“O escritor precisa de quase tanta coragem como o guerreiro; um não deve preocupar-se mais com os jornalistas do que o outro com o hospital. ” Stendhal
Mais importante do que pintar as paredes de uma casa é libertar o ódio, a incompreensão, a soberba e a vaidade daqueles que nela habitam e convivem, ainda que por poucas horas durante o dia a dia de trabalho. Não é o tom da cor que muda um ambiente. O que transforma é o convívio amigável, a empatia, a simpatia, o respeito e a liberdade de opinar, de confrontar, de saber ouvir e a capacidade de mudar.
De nada vale tirar a cor de um hospital e manter os hospedeiros das doenças incuráveis, contaminando o meio, corroendo as entranhas do doente terminal que avassalado pelos impropérios, descaso e desprezo; moribundos, entre as belas cores, que em nada acrescentam à sua vida, senão a mera ilusão da mudança.
“Até a dor do arrependimento desbota com o tempo. ” Carlos Drummond de Andrade
Os líderes daquele hospital não desejavam ter os seus nomes lembrados pela capacidade de liderar um hospital, nem de recuperar os doentes, mas pela transformação de um centro de traumatismo anônimo, num hospital de referência para tratamento de neuróticos, psicóticos; desiludidos com as propostas vazias e coloridas de cura da melancolia, dor e sofrimento.
Naquela casa não pretendemos permanecer por muitos dias. Assim diziam os enfermos, reclusos naquele ambiente fúnebre, cinzento, fedorento e mal-assombrado, que recebia uma nova pintura para camuflar a realidade que existia por trás das cores esverdeadas daquele manicômio. Só é capaz de entender a real condição, quem convive com aquela rotina perversa.
“Porque não considero o mundo como uma hospedaria, mas como um hospital; não como um lugar para se viver, mas para morrer. ” Thomas Browne
Não haverá cor que faça brotar sementes férteis naquele deserto árido, habitado por pessoas secas, dementes aos problemas que as cercam, deslumbrados com o falso poder e iludidos com as mentiras que plantaram naquele jardim empoeirado de falsidade, inerte e inútil; abatido por corações de pedra e mentes corrompidas pela insanidade.
“ O mundo já foi por tempo demais um hospício. ” Friedrich Nietzsche
Há tempos contrataram um psiquiatra famoso que adormeceu a todos com doses elevadas de “morfina”, antidepressivos, ansiolíticos; amarrou a todos naquelas camas duras, sem conforto e sem amor e carinho, os sedou. Ao acordarem estavam todos drogados pelas doses cavalares de remédio para doido e resolveram voltar à cor original do hospital. Mas, tomaram a sábia decisão de destituir os insanos líderes, daquele hospício; que imaginavam reduzir o sofrimento dos pacientes, apenas com a mudança da cor das paredes do hospital. Pintaram o lugar errado! Deveriam antes, pintar o coração e mente das pessoas que ali experimentavam o último soluço de insanidade. Doce paciência, pintando a desilusão.
Só o médico dos médicos, o soberano Deus do céu e da terra, será capaz de curar toda a dor e restituir os sonhos que vivificam a alma daqueles sofredores, solitários, encarcerados na utopia de que a pintura das paredes de um hospital, será capaz de mudar a realidade de um mundo.
“Hospital é sempre hospital: não é lugar de alegrias, também não é de tristezas, mas de esperança. ” do livro Violetas Na Janela
José Carlos Castro Sanches
São Luís, 03 de maio de 2019.