Por José Carlos Castro Sanches
“A vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la. ” (Gabriel Garcia Márquez)
Gabriel García Márquez, ainda estava impressionado com aquele ato de coragem do Presidente Fernando Collor de Melo ao implantar o Plano Collor. Você deve estar se perguntando: o que tem a ver o Gabo com Collor? Continue a leitura que entenderá.
No ano passado visitei a biblioteca da Academia Luminense de Letras – ALPL, acompanhado do cordial Ferreira da Silva, Presidente da Academia. Ao contemplar os livros empoeirados na estante, visualizei um raro exemplar do volumoso livro “Cem Anos de Solidão”, logo disse ao confrade que queria ler aquela preciosidade. Todavia, não me apropriei de imediato da obra estimada deixando-a para outra oportunidade. Daquele dia em diante, sempre que me encontrava com o amigo Ferreira da Silva lembrava-o do referido livro.
Eu dizia “Cem anos”, ele entendia “Mil dias”, até que em visita à sua residência, enquanto conversávamos sobre literatura na varanda da sua casa, lembrou-se do meu pedido, pediu licença pegou um livro na estante e entregou-me. Logo vi o título “Mil Dias de Solidão. Collor Bateu e Levou”, disse-lhe que não era aquele o livro que havia me interessado para ler, para não ser indelicado com o dileto anfitrião resolvi levá-lo comigo, pela curiosidade que me despertou sobre o tema “Política no Brasil. ”
“A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento. ” (Stanislaw Ponte Preta)
Assim, peguei o livro de capa preta com uma sombra de Collor como se estivesse sentado com as mãos juntas próximas ao rosto (ou um jarro de flores mortas ao fundo, não está muito claro aos meus olhos, devido a visão turva provocada pela miopia, hipermetropia ou astigmatismo, sei lá o que, e os óculos vencidos), num quarto escuro que representa bem o seu martírio e isolamento nos mil e vinte dias do seu governo. O título traduz a peregrinação e o sofrimento do biografado, bem descrito pelo autor Cláudio Humberto Rosa e Silva, jornalista, assessor de comunicação, conselheiro e finalmente porta-voz do Presidente. “A obra é um relato nervoso e emocionado sobre a fantástica trajetória de Fernando Collor de Melo do quase anonimato para a glória, e daí para a desgraça, a humilhante queda. A redução para quase nada, de um esplêndido e fascinante projeto pessoal e político. ”
“A política brasileira é lamentável. Não se encontra um político honesto e aqueles que assim são raramente chegam ao poder e se conseguirem duas saídas lhes restam: Sucumbir à corrupção ou serem destruídos pelos desonestos. ” (Mário Pereira Gomes)
Hoje conclui a leitura de “Mil Dias de Solidão” e constatei de forma clara e inequívoca o quanto o Brasil está contaminado por políticos inescrupulosos, também fui surpreendido com o caráter do ex-presidente Fernando Collor a quem passei a admirar pela determinação, coragem, inteligência, postura de líder, coerência de pensamento, não ceder à pressão dos adversários e visão do futuro, apesar da arrogância no trono e do desprezo aos correligionários e adversários, que o fizeram sucumbir às trevas.
“Em política, a comunhão de ódios é quase sempre a base das amizades. ” (Charles Tocqueville)
‘Gabo riu muito quando lembrou do bloqueio dos cruzados no dia seguinte à posse de Collor. Eu estava em São Paulo, nos primeiros dias do novo governo fiquei impressionadíssimo com a coragem do bloqueio. Um motorista de taxi me contou, maravilhado, que o industrial mais rico do Brasil naquele dia amanheceu com tanto dinheiro quanto ele. ’ (Pg. 324 – Mil Dias de Solidão)
Sei que não é motivo de riso nem de satisfação, mas aquele dia foi marcante para milhões de brasileiros que mantinham os parcos recursos na poupança e foram confiscados pelo governo, para Gabo foi motivo de galhofa.
“Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso. ” (Gabriel Garcia Márquez)
Ainda não sei o que ele descreve para justificar os “Cem Anos de Solidão” mas, sobre os “Mil Dias de Solidão” já posso opinar: tem político traidor sobrando para enganar o povo brasileiro, usineiro não gosta de pagar o que deve e Collor de Melo detestava aproximação com as pessoas que o ajudavam ou escreviam sobre ele, que o diga o jornalista e escritor Fernando Nery, que gastou as 366 páginas do seu livro “A História da Vitória – Porque Collor Ganhou”, e foi recebido com descortesia pelo então Presidente. Collor gostava muito da sua própria companhia, se bastava.
O homem que sabia conquistar pessoas como ninguém carecia, no entanto de talento para conservá-las. Collor era, ao pé da letra, a confirmação de Samuel Adms, para quem “um amigo no poder é um amigo perdido”. Provavelmente ganhei um inimigo ao citá-lo nesta crônica.
“Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta. ” (John Galbraith)
Grande mestre Ferreira da Silva, obrigado pela indicação de leitura. Nada ocorre por acaso. Encontrei o Gabo em “Mil Dias de Solidão” para ter a certeza de que preciso ler um dos maiores clássicos da literatura “Cem Anos de Solidão”.
“A solidão é perigosa. É viciante. Uma vez que você se dá conta de quanta paz há nela, você não quer mais lidar com as pessoas. “ (Hedonist Poet)
São Luís, 25 de fevereiro de 2021.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense. Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e outros dez livros inéditos. Visite o site: falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho como escritor, cronista e poeta. Adquira os Livros da Tríade Sancheana, composta pelos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja online www.ameilivraria.com.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS25.02.2021. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.