trajeto, o passado uma lembrança e o futuro a esperança. Como disse Robert Frost: “Trabalhando arduamente 8 horas por dia você poderá se tronar um chefe e trabalhar 12 horas por dia.”
Chegando à estação ferroviária de Açailândia o amigo escritor Evangelista Motta, estava à minha espera, ao encontrá-lo tiramos fotos para espantar as moscas, baratas e ratos, em seguida cumprimentamo-nos com um forte abraço.
No trajeto da estação ferroviária para o centro da cidade de Açailândia, visitamos o acadêmico Hélio Braz, amigo de Evangelista Motta e seguimos para uma entrevista com o distinto comunicador Eron Oliveira, do podcast “Ponto de Vista”, acompanhado pelo jornalista Márcio Pires, e por Wanderson Lopes.
Foram quase duas horas de bate-papo sobre diversos temas: Literatura; história; aniversário de 43 anos da fundação de Açailândia, lançamentos dos nove livros de Evangelista Motta, entre outros assuntos, curiosidades e novidades. Seguindo a premissa de William Ernest Henley: “Eu sou dono e senhor de meu destino; Eu sou o comandante da minha alma.”
No dia seguinte ao amanhecer dona Raimunda esposa do anfitrião Evangelista Motta, que me acolheram em sua residência, serviram café com beiju, suco, frutas, entre outros. Em seguida Evangelista com seu tino apurado de guia turístico, apresentou-me a cidade de Açailândia, as praças, as igrejas, o mercado central, o teatro municipal, as escolas, os restaurantes e o comércio local.
Eu estava acompanhado por um escritor e historiador, que explicava em detalhes, as minúcias desde a criação do município; construção da Belém-Brasília; do seu Corcel II, que à época, caiu num lago e foi vendido imediatamente após ser retirado, ensopado de água; dos cabarés de outrora onde reinava a violência; do desenvolvimento e progresso da região tocantina nas últimas décadas; dos rios; da origem do nome “Açailândia”; da Academia Açailandense de Letras; das dificuldades e glórias literárias; dos livros escritos; das casas onde morou na cidade; da atuação empreendedora como farmacêutico, quase médico, dentista protético, comerciante, criador de gado, e um pouco da sua trajetória pessoal e profissional desde o nascimento em Tuntum do Maranhão.
Continuou a relatar a sua história pregressa sobre a sua passagem por Imperatriz e São Luís; do encontro, namoro, casamento e vivência com a esposa Raimunda, dos filhos, dos netos, dos amigos que o ajudaram na jornada, das amizades que mantêm a longos anos, das oportunidades perdidas, das alegrias e tristezas, da saudade das coisas que viveu, dos arrependimentos, das superações das adversidades e desafios, dos procedimentos cirúrgicos no coração, das viagens vendendo livros, das visitas ao Rio de Janeiro, Brasília e outros estados da federação, dos carros que possuiu, da programação para o evento de lançamento dos seus livros, do apoio de amigos, dos pastores e das igrejas, da maçonaria, suas patentes e honrarias e contribuições para o crescimento da missão maçônica em Açailândia…
…dos prédios construídos, dos livros escritos e das editoras locais, dos custos e pagamentos das dívidas para publicação dos livros, das mortes de trabalhadores no período de construção da BR-010 (Belém-Brasília); dos políticos e da política local, da segurança pública, educação e saúde.
Visitamos o Parque Ambiental de Açailândia, as obras de pavimentação e recuperação de áreas alagadas e drenagens no centro da cidade; a igreja e o marco zero da cidade; o local onde reuniram-se com o Presidente Juscelino Kubitschek para inauguração da Belém-Brasília; o ponto de encontro com José Sarney; o local onde outrora foi um aeroporto invadido pela população, segundo Evangelista Motta, ele presenciou todo o movimento, mas não teve coragem de ocupar nenhum terreno à época – sendo que hoje é a área comercial mais valorizada da cidade. Após o passeio histórico pela cidade jantamos num restaurante local e tomamos um delicioso sorvete na Oba Oba Sorvetes.
