Por José Carlos Castro Sanches
Eu estava sentado num confortável sofá no saguão do prédio onde moro, aguardava a chuva inesperada passar para seguir à barbearia com o propósito de ajustar a escassa cabeleira. Na referida área tem um grande espelho quase sempre apreciado por todos ao passarem – as mulheres para admirarem a beleza, os homens a barriga.
Enquanto isso, um passarinho voando raso bateu no espelho e seguiu atordoado, o chuvisco continuava e eu permanecia observando a natureza bela ao derredor; novamente outro pássaro bateu no espelho deu meia volta desnorteado e seguiu. Aí fiquei a pensar. Será que os pássaros não reconhecem o espelho?. Concluí que não.
A visão dos pássaros é diferente da visão humana. Os pássaros enxergam a profundidade e, na maioria das vezes, um espelho, o vidro de uma fachada, porta ou janela reflete a imagem do ambiente exterior. Ao invés do vidro, eles veem uma nuvem ou uma vegetação, entendem aquilo como uma continuidade do ambiente e se chocam, por vezes conseguem sobreviver, outras não. Qualquer superfície de vidro que reflita o ambiente externo como o céu, árvores ou flores, vai parecer aos olhos dos pássaros, um espaço contínuo. O que para os humanos é facilmente perceptível para eles não é.
Isso me fez refletir sobre a vida. De fato, estamos sempre diante de um espelho que parece invisível a nos surpreender com a amplitude das coisas que não vemos, sentimos, ouvimos…. Essa incerteza é que nos motiva a seguirmos firmes como se nada pudesse nos impedir de continuar a missão. Imaginem se pudéssemos prever o futuro, visualizar além do espelho – que sentido faria?
O passarinho hoje me ensinou a voar sem ter asas e a perceber que por trás de um espelho sempre haverá a esperança de um dia sermos capazes de antever o que se passa entre a imagem real e a virtual. Entre a realidade e a utopia, o imaginário e o concreto; entre voar alto no céu e caminhar nas trevas. Entre o homem, o espectro, a imagem, o pássaro, a razão e a emoção de perceber as nuances de uma vida cheia de surpresas advindas de todos os lados como bênçãos para alegrar a manhã de um sábado chuvoso de dezembro.
Assim como o pássaro eu também ainda não entendo o que é um espelho. Quem sabe um dia eu possa desvendar esse mistério.
São Luís, 18 de dezembro de 2021.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS18.12.2021. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.
Rosana
20 de dezembro de 2021 at 21:54
Belíssima reflexão! Num momento inesperado o autor relata a sua observação que focou em um espelho, que reflete a amplitude do espaