
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam.
Não gorjeiam como lá.”
(Gonçalves Dias)
Nesta crônica quero descontrair um pouco o leitor, com um texto repleto de cacófatos. Sigam em frente com a leitura e ao final você entenderá do que trato. Boa leitura e reflexão!
Passeava pelos bosques do condomínio quando percebi uma palmeira com um belo cacho repleto de “coco babaçu”, parece que havia sido trabalhado a mão de tão bem organizado que estavam as frutas da palmácea mais abundante no Maranhão, a palmeira de coco babaçu.

“A palmeira do babaçu apresenta a sua principal área de ocorrência nas faixas de transição limítrofes da floresta latifoliada equatorial. É encontrada em maior quantidade nos estados do Maranhão e Piauí, sendo considerada uma planta característica da formação vegetal Mata dos Cocais, uma zona de transição entre as florestas úmidas da bacia Amazônica e as terras semi-áridas do Nordeste brasileiro, no chamado Meio Norte. Também pode ser encontrada nos estados do Ceará. Pará, Mato Grosso e Tocantinss.” (Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Babaçu)
“ O Babaçu é o fruto de uma palmeira nativa da região norte do Brasil e que apresenta em seu interior várias sementes ou amêndoas de onde é extraído o Óleo de Coco Babaçu. O babaçu é uma cultura extrativista, não havendo plantações comerciais. Características da planta. Palmeira elegante que pode atingir até 20m de altura. ” (Fonte: www.trekearth.com/www.emdiv.com.br)
Segui a caminhada matinal, caminhado pelas passarelas e observando a beleza daquelas plantas alinhadas com as curvas do canteiro, como se tivessem sido transplantadas, mas pareciam ter sido preservadas na fase de construção do condomínio, para dar mais rusticidade ao lugar, mantendo a vegetação natural da nossa terra, naquele lugar artificial, onde foram construídos prédios de concreto armado, numa área, que outrora fora de vegetação nativa e que deveria ter sido preservada, pela proximidade do parque do Rangedor que fica apenas a uma rua de distância, basta atravessá-la e estamos junto à natureza pura.
Via também enquanto avançava para completar os trinta minutos a que me propunha caminhar naquele bosque, algumas palmeiras imperiais, brinquedos de criança construídos com estruturas de madeira rústica, muito bem conservados, pintados e limpos; percebia também um lindo gramado, com manutenção em dia, um homem cortando a grama com uma roçadeira costal; um senhor passeando com o cachorro na área destinada a eles; o guarda da vigilância patrimonial do portão de entrada dos fundos do condomínio, atento aos movimentos das pessoas; os dois colegas da manutenção arrumando um jacaré exótico construído de madeira, borracha e outras coisas que não sei bem definir o que é – os jovens trabalhadores Miguel e Rodrigo se deliciavam naquela arrumação, faziam com tanto carinho o reparo do “bicho” que pareciam crianças brincando de bola de gude, pipa, carrinho, boneca, casinha ou pula-pula. Era visível o amor dedicado àquela missão.
Enquanto isso, a moça bonita da limpeza se esmerava varrendo a calçada nas proximidades dos mantenedores; quando de vez em quando chegava um afoito por perto e lhe dava um abraço, um beijo ou coisa parecida, ela é agradável, bonita a trabalhadeira e os homens se aproveitam da sua gentileza e generosidade para tirarem uma casquinha.
Outros dois homens pintavam o tablado da piscina que nestes tempos de quarentena de pandemia do coronavírus deixaram de ser usadas, assim como, os brinquedos dos parques e outras áreas comuns do condomínio, tudo para evitar o contato dos moradores e reduzir a probabilidade de proliferação do assombroso vírus da morte, coronavírus, COVID-19, que transformou a relação das pessoas, multiplicando o pânico e o terror em todo mundo.
Eu continuava atento ao precioso cacho de coco babaçu, naquele bosque ensolarado e verde, todavia, ainda não estava satisfeito porque não tinha tirado uma foto ao seu lado para fazer uma crônica em sua homenagem, independentemente da foto resolvi escrever, mas logo me veio a pergunta: que título darei para a crônica? Logo, veio uma ideia diferente, pensei será que devo colocar esse título, não chocará os leitores? Insisti na procura de outro infelizmente não encontrei uma alternativa que me convencesse então resolvi assumir que seria: “No Maranhão Babaçu Abunda. ”

Em consequência da escolha me veio à mente a palavra cacofonia ou cacófato, um vício de linguagem que representa o som estranho ou engraçado gerado pela união de algumas sílabas. Ela ocorre normalmente entre a sílaba do final de uma palavra e do início de outra. “Babaçu abunda”. Também, podem produzir palavras novas chamadas de neologismos.
É verdade que o babaçu é encontrado em abundância no Maranhão, portanto não se justificava o medo das palavras, juntarem-se produzindo uma sonoridade desagradável, afinal somos todos cientes de que a língua portuguesa permite essa formação, em diversas situações do cotidiano, senão vejamos: uma mão lava a outra (mamão); eu vi ela na janela (viela); eu amo ela (moela); ela tinha os olhos de mel (latinha); passei batom na boca dela (cadela); na vez passada (vespa); ela te tinha contado a verdade (tetinha); já que tinha feito todas as tarefas foi embora (jaquetinha); distribuiu as bolachas uma por cada participante (porcada); meu coração por ti gela (tigela); o nosso hino é muito lindo (suíno); o marido colocou a culpa nela (panela); desculpe então (pintão); preciso encerar, vou me já!
Se até Camões, no soneto “Alma Minha gentil, que partiste” foi criticado por formar o cacófato “maminha” imagina eu, com “babaçu abunda. ” Valeu a pena arriscar uma prosa!
“As palmeiras altas e eretas nos dão uma lição de dignidade e postura diante das intempéries da vida.” (Anair Werich)
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
São Luís, 06 de maio de 2020.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches, com crédito aos autores e fontes citadas, e está licenciada com a licença JCS06.05.2020. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.