Nos três dias que passei em Açailândia fiquei hospedado na residência de Evangelista Motta e Raimunda, com a cuidadosa atenção do casal que ofereceu o que havia de melhor durante a estada – quarto com ar-condicionado, cama e travesseiros confortáveis, lençol, toalhas de banho e de rosto, banheiro limpo, comida gostosa: cozido de bode, lanches, café reforçado e tudo mais.
O único ponto perdido pelo anfitrião Evangelista Motta, foi ter deixado o convidado na sala esperando o almoço por quase uma hora, julgando que o visitante estivesse tomando banho, depois me contaram que o casal chegou a pensar que eu havia morrido no quarto, pela demora de chegar à mesa servida. Enquanto isso o anfitrião se passou para a comida, quando já estava de barriga cheia, lembrou-se da visita, indo à sua procura no quarto, banheiro.
Ao chegar à sala o visitante estava lendo, comendo as palavras, para não morrer de fome – quando então Evangelista e dona Raimunda às gargalhadas receberam o visitante à mesa – comida fria e gozação que perdurou por algumas horas. Na oportunidade eu disse ao amigo Evangelista Motta, quem tem com o que me pague não me deve nada, aguardarei você em minha casa, muito em breve. Com um amigo desse, quem precisa de inimigo? A displicência do anfitrião serviu de lição para a partir daquele vacilo, convidasse o visitante para o café, almoço e jantar; intensificando o cuidado e o zelo nos passeios pela cidade.
Quem nunca errou que atire a primeira pedra! “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.” (Jo 8,7). Todavia meu amigo Evangelista Motta, fique tranquilo que o que foi dito não passa de ameaça infundada, sei que não era sua intenção. Para assegurar que não farei o mesmo, seguirei a premissa de Victor Hugo: “Não imites nada nem ninguém. Um leão que copia um leão torna-se um macaco.”
Era chegada a hora do evento literário, lançamento de 9(nove) livros do escritor e historiador Evangelista Motta, no Teatro Municipal de Açailândia. Os convidados presentes, prefeito da cidade, amigos, confrades, admiradores, leitores etc.
Diante da plateia um telão reproduziu um filme contando a história do autor e das suas obras, bem como das suas contribuições para o engrandecimento de Açailândia. Um grupo de música dava as boas-vindas, jovens da maçonaria apoiavam na organização, o pastor da igreja em que o autor frequenta carregava cadeiras, mesas, banners, livros e ajudava na organização do evento; os apresentadores iniciaram com a chamada dos participantes para a mesa de honra; discursos dos presentes e do autor homenageado; doação de 27(vinte e sete) sacolas com livros selecionados pelo autor para os ilustres homenageados presentes – em gratidão pelas contribuições às obras lançadas – seja pela escrita dos prefácios, apresentação, cessão de fotos, informações relevantes, ajuda na divulgação do trabalho e contribuições diversas.
Ao ser instado para usar a palavra, o autor emocionado pediu ao presidente da Academia Açailandense que procedesse a leitura do seu discurso, assim foi feito.
Ao final da cerimônia de lançamento senti um enorme desprazer ao ver que nenhum dos presentes adquiriu sequer um livro de proeminente escritor e historiador Evangelista Motta, decepcionados devolvemos os exemplares para o veículo do autor e voltamos para casa tristes pela falta de sensibilidade dos presentes em prestigiar tão dedicado trabalho de anos, com elevado custo, sem o devido reconhecimento dos conterrâneos.
Apesar de ser comum ouvir dizer que não devemos nos preocupar quando não formos reconhecidos, mas nos esforçarmos para sermos dignos de reconhecimento não é fácil estar diante do fato, sem ter a sensação de fracasso na missão, apesar do firme propósito e convicção de que vender livros é tão difícil quanto tirar leite de boi.
Para doer menos o que nos resta é seguir a epígrafe de Rubem Alves: “Valorizar o seu trabalho não é criar expectativa do reconhecimento alheio. O reconhecimento deve partir de você. Autovalorização é o segredo!”
