PREFÁCIO DO LIVRO “ SOLIDÃO, AMOR, LÁGRIMAS E MARESIA” DE FRANCISCO MOREIRA – 30/12/2020
Por José Carlos Castro Sanches
Francisco Moreira é um poeta crítico, melancólico e realista. Seus poemas retratam as percepções do cotidiano, a inquietude e insatisfação de um homem ao confrontar-se com a realidade política, econômica e social. Num constante dilema entre a cruz e o punhal o poeta se deleita no romantismo com um misto de sentimentos que transitam entre o amor, a paz, a solidariedade, a justiça revelando o incomodo limiar entre sonho e realidade quando visita a intimidade dos pensamentos, desejos em busca das respostas para suas indagações, amores correspondidos ou não e, as memórias da infância feliz em Pindaré Mirim. Deslumbra-se ao deambular nesse trajeto da terra natal até a capital maranhense, destilando a seiva perfumada como se fosse o elixir da longa vida tão cobiçados pelos alquimistas. Desde a origem humilde até a Ilha de Upaon açu, e outras passagens pelas regiões paraenses onde viveu momentos de alegria e tristeza, bênçãos e aflições, que o permitiram contemplar o belo e o feio, o natural e o artificial, o corpo e a alma, a vida e a morte, o misterioso e o explícito, a luz e a negridão decantados em suas meditações poéticas, ao seu estilo único. Afinal, cada um percorre a sua trajetória, os caminhos retos e tortuosos a partir dos quais edificam a sua história, alguns guardam em segredo, outros como Francisco Moreira decidem desnudar-se e deixar fluir por meio da pena escorreita e fluida o precioso néctar da linguagem poética, dom supremo que permite elevar pensamentos e ideias e transportá-las para o coração daqueles que apreciam as belas-letras.
O poeta Francisco, militante das artes desde muito jovem, transita pela música e literatura. Admirador e leitor de renomados escritores e poetas brasileiros, caminha entre eles experimentando com amor e paixão os primeiros passos que o conduzirão ao sonhado pódio literário. Ele visualiza o “modus operandi” da engrenagem humana que permeia as ilusões, alegrias, virtudes, anseios, vitórias e frustrações, sendo mais propenso a uma reflexão taciturna, tristonha, silenciosa e sombria como o poeta pré-modernista Augusto do Anjos, por vezes demonstra amargura, angústia e pessimismo frente à realidade que o circunda. Não se entrega totalmente ao pessimismo do Italiano Giacomo Leopardi, considerado anti-Pascal, incrédulo, negativista e descrente, como o poeta Leopardi, sua poesia toca, sem ferir, em algum lugar na alma tornando quase impossível não gostar do que escreve.
Para a alegria dos leitores o amor é tema recorrente entre os poetas, então, Francisco Moreira como que fugindo da melancolia e do realismo profundo que o atormenta, parte para o amoroso reencontro com a vida romântica em versos dedicados aos amores que libertam a sua alma das algemas da solidão e o fazem levitar como “Espumas Flutuantes” e segue como se fora um eterno apaixonado por “Ana Amélia, Iracema, Helena ou A Moreninha”, movido por suspiros poéticos da solidão que buscam a liberdade no seu torrão natal onde nasce a inspiração mais pura do poeta; também na natureza bela que o encanta e fascina e, sobretudo nas pessoas que tornaram possível a vitoriosa missão do poeta do Vale do Pindaré.
O autor descortina sua vida simples nos poemas que compõem este livro, descrevo abaixo breves considerações a respeito do que tive o privilégio de ler em primeira mão com o propósito de incentivá-lo a prosseguir a leitura das belas reflexões poéticas que compõem esta obra.
Na Ilha o poeta canta, decanta, banha, surfa, caminha, escorrega nas curvas, dorme nos guetos e se perde nos braços da ilha do amor.
No amor verbal é feliz e não procura motivos para o sofrimento. Mesmo na contradição acredita que o amor, sem guardar mágoas, é amigável e descomplicado.
A sua rua era silenciosa, com muitas fruteiras, passarinhos que alegravam o amanhecer e propagavam sementes que germinavam e cresciam às margens do Rio Pindaré.
Tem um Anjo de Cristal retratado num bibelô frágil que se quebra ao cair do birô, deixando saudade ao poeta que externa a dor da morte e a decepção pela partida inesperada.
A sua aspiração reflete o desejo de amar e prosperar, de erradicar a fome, o analfabetismo, o desemprego, as injustiças – e como diz “aspira” que os jovens assumam o comando, e a posição de destaque como “mandantes do continente”.
Na política demonstra sua indignação com a incapacidade “de dizer não dos políticos” e a desfaçatez para ludibriar o povo com propostas não cumpridas.
Audição à luz dos olhos é uma homenagem a Beethoven – músico talentosos e único, solitário, romântico excêntrico que deixava fluir as melodias inspirado nas árvores e passarinhos durante os passeios pelos bosques.
Viaja com os Barqueiros do Pará por meio da imaginação num barco sobre o Rio Guarujá, transbordando sonhos na imensidão das águas ao sabor do vento, escutando o canto da sereia, o assobio do boto, avistando as casas de madeira, lar do caboclo pescador e colhedor das frutas tropicais da Amazônia: açaí, bacuri, murici, miriti e castanhas do Pará.
Branco e Preto são os pensamentos invisíveis e fugazes que machucam o íntimo inocente da concubina, são devaneios de uma noite de luar perdidos com sonho de amores, tragédias e dores, num tempo sem rumo em busca do destino.
Segue um Caminho Desconhecido num dilema, sem saber para onde vai após a morte, vagueia entre dores e sentimentos desconhecidos pela perda dos entes queridos, na esperança do reencontro, após a dor sofrida inesquecível.
Escreve Cartas aos Vivos um poema reflexão sobre o pandemônio viral que voa pelos ares na asa dos ventos, assola a humanidade, ceifa vidas e abala a paz do mundo.
E vai para o Campo de Guerra sugerindo não existir bala perdida, mas atirada, onde as vítimas que partilham o mesmo ambiente e se amam; algozes matam por desejo de seguir no comando do poder do tráfico, dos gabinetes e das togas.
Na Chuva e Sol, vislumbra uma nova manhã chuvosa ou ensolarada, seguindo a escuridão da noite, mas surge o sol no horizonte, visto do quintal onde voam as borboletas.
E a Catástrofe do rio Paraopeba o abala: um rio sem oxigênio, sem leito, sem peixe; um mar vermelho que secou e ceifou vidas. A natureza geme pelas perdas causadas pelo homem sem piedade.
Minas das Minas e Tsunami seguem a catástrofe ambiental com trabalhadores asfixiados. O Brasil de luto e o poeta consternado com as perdas.
Matas: a flora e a fauna destruídas. A mata e os animais sofrendo a consequência da insensibilidade dos homens.
A esperança, cheia de pernas e antenas aparece do nada no seu quarto para o fazer sonhar com dias melhores num Brasil de paz e homens íntegros.
Num Gesto de Amor dedica à filha Priscila Nicole um poema de amor perfeito. Descreve a poesia, alegria e paixão. A decepção, o dia triste e de calor, a noite de insônia, a dor, os delírios, o sono e os sonhos.
Meu Pai segue lamentando a morte da filha, por não poder mais escutar chamando-a “ Meu pai” – poema dedicado à filha Priscila Nicole nascida em 14 de maio de 1982, que segundo o poeta, apenas mudou de endereço e foi morar no céu em 28 de fevereiro de 2016. Segue no Luto Eterno externando uma dor profunda, ferida que não cicatriza. O poeta lamenta que na terra não tem lugar para os bons.
Nos Quatro Quartos – continua a lamentação pela perda da filha – sente a dor de uma espada que ultrapassa o seu coração, deixando-o abatido no chão – sem pernas para o encontro. E as Lágrimas: a nascente dos seus olhos não têm mais lágrimas para chorar. Em meio ao desespero pede que acenda a luz das trevas porque não sabe para onde ir.
O Diamante da Vida mostra que o homem vive uma competição. O poeta declara que é lapidado para driblar as teias; não fica pronto como joia em raridade; depois da passagem para o outro plano começa o futuro da verdadeira felicidade; o ciclo da purificação! Não é engano é a constatação da preparação espiritual.
Manhãs e um poema alegre repleto de árvores e pássaros: sabiás, pipiras, bem-te-vis, japis, quero-queros, guriatãs e uirapurus na Vila dos Cabanos, Barcarena – PA. No Interior tem sol, noite, lua cheia, vento, gado, areia branca e cheiro de mato verde.
No eu poeta: ser entre seres – a poesia acalma e sacia; mergulha na força do sentimento inatingível; no sofrimento ou na alegria da utopia.
Nas Mãos da Caridade os políticos abusam do poder em benefício próprio e tiram proveito da corrupção. Nada Perdido: a desilusão não sabe onde vai; tem estradas de ilusões e sonhos empobrecidos.
Pérola é dedicado à mulher amada – a namorada. Pirâmide traz boas lembranças da infância; na antiga fábrica de açúcar que era levado para a Europa no Porto do Rio Pindaré.
Sobre Homens: a inteligência, a natureza, a intolerância e a irracionalidade – tudo continua e os erros se repetem. Somente Deus é a razão.
E chega a Solidão: solitário, mas dono do mar sem fim – nas águas azuis do mar do caribe – caminhando em busca de novos destinos.
Após a solidão vem o Sorriso Brilhante: você é o sol que me aquece e traz a luz do dia. O sorriso feliz, a energia brilhante. Agora Sou Eu Mesmo: na vida de perdas e ganhos, altos e baixos, motivos para não desistir. Viver e ir a busca dos sonhos.
Também tem a religiosidade explicita no Terreiro de Tambor: homenagem a Iemanjá e Oxalá; Pai Euclides e de Jorge Babalaô e a todos os terreiros da ilha de São Luís.
Em Traços, o poeta apaixonado decanta sua musa e o gosto do cappuccino. Numa Tela Longe de Casa visualiza um barco à deriva em frente ao mar numa cidade deserta e sombria.
Vento de Sal decanta em versos a casa de frente para o mar de onde avista barcos, navios e gaivotas que voam ao sabor do vento.
Vive para atender às necessidades dos filhos. Eu e Ela homenageia São Luís – sua poesia, eterna namorada, sensual e rainha.
Contempla O Sol do Rio de Janeiro e homenageia a cidade maravilhosa. Dentre outros belos poemas não citados, que o leitor se deleitará em cada página desta magnifica obra da literatura maranhense.
O poeta se descreve como Peregrino Sem Dono. Assim, encerro convidando o leitor a conhecer os dotes literários do autor deste reflexivo e contemplativo livro de poemas “Solidão, amor, lágrimas e maresia” do meu amigo e admirável poeta Francisco Moreira de Sousa Filho. Boa leitura e reflexão!
São Luís, 02 de janeiro de 2021.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL e
Academia Rosariense de Letras, Artes e Ciências – ARLAC
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e outro dez livros inéditos.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS02.01.2021(2). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.