José Carlos Castro Sanches
“Não existem grandes conquistadores que não sejam grandes políticos. Um conquistador é um homem cuja cabeça se serve, com feliz habilidade, do braço de outrem. ” (Voltaire)
Ivar Saldanha tem rua, vila, conjunto habitacional e bairro com o seu nome em São Luís, só não tem opções de fotos disponíveis no Google, encontrei apenas uma que se repete em todos os escritos que citam o seu nome. Também, apesar da busca incansável, encontrei poucos registros biográficos e, informações da trajetória de sucesso daquele homem simples que se tornou governador do nosso estado.
O que me fez pensar que os notáveis políticos e personalidades de outrora em nossa capital, não tinham a vaidade que nós temos ou numa segunda hipótese, não foi dada a importância devida àquele homem de valiosas contribuições para São Luís e por extensão para o estado do Maranhão, por esse motivo, com o propósito de resgatar parte da sua biografia, o escolhi como Patrono na Academia Luminense de Letras, ocupada por este conterrâneo e contemporâneo rosariense, que ora o homenageia.
“A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las. ” (Aristóteles)
Lembro-me quando criança que Ivar Saldanha era um homem muito respeitado em nossa cidade, dono de uma personalidade forte, exímio conhecedor das minúcias políticas, o guru daqueles que almejavam crescer na política, não tinha os privilégios dos atuais vereadores, prefeitos, deputados e governadores, ao ponto de dirigir o seu próprio carro e viajar sozinho pelas estradas da vida, mas era prestigiado e venerado por aliados e opositores.
Dirigia o seu fusca amarelo pela cidade de Rosário e adjacências, neste que se não me falha a memória sofreu um acidente fatal na BR 135, no campo de perizes, após colisão com outro veículo e pelo descuido no uso do cinto de segurança sofreu severas sequelas, seguiu para o hospital e dias depois, partiu desta para outra dimensão.
Na minha infância e adolescência percebia que existia uma rivalidade entre Ivar Saldanha e Orlando Aquino, parentes próximos que se confrontavam para manter a hegemonia política no município de Rosário, brigavam nos palanques e sentavam-se para conversar na porta da casa ao final do dia, assim cresci aprendendo que os políticos desde o passado agem da mesma forma. O fato relevante é que enquanto o cunhado chegou a Deputado Estadual, ele com sua astúcia, senso apurado e transito fácil entre os destacados políticos da época ascendeu na carreira e galgou posições de destaque no Maranhão. Tenho a leve convicção pelo que ouvi dizer que Ivar Saldanha foi o político mais influente em nosso estado, depois de José Sarney.
“Em política, a comunhão de ódios é quase sempre a base das amizades. ” (Charles Tocqueville)
Ivar Saldanha era aquele homem que parecia solitário, mas todos queriam estar ao seu lado em busca dos seus conselhos e orientações. Diziam que era feroz e duro com os inimigos; gentil e grato aos amigos, só posso imaginar, porque mantinha distância dele pelo que todos diziam à época, era um homem difícil de se encontrar pelas ruas da minha querida cidade, ou estava na capital nas diversas atribuições que possuía ou em sua casa isolada na “Quinta de Ivar Saldanha”. Era uma casa grande, que sempre desejei conhecer e nunca tive a oportunidade, tinha uma certa aura de mistério naquele lugar, misturada com a minha curiosidade que permanece viva até hoje, talvez por isso o tenha escolhido para fazer parte da minha história literária, quem sabe eu possa desvendar o enigmático recôndito daquele conceituado e admirável estadista e homem público.
“Aquele que tem uma profissão tem um bem; aquele que tem uma vocação tem um cargo de proveito e honra. ” (Benjamin Franklin)
Não sei se era amado por todos, mas posso garantir que todos se orgulhavam da sua influência e capacidade de liderança, além do respeito e reverência que os rosarienses e ludovicenses prestavam ao egrégio Ivar Figueiredo Saldanha, mais conhecido como Ivar Saldanha.
Nasceu em Rosário (MA) no dia 8 de março de 1921, filho de Raimundo João Pires Saldanha e de Maria Antonieta Figueiredo Saldanha.
Ingressou na Rede Ferroviária Federal S.A. em 1945, sendo funcionário da empresa até 1947, quando se transferiu para a Caixa Econômica Federal, ocupando uma diretoria até 1950. Nesse ano desincompatibilizou-se do cargo para concorrer a mandato eletivo.Iniciou sua carreira política em outubro de 1950, quando foi eleito deputado estadual no Maranhão, na legenda do Partido Social Trabalhista (PST).
Foi presidente da Caixa Econômica Federal no Maranhão, prefeito de São Luís por três vezes, deputado estadual por sete vezes (exercendo quatro vezes o cargo de presidente da Assembleia Legislativa), deputado federal por duas vezes e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
Em 14 de maio de 1982, quando exercia a quarta presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão, assumiu o cargo de governador do Maranhão. Substituiu o então governador João Castelo, que renunciou ao mandato para concorrer ao Senado Federal pelo Maranhão.
Ivar Saldanha governou o Maranhão até 15 de março de 1983, quando foi sucedido pelo governador eleito no final de 1982, Luis Rocha, o primeiro a ser eleito diretamente pelo voto depois de 1965.
Após três anos sem mandato, voltou a concorrer a cargo eletivo em novembro de 1986, elegendo-se deputado estadual na legenda do Partido da Frente Liberal (PFL). Assumindo sua cadeira na Assembleia Legislativa em fevereiro de 1987, dois anos depois voltou a ser eleito presidente da casa, passando a dirigir também os trabalhos da Constituinte estadual. Permaneceu no cargo até o fim de janeiro de 1991, quando se encerraram seu mandato e a legislatura, afastando-se em seguida da política. Nesse mesmo ano foi nomeado conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), cargo no qual permaneceu até 1993, quando se aposentou.
Em 2 de fevereiro de 1999, morreu no acidente automobilístico em São Luís, aos 77 anos. Era casado com Amália Aquino Saldanha, com quem teve dois filhos.
Atualmente é homenageado “in memoriam” como patrono da cadeira 29, da Academia Ludovicense de Letras, ocupada por José Carlos Castro Sanches. Espero poder contribuir para resgatar um pouco da história perdida no tempo deste político por excelência que saiu do anonimato na minha pacata cidade de Rosário para o estrelato na política maranhense.
“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam. ” (Platão)
São Luís, 07 de novembro de 2020.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e outro dez livros inéditos.
Visite o site: falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho como escritor, cronista e poeta.
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