Querido amigo Evangelista Motta, o segredo do sucesso é: Faça tudo com amor e dedicação que o reconhecimento virá com o tempo, não para fortalecer o seu ego, mas para que as pessoas percebam que você é uma pessoa iluminada, usada por Deus de forma única para elevar o conhecimento, a sabedoria e transformar sementes em belas árvores frondosas com a sua extraordinária força, foco, fé e perseverança. Você é mais que vencedor!
Voe livre sobre o mar como a gaivota
Entre tantos proeminentes escritores
Um brilho intenso reluz de Evangelista Motta
Por meio da sua história, dos livros e leitores.
(José Carlos Castro Sanches)
Era sábado e o dia seria dedicado à cidade de Imperatriz, que apesar do destaque, da beleza e da idade ainda não a conhecia. Foi amor à primeira vista, as avenidas, as ruas, o mercado central de dimensão colossal, o movimento das pessoas, os veículos, o calor, o sou estridente, o rio, o restaurante flutuante, a beira-rio.
Os restaurantes, as casas e os prédios residenciais, a abundância de empreendimentos comerciais, a vida alegre dos feirantes, as moças bonitas de mãos firmes, os homens feios, a Academia Imperatrizense de Letras com seus acadêmicos e patronos, a arte, a cultura, a ciência.
Durante o passeio pela bela cidade acompanhado pelos amigos Evangelista Motta e Domingos César conheci um pouco da história de grandes vultos que por ali passaram e aportaram – entre eles Che-Guevara; Sálvio Dino.
Juntaram-se a nós durante a visita à Academia Imperatrizense de Letras, os amigos Ilma Cabral e Laurentino Cabral, após a visita e breve passeio pela cidade, nos reencontramos no flutuante, por lá bebemos algumas cervejas ao sabor das mentiras, invencionices e lorotas e poucas verdades do trio: Evangelista, César e Laurentino, os três se revezavam nas estórias de pescador, cada uma mais cabeluda que a outra, eu de verdade não sei quem mentia mais dos três.
Enquanto Ilma Cabral e eu sorriamos das invencionices dos mentirosos-mor. Foi um encontro divertidíssimo, antes passamos no mercado de artesanatos, ao lado da Academia Imperatrizense de Letras e compramos alguns souvenirs como lembranças da cidade, Ilma e eu, ela com mais dinheiro na bolsa de grife, comprou um barco, eu com a porta-cédula quase vazia, comprei as velas.
Ao fim do dia nos despedimos, retornamos para Açailândia, estávamos em três no Volkswagen conduzido por Evangelista, César e eu. Aprendi muito sobre Açailândia, Imperatriz e um pouco sobre a região tocantina com os dois renomados escritores e historiadores.
Chegamos às 16h de volta a Açailândia, a pedido de César fomos até o mercado central, onde ele matou a sede tomando uma cerveja gelada – pelo que vi ele não passa duas horas sem beber um gole da água que passarinho não bebe, para balancear a temperatura corporal, por vez também um gole de cachaça para não perder o hábito – uma quente e uma fria, no revezamento dois por um, vinte e quatro horas por dia.
Esse era apenas o aquecimento para uma reunião que ocorreria às 17h na Academia Açailandense de Letras, Artes e Ciências. A reunião da AAL conduzida pelo Presidente Watson Feitosa Araújo, contou com a presença dos acadêmicos Hélio Braz, Luiz Breim, Domingos César, Conceição Formiga, Evangelista Motta, e deste que vos escreve José Carlos Sanches (Convidado), entre outros acadêmicos(as) que não registrei os nomes.
(OBS: Aguardo a foto com os nomes de todos os presentes à referida reunião para substituir a imagem temporária abaixo e incluir os nomes no texto)
Deslocamo-nos à procura do local da reunião, que a cada mês ocorre num lugar diferente, é lamentável que a Academia de Letras de Açailândia, ainda não tenha uma sede própria para realizar os seus préstimos à comunidade e engrandecer a literatura, a arte e as ciências no município, pelo que ouvi dizer durante o passeio, existe uma proposta para construção da sede própria, com terreno doado pela prefeitura, certamente em breve estarão bem acomodados durante as reuniões do sodalício. Que assim seja! É o meu sincero desejo!
