Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
Sou professor de “Corresponsabilidade Social e Empreendedorismo”, em decorrência da catástrofe ocorrida no Rio Grande do Sul, tive a ideia de desenvolver um material para reflexão com os alunos com enfoque em corresponsabilidade social, empatia e solidariedade. Durante as discussões em sala de aula surgiu naturalmente um aspecto relativo ao comportamento humano que me incomodou bastante, ao ponto de dedicar precioso tempo para discorrer sobre o tema.
Percebi que em todas as abordagens havia uma condição incômoda relatada pelos alunos relativa ao resgate das pessoas e animais durante a tragédia ambiental que assolava os gaúchos. A minha inquietação dizia respeito ao senso de valorização e priorização do resgate dos animais em detrimento dos humanos.
Então perguntei-lhes: “Quem vocês salvariam primeiro em condição de risco grave e iminente de vida, um ser humano ou um animal?” Fui surpreendido com a resposta de quase metade dos alunos – que optariam por salvar primeiro os animais, sem nenhum argumento que justificasse a prioridade para tal ação.
Daí, surgiu a segunda pergunta: “O que está levando as pessoas a valorizarem mais os animais do que os humanos? Por que essa condição que no passado seria secundária está ganhando adeptos no presente? Do ponto de vista humanitário, não posso acreditar que os animais sejam mais valorizados e amados que os humanos em qualquer circunstância. Se o questionamento: Quem você salvaria primeiro um animal ou um homem? Fosse direcionada a mim, teria uma resposta certa e imediata: um homem! Todavia, fui em busca de um melhor entendimento da questão em destaque e obtive respostas que me induziram a um pensar diferente, embora que não sejam, a meu ver verdades absolutas, merecem reflexão.
É realmente surpreendente e preocupante perceber essa mudança de percepção em relação à valorização dos animais em detrimento dos seres humanos. Existem vários fatores que podem contribuir para essa mudança de atitude.
Primeiramente, a relação das pessoas com os animais tem se transformado ao longo do tempo. Com o aumento da consciência ambiental e o reconhecimento da importância da preservação das espécies, muitas pessoas passaram a desenvolver laços afetivos mais fortes com os animais, considerando-os como membros importantes de suas vidas. Isso pode levar algumas pessoas a valorizarem mais a vida animal do que a humana em certas situações.
Além disso, a desconfiança e desilusão em relação às atitudes humanas também podem influenciar nessa mudança de percepção. Em um mundo marcado por conflitos, desigualdades sociais e crises humanitárias, algumas pessoas podem se sentir mais conectadas emocionalmente aos animais, enxergando neles uma pureza e inocência que não encontram na complexidade das relações humanas.
Por fim, a superexposição das pessoas às imagens de sofrimento humano nas mídias sociais e noticiários pode gerar um sentimento de saturação e impotência diante das tragédias humanas, levando-as a buscar refúgio emocional na relação com os animais.
Estou aqui novamente diante do paradigma inicial. Quanto à pergunta sobre quem eu salvaria primeiro, um animal ou um homem. Recebi como resposta: “Cada situação é única e complexa, e não podemos generalizar uma resposta. A decisão de quem salvar em uma emergência depende de diversos fatores, incluindo o contexto específico, as condições do local e as possibilidades reais de resgate.”
As minhas dúvidas permaneciam, bem como a inquietação diante das respostas, então continuei a buscar o entendimento sobre: O que justificaria a progressiva desconfiança e desilusão dos humanos com os seus pares?
Se tenho dúvida entre salvar um animal e um ser humano, e priorizar o animal – esse fato por si só deveria ser preocupante do ponto de vista de valorização dos semelhantes.
Como podemos buscar a igualdade social e reduzir as crises humanitárias? Como poderemos ser harmônicos com a natureza, distanciando-nos dos homens?
Mais uma vez fui surpreendido com a resposta que segue:
Entendo que essas questões são muito complexas e envolvem diversos aspectos da natureza humana, da sociedade e da relação com o meio ambiente. A desconfiança e desilusão podem ser resultado de experiências pessoais, de crises sociais e até mesmo de questões estruturais em nossas comunidades. Quanto à priorização entre salvar um animal ou um ser humano, é um dilema ético que pode variar de acordo com crenças pessoais e valores.
Quanto à busca pela igualdade social e a redução das crises humanitárias, acredito que passa por um esforço coletivo em promover justiça, educação, acesso a recursos básicos e respeito aos direitos humanos. É um desafio enorme, mas a história nos mostra que avanços podem ser feitos quando nos unimos em prol desses objetivos.
Quanto à harmonia com a natureza, acredito que é fundamental repensar nossa relação com o meio ambiente e buscar formas mais sustentáveis de convivência. Isso envolve práticas mais conscientes em relação ao consumo, preservação de ecossistemas e investimento em tecnologias verdes.
É importante continuar estimulando reflexões éticas e morais nas discussões em sala de aula, buscando compreender as raízes dessas mudanças comportamentais e promovendo o desenvolvimento do senso crítico dos alunos. São questões profundas e importantes para refletirmos como sociedade. O desafio está lançado, agora é com você! O que você acha sobre esse tema?
São Luís, 09 de maio de 2024.
José Carlos Castro Sanches. É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras Artes e Academia Vianense de Letras. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de liberdade.
Autor dos livros: Tríade Sancheana – Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das coisas que vivi na serra gaúcha, Me Leva na mala e Divagando na Fantasia em Orlando. Participa de antologias brasileiras.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS09.05.2024. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.
M.+J.+Corrêa
14 de maio de 2024 at 18:25
Belíssimo texto para uma reflexão profunda sobre solidariedade e atitudes comportamentais em situações críticas. Parabéns!!!
José Carlos SANCHES
18 de maio de 2024 at 22:54
Agradeço pela atenção e incentivo constante. Forte abraço, José Carlos Sanches, falasanches.com