“Amo aqueles que plantam árvores mesmo sabendo que nunca se sentarão em sua sombra. Plantam árvores para dar sombras e frutos para aqueles que ainda não nasceram.” Rubem Alves
Há aproximadamente dois anos, o meu pai cortou todas as árvores da frente da casa dele em Rosário-MA. Foi uma confusão; a vizinhança ficou incomodada, o pessoal da prefeitura que não planta nada, também reclamou, os internautas encheram as redes sociais para ofendê-lo, até alguns familiares se manifestaram contrário àquela atitude drástica. Ele se manteve firme na decisão, ainda que incomodado e preocupado com a repercussão do caso, manteve o controle da situação e aguardou calado o resultado.
“Inteligente é quem usa a sabedoria para não entrar em brigas desnecessárias” (Autor desconhecido)
Só esqueceram que quem plantou todas aquelas árvores foi ele. Quem irrigou foi ele. Quem percebeu que elas estavam definhando, perdendo as forças e iriam morrer brevemente devido aos bichos que as corroíam por dentro foi ele.
“Às vezes a sabedoria é apenas calar e observar.” (Autor desconhecido)
Então numa sábia decisão o meu pai cortou o mal pela raiz e plantou no lugar daquelas árvores doentes – novas mudas de árvores frutíferas – acreditando que em breve elas ficariam frondosas, dariam frutos e sombra. Ali ele plantava a “esperança da sombra” enquanto a maioria via apenas o tronco das árvores cortadas ele enxergava frutos e sombras no bosque. O meu pai acreditava na sombra das azeitoneiras.
“Todo rio nasce de um pequeno olho d’agua” (Autor desconhecido)
Na semana passada quando fui a Rosário, em visita aos meus pais, verifiquei que as azeitoneiras cresceram rapidamente, e a sombra aumenta a cada dia naquele bosque. A sombra já é uma realidade. O meu velho e querido pai tinha razão, quando dizia que as mudas cresceriam mais frondosas e produziriam frutos, diferindo das árvores de outrora.
Ao perceber as belas árvores em frente à casa, naquela rua de terra, próximo à ferrovia da antiga RFFSA, onde, ainda passam os cargueiros que partem de São Luís, com destino a Teresina, passando por outros municípios; e em sentido contrário cortando as terras maranhenses, lembrei-me da canção “De Teresina a São Luís” do cantor e compositor maranhense, João do Vale.
“Peguei o trem em Teresina
Pra São Luiz do Maranhão
Atravessei o Parnaíba
Ai, ai que dor no coração.”
Minha amada mãe, que me acompanhava até à porta da casa, ao ver as azeitoneiras, disse com certa preocupação: “Quando elas crescerem e começarem a dar frutos, estes cairão, sujando o chão e os carros que estacionarem embaixo delas.” É verdade querida mãe, você tem toda a razão. Mas, o meu pai estava certo quando decidiu cortar as árvores doentes e plantar a esperança; o alimento e a sombra em lugar delas. Ele acreditou na sombra como poucos homens acreditam, não só acreditou, como agiu. Enquanto todos se detiveram no presente, ele visualizou o futuro. Essa é a diferença entre a sabedoria e a ignorância; entre a visão futurista e a retrógrada; entre a morte e a vida. Quem planta colhe!
“Quem carrega o próprio balde dá valor a cada gota derramada no chão.” (Autor desconhecido)
Agora é aproveitar para sentar nos bancos do bosque, jogar conversa fora, apreciar a natureza, namorar, comer azeitonas (também chamadas de olivas) e tomar azeite de oliva, à sombra das azeitoneiras plantadas por José Firmino Sanches. Hoje eu tiro o chapéu para ele!
“Segue teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas,
O resto é a sombra
De árvores alheias.” Fernando Pessoa