Aproveito o ensejo para fazer um agradecimento especial ao confrade e amigo Evangelista Motta – Acadêmico da Academia Açailandense de letras – AAL pela calorosa acolhida em sua casa, associada aos passeios turísticos e históricos pelas cidades de Açailândia e Imperatriz, convite para o lançamento e livros presenteados.
A Domingos César – Acadêmico da Academia Imperatrizense de Letras – AIL e da Academia Açailandense de letras, pela companhia durante a viagem a Imperatriz, por apresentar o belíssimo trabalho realizado pelos acadêmicos da AIL, bem como por nos ciceronear na breve passagem pela Princesa do Tocantins, além das histórias de pescador contadas durante o almoço no barco restaurante e bar flutuante.
Ao casal amigo, a confreira Ilma Cabral – Presidente da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes – AMCIBA e o engenheiro Laurentino Cabral pela companhia durante a visita à AIL, ao Centro de Artesanato de Imperatriz e por financiarem o almoço regado a cerveja, suco e muitas mentiras dos pescadores Evangelista, César e Laurentino que tornaram o nosso dia mais alegre e fortaleceram a amizade com gargalhadas e boas prosas.
Ao amigo radialista Eron Oliveira, “Ponto de Vista”, podcast, ao jornalista Márcio Pires e Wanderson Lopes – agradeço pelo profissionalismo, atenção e cuidado na condução da entrevista, especialmente pela cordialidade e simpatia durante o encontro. Minha eterna gratidão a todos vocês.
Quem disse que açailandense
Não aprecia prosa e poesia
É espartano ou ateniense
Propagando uma heresia.
(José Carlos Castro Sanches)
Ao término da reunião na AAL – nos dirigimos para a residência de Evangelista Motta, tomamos um rápido banho, nos alimentamos, peguei a bagagem, por volta das 19h30, estávamos de saída para a rodoviária de Açailândia de onde retornaria de ônibus para São Luís. Fui levado ao terminal rodoviário pelo casal Evangelista e Raimunda.
Às 19h45, no ônibus da empresa CRISBEL Executivo, partíamos de Açailândia para São Luís, depois de uma noite mal dormida durante a viagem, aportamos na rodoviária de São Luís às 6h da manhã de domingo, tendo a amada esposa à minha espera para levar-me de volta ao nosso lar-doce-lar.
Chegando ao apartamento tomei café e dormi até às 15h, relaxei, recuperei o ânimo e a força depois tomei banho, vesti a roupa de festa, calcei os sapatos, passei o melhor perfume e coloquei uma bela boina para proteger a cabeça brilhante acoitada pela calvície.
Às 17h, minha esposa e eu chegávamos à Vila Encantada para comemorarmos o primeiro aniversário de Rebeca Sanches Cutrim (3ª neta), filha da milha filha primogênita Rafaelle Monteiro Sanches Cutrim e de Erlandson Soeiro Cutrim. Virei criança, comi pipoca, picolé, bolo, salgados; bebi refrigerante, suco; jantei e joguei conversa fora.
Com a família reunida, naquele momento especial, eu estava realizado pelas conquistas, ao fim da festa voltei para casa, era chegada a hora de dormir sorrindo e sonhar ao lado do meu bem! Como a minha visita a Açailândia e Imperatriz, sessenta e dois anos depois de ter nascido em Rosário, seguimos em busca incessante do casamento perfeito! Deus seja louvado!
O casamento perfeito
É força de expressão
Todo mundo tem defeito
Cada um com sua missão.
(José Carlos Castro Sanches)
São Luís, 18 de junho de 2024.
José Carlos Castro Sanches. É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras Artes e Academia Vianense de Letras. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de liberdade.
Autor dos livros: Tríade Sancheana – Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das coisas que vivi na serra gaúcha, Me Leva na mala e Divagando na Fantasia em Orlando. Participa de antologias brasileiras.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS18.06.2024. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.