
Por José Carlos Castro Sanches
PARTE 2:
Na varanda um jogo de sofá
Encoberto com corino verde
Que veio da minha outra casa
Da Travessa da Fortuna, 92
Agora suspenso por pedras
Para segurar o peso da solidão.
No envolto da varanda as muretas
De 60 centímetros de altura
Recobertas com pedras de mármore
Onde sentávamos para conversar
E apreciar o belo jardim florido.
No telhado inclinado a cobertura
Com as perna-mancas, caibros e ripas
De pau d’arco escolhido nas madeireiras
Carregadas pelo peso das telhas
E alinhavadas pelas teias de aranhas
Ratos, osgas e outros insetos menores
Também fazem a festa no telhado.
As sete janelas e dois janelões
Oito portas e a porta principal
Que quase sempre era fechada
A entrada da casa é pela porta
Da cozinha, diferente do planejado
Todas em madeira de lei sofrendo
Com as intempéries: sol quente
Chuva e tristeza por falta da gente.
As grades de aço das janelas, portas
E das venezianas da cozinha e banheiros
Pintadas com tinta de pintar navio
Quatro venezianas, uma na cozinha
No banheiro central e nas suítes
Do casal e da filha caçula
Quatro das janelas da sala e escritório
Uma da copa, e quatro dos quartos
Resistem bravamente à oxidação e desgaste
Mas, sentem a falta do nosso contato.
O piso cerâmico alinhado que comprei
Na “Potiguar” escolhido com carinho
O pedreiro caprichou para colocar
Desde a varanda até os quartos
E demais cômodos seguindo o esquadro
Sem desvios para não ficar molhado
Hoje está sozinho esperando ser pisado.
A fossa que recebe os dejetos
Fica sob o jardim florido
Talvez por isso seja lindo
Porque está sempre bem nutrido.
O banheiro externo à área de serviços
Nunca foi concluído – era um plano
Ser usado na área da piscina que ficaria
Ao fundo do nosso quintal, entre a caixa
D’agua, o limite da cisterna enterrada
E o fundo da suíte do casal, onde hoje
Cresce a planta “Vitória” e a “Palmeira
Imperial” para alegrar o fundo do quintal.
Pendurados nas paredes da varanda
Estão as Araras de madeira
Que trazia nas lembranças de viagens
Também um peixe feito de palha de coco
Que trouxe de Santo Amaro
Na visita aos lençóis maranhenses
Também junto trouxe duas cerâmicas
Pintadas que adornam as venezianas
Da cozinha e banheiro central.
Cada Arara representa uma filha
E o peixe o meu filho
Há dias não escuto o canto das Araras
Também não vejo o mergulho do Peixe
Tenho saudade das coisas do passado
Que jamais poderão voltar
O que sobra é a esperança de um dia
Vê-las cantar e o peixe poder nadar.
Tudo tem um objetivo, nada foi feito
Ao acaso a casa está entre dois corredores
Um de cada lado um estreito outro largo
De um lado os quartos ventilados
Do outro a cozinha iluminada
Divisórias de vidros nas janelas
Para entrar a claridade, venezianas
E portas e janelas para manter
O ambiente agradável, iluminado e arejado.
Tudo foi muito bem projetado
Pensei em cada detalhe, eram dois
Pavimentos no projeto original
Com os recursos escassos
Mudei o plano inicial, mantive
Apenas o térreo: varanda, garagem
Sala de estar com escritório ao lado
Copa, cozinha e um banheiro social
Uma suíte para o casal, outra
Da filha caçula que escolheu primeiro
Dois quartos sem banheiro
Para a primogênita e segunda filhas
Um corredor bem lardo de 2 metros
De largura que dá amplitude à casa
Pelas paredes de grande altura
Tudo agora parece um deserto
Aguardando o meu retorno
Para comemorarmos com afeto.
Sobre os móveis da casa
Muitos outros objetos
De valia inestimável
Todos têm o seu valor
Desde as pequenas lembranças
De cima da geladeira e freezer
Aos cômodos da sala e copa
Cozinha, banheiros e quartos
Tudo foi feito como amor
Não se justifica a distância
A saudade me atormenta
Volto logo à sua presença.
Não pensem que acabou
Existem muitas outras coisas
Que não se pode contar
Outras consigo lembrar
O quadro de luz da fachada
O projeto do banheiro dos dois quartos
Que nunca se concretizou
A piscina que não foi feita
O segundo pavimento na área
De serviço que não passou do projeto
A procrastinação deu alento
Tem coisas que não agregam
Mas, ainda assim, gastamos tempo.
As barras de aterramento elétrico
Soterradas, como as tubulações
De água, esgoto e desgosto
A parte elétrica muito bem distribuída
Ligação trifásica para garantir a luz
O motor do portão de alumínio
Para facilitar o entra e sai e garantir
A rápida entrada com segurança
A cerca elétrica para amedrontar
Afastar e dificultar aos gatunos
Que gostam de se apropriar do alheio
A calçada pintada para reduzir
A sujeira, na porta de entrada
Daquela casa modesta e abençoada.
Além do cheiro, do ar saudável
Do vento, da luminosidade
Das árvores, arbustos, pássaros
Animais e a natureza bela
Dos vizinhos, do cheiro da comida
O amor, a paz e a felicidade
Que nos faz sentir bem naquela
Maravilhosa casa, benção de Deus
Presente para a nossa vida.
Cada grão de areia, pedra
Folha seca, inseto, ruído,
Aroma, canto de cigarra
Dos passarinhos, os ninhos
O movimento do camaleão na folhagem
E a bosta na garagem
O ruído da chuva e as goteiras no telhado
O raio de sol penetrando pela janela
O vento movimentando as árvores
As flores desabrochando no jardim
O Coaxar dos sapos durante a noite
A revoada desordenada dos morcegos
Tudo está intimamente ligado
Com a beleza e o encanto
Da minha casa, meu lar, doce lar
Da singeleza do meu recanto
Que sempre haverei de amar.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
São Luís, 11 de julho de 2020.
Visite o site falasanches.com e página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho.
Adquira os Livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja online www.ameilivraria.com.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches, com crédito aos autores e fontes citadas, e está licenciada com a licença JCS11.07.2020. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.

ELOY MELONIO
16 de julho de 2020 at 18:43
Maravilhoso! Nada se compara ao nosso lar, nos sentidos humano, material e espiritual
sanches
30 de agosto de 2020 at 17:16
Querido confrade Eloy Melonio, você disse tudo. O lar e a família são os nossos maiores patrimônios. Forte abraço, José Carlos Sanches