Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
“Devemos aprender durante toda a vida, sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice. ” (Platão)
Eu caminhava pelos Jardins sempre atento à natureza e aos movimentos das pessoas que transitavam na área interna do condomínio, quando avistei um homem de meia idade com as mãos apalpando as costas como se estivesse sentindo alguma dor. Para provocá-lo em tom de galhofa perguntei-lhe: é a PVC? Ele sorriu, não sei se entendeu o que eu havia dito, enquanto eu seguia na caminhada matinal, quase ao meio-dia, com o sol a pique. O que conforme a minha esposa não é uma boa hora para caminhar – pelo risco de os raios solares provocarem câncer de pele, eu não estava atento a isso, e quase sempre caminhava nesse horário, com a dica tentarei antecipar o passeio seguindo a recomendação da expert, nunca se deve contrariar a lógica e a sapiência das mulheres, elas geralmente têm razão. Mesmo erradas, estão certas!
Seguia a caminhada quando encontrei um rapaz com pequenas peças plásticas brancas, nas mãos, fiquei curioso e perguntei para que serviam. Ele respondeu: servem para fixar cortinas romanas. Agradeci pela informação e desejei bom dia. Dessa vez fui eu quem fiquei sem entender a resposta. Cortina romana em São Luís? Tudo bem, continuei caminhando.
De longe observei uma enfermeira, vestida a caráter para exercer a profissão, com uma caixa de isopor em uma das mãos e na outra, quatro balões: três cor-de-rosa na base e um branco pintado de estrelinhas, acima. Ao passar por ela perguntei-lhe: para que serve esses balões? Ela respondeu: vou tirar sangue de uma criança. Logo percebi que aquela profissional demonstrava amor pelo que fazia, não pensava apenas em realizar mais uma coleta de sangue – queria que o paciente tivesse a alegria ao recebê-la e certamente amenizar a dor da furada distraindo o bambino com os balões coloridos, quase sempre atrativos naquela faixa de idade.
Mais à frente um jardineiro fazia a poda da cerca viva com a atenção concentrada mantendo o alinhamento levando-me a crer que também realizava aquela tarefa com amor e dedicação. Provoquei-o dizendo: quero ver se você vai seguir o alinhamento até encontrar as plantas à frente já podadas. Ele sorriu e continuou o trabalho, enquanto disse-lhe: você é um excelente jardineiro e segui a minha caminhada. Nesse dia eu estava mais para conversar do que para caminhar, mas não podia parar porque provavelmente as pessoas tinham mais o que fazer do que eu naquele momento. Então, só me restava incentivá-los a fazer o melhor naquela breve passagem.
Todavia algo havia me chamado a atenção intimamente naquela manhã. Logo que pronunciei: PVC, como químico e professor – lembrei-me das aulas de química orgânica. PVC é a denominação do “Policloreto de Vinila ou de Vinil”, um plástico que surge da polimerização do monômero de cloro etileno, conhecido como cloreto de vinilo. Os componentes do PVC derivam do cloreto de sódio e do gás natural ou do petróleo, e incluem cloro, hidrogênio e carbono.
Igual ao que aconteceu com diversas outras “descobertas” no campo da ciência, O PVC surgiu acidentalmente. Foi sintetizado em 1872 pelo químico alemão Eugen Baumann, quando ele esqueceu um recipiente de cloreto de vinila exposto ao sol, surgindo ali uma sólida parte de policloreto de vinila. Mas, vou parar por aqui com essas teorias complicadas e voltar ao que interessa.
Na verdade, eu não queria dizer para aquele trabalhador que a sua dor era derivada do “Policloreto de Vinila”, afinal ele não era um objeto, não se tratava de: plástico-filme, sola de sapato, embalagem, produto médico-hospitalar, peça de alta-tecnologia, produto aplicado na habitação, saneamento, construção civil, brinquedo, colchão, embarcação, automóvel, avião, janela, porta, tecido, móvel, vestuário, mala, bolsa, bola, garrafa, tubo, conexão ou coisa parecida feita de PVC. Ele é um ser humano, capaz de pensar, sentir dor, amar, trabalhar, brincar, chorar, sorrir, cantar, dançar, sofrer, crescer, viver, envelhecer e morrer.
Foi à palavra envelhecer que me apeguei ao referir-me a PVC, em tom sarcástico quis dizer ao distinto auxiliar de jardineiro, que de cócoras arrancava com as próprias mãos as plantas invasoras do jardim, ao tempo que usava as mãos para apalpar as costas doloridas pela posição ergonomicamente inadequada para realizar a tarefa por tempo prolongado.
Se ele não entendeu agora deixo claro que o PVC em referência era a “Porra da Velhice Chegando” e juntamente com ela todas as dores, apesar de muitos de nós querermos negar, encobrindo-a com o manto da terceira idade. Em que muitos idosos querem demonstrar o vigor dos jovens, fazendo de conta que não envelhecem, enquanto as dores e as enfermidades se acentuam.
“Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons. “ (Carlos Drummond de Andrade)
Para consolo dos que discordarem do que digo, tem aqueles que nunca envelhecem, porque na infância, juventude ou idade adulta são convidados para um passeio na outra dimensão e não experimentam dos momentos felizes, engraçados e doloridos da velhice.
Como diz o meu sogro David de Sousa Monteiro: “depois dos setenta é só enfado e canseira!” Ele nunca foi pessimista. É um eterno gozador, mesmo prostrado no leito a depender da ajuda de outros para tudo o que necessita. Ainda, nos seus momentos de lucidez conta piada, canta e toma gosto com as enfermeiras, apesar do sofrimento e da porra da velhice e das doenças a ela associadas, tê-lo subjugado ao tormento. A ele dedico esta crônica.
Para ter uma visão otimista da velhice só nos resta seguir os conselhos dos sábios, que seguem:
“O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã. ” (Leonardo da Vinci) e “Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos aos, estes ainda reservam prazeres. ” (Sêneca)
São Luís, 18 de junho de 2021.
José Carlos Castro Sanches. É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras Artes e Academia Vianense de Letras. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de liberdade.
Autor dos livros: Tríade Sancheana – Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das coisas que vivi na serra gaúcha, Me Leva na mala e Divagando na Fantasia em Orlando. Participa de inúmeras antologias brasileiras.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS22.02.2024. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.
Goreth Pereira
20 de agosto de 2022 at 13:39
Achei interessante, e mais ainda precisava saber tudo isso
sanches
28 de fevereiro de 2024 at 17:34
Obrigado e forte abraço querida amiga e confreira Goreth Pereira.
sanches
1 de março de 2024 at 08:39
Querida amiga e confreira Goreth Pereira. Agradeço pela atenção e comentário. Fico feliz em saber que você gostou. Saúde e paz para você e família.
Kalil Guimarães
27 de agosto de 2022 at 10:50
Sanches, parabéns! Gosto de ler o que você escreve. Sucesso!
sanches
1 de março de 2024 at 08:40
Grade Kalil Guimarães. Aprecio sua atenção e feedback. Que Deus continue iluminando a sua vida e dos familiares. Forte abraço.
Maria do Socorro Sanches
29 de fevereiro de 2024 at 08:51
Aproveite cada ciclo de sua vida e não se preocupe com a velhice, pois não temos pra onde correr,um dia ela chega! Viva a vida 💓
sanches
1 de março de 2024 at 08:42
Obrigado minha linda. Estamos juntos nessa jornada. Que Deus abençoe a nossa vida e dos familiares.
Pedro Augusto Santos Oliveira
29 de fevereiro de 2024 at 09:14
Muito incrível gostei muito da sua história comecei a ler e me aprofundei bastante são vários conselhos para nossa vida parabéns
sanches
1 de março de 2024 at 08:36
Muito obrigado e forte abraço querido Pedro Augusto Santos Oliveira. Aprecio sua atenção e comentários. Bom dia de luz e brilho para você e família.
Ceres
29 de fevereiro de 2024 at 21:02
Que leitura gostosa de ler. Parabéns Sanches.
sanches
1 de março de 2024 at 08:34
Obrigado querida amiga. Bom dia de luz e brilho para você e família. Forte abraço.