Por José Carlos Castro Sanches
“Deus põe sal na minha moleira para me dar mais juízo. Um chapéu na cabeça me convém para me guardar do sereno. Ou, talvez, uma cadeira de balanço para sossegar os meus pensamentos que se afogam nas torrentes de águas.” (Doracino Naves)
Pablo Neruda e Fagner tem algo em comum comigo que percebi com o passar do tempo. Ambos usam “Boina Cinza” que é o meu hobby. Sou colecionador de bonés, chapéus, e boinas de várias formas, tamanhos, modelos, estados, países. Uso diariamente em quase todos os ambientes, nem sempre oportunos, mas o prazer e o gosto quem faz é a gente. Não sendo por impedimento formal a satisfação supera o sacrifício.
“Se Deus me permitir, entrarei no céu de lenço e chapéu.” (Larissa Tomaschewski)
Além de boinas temos em comum a poesia, a sensibilidade e a vontade de fazer o melhor para encantar os leitores e admiradores.
Quando visitei a casa de Pablo Neruda em Santiago, conheci um pouco da sua história. A genialidade deste poeta chileno que recebeu o Premio Nobel de Literatura em 1971, considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX, me encanta e libera a minha inspiração para a literatura.
Identifiquei-me com esse escritor quando assisti ao filme “O Carteiro e O Poeta”, de 1994, conta sua história na Isla Negra, no Chile, com sua terceira mulher Matilde.
A obra de ficção passa-se na Itália, onde Neruda teria se exilado. Lá, numa ilha, torna-se amigo de um carteiro que lhe pede para ensinar a escrever versos.
Desde então passei a admirá-lo e buscar conhecer a sua trajetória de vida. Um poeta revolucionário e apaixonado que transforma letras em flores, palavras em jardins floridos e frases em sonetos de amor.
“Te recordo como eras no último outono.
Eras a boina cinza e o coração em calma.
Em teus olhos pelejavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caiam na água de tua alma…
Sinto viajar teus olhos e é distante o outono:
boina cinza, voz de pássaro e coração de casa
fazia onde emigravam meus profundos anseios
e caiam meus beijos alegres como brasas… (Pablo Neruda)
Raimundo Fagner Cândido Lopes, conhecido como Fagner. Mais jovem dos cinco filhos de José Fares, imigrante libanês, e Dona Francisca, Fagner nasceu na capital cearense, embora tenha sido registrado no município de Orós. É um cantor, compositor, instrumentista, ator e produtor brasileiro.
O nome de Fagner vem sendo incluído na lista dos maiores cantores de música latina.
No início, cantando músicas regionais e algumas consideradas por muitos como intelectuais, Fagner conseguiu atingir um público fiel, que enche, até hoje, ginásios pelo Brasil para cantar suas canções.
Raimundo Fagner, o garoto cearense descendente de libaneses, que deixou o Ceará em 1971, em busca de fama e do sucesso, se transformou num homem bem sucedido, reconhecido no Brasil e no exterior. O sonho se tornou realidade.
Em 1991 lançou o álbum, Pedras Que Cantam. As vendas explodiram devido ao grande sucesso nacional do carro-chefe do álbum, Borbulhas de Amor. O disco recebeu disco de platina tripla por vender 750 mil exemplares e as canções: Borbulhas de Amor, Pedras Que Cantam e Cabecinha no Ombro ficaram durante oito meses nos primeiros lugares nas rádios do Brasil. Desde então me tornei seu fã incondicional.
O bolero “Borbulhas de amor” de autoria do dominicano Juan Luiz Guerra é um dos maiores sucessos da carreira do cearense Raimundo Fagner.
Esta famosa canção adaptada para o português pelo escritor e ensaísta maranhense Ferreira Gullar tornou-se a minha musica predileta.
Sempre que a escuto parece que flutuo nas nuvens, no reluzente delírio harmônico de um momento mágico e sublime num deleite ardente de Borbulhas de Amor que movimentam as ondas e reoxigenam a minha alma. Nenhuma outra canção me faz relaxar, sonhar, flutuar e amar como esta.
“…Quem dera ser um peixe
Para em teu límpido aquário mergulhar
Fazer borbulhas de amor pra te encantar
Passar a noite em claro
Dentro de ti
Um peixe
Para enfeitar de corais tua cintura
Fazer silhuetas de amor à luz da lua
Saciar esta loucura
Dentro de ti… (Raimundo Fagner)
As músicas de Fagner na sua “grandeza poética e letras profundas” me levam a viajar pelo infinito juntamente com os belos poemas de Pablo Neruda. Somos três apaixonados, pela música, literatura, prosa e poesia.
Dois destes já demonstraram a sua grandeza como Poeta e Músico reconhecidos pelo talento e genialidade. Enquanto o discípulo, aspirante de poeta e escritor sem nenhuma aptidão para cantor segue remando o barco com força, foco e fé, admirando a proeza dos mestres, sábios professores e missionários das artes a propagar realizações e contribuições para a literatura e música mundo afora.
Devemos escolher um modelo para imitar e seguir os passos. Mentores espirituais, intelectuais e emocionais. Pessoas que sempre nos coloquem para cima e perto de onde queremos chegar. Alguém que sempre nos inspire, eleve, nos faça sentir bem e sobrevoar a profundidade da alma com a sensibilidade de um artista original numa dimensão superior à nossa.
“É tão difícil as pessoas razoáveis se tornarem poetas, quanto os poetas se tornarem razoáveis.” (Pablo Neruda)
Pablo Neruda e Raimundo Fagner me fazem pensar, escrever, voar sem asas, sonhar a liberdade protegido e inspirado pela BOINA CINZA.
“Será que a calvície, o sol intenso do meu torrão e a batida forte do meu coração são apenas desculpas para encobrir a minha aura com uma “Boina Cinza” de ilusão. Disfarce para parecer tão próximo dos campeões, que teimam em fazer música e poesia como o fogo que queima os lampiões nas terras férteis do meu maranhão?” (José Carlos Sanches)
São Luís, 20 de abril de 2018.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e mais nove livros inéditos.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches, com crédito aos autores e fontes citadas, e está licenciada com a licença JCS20.04.2018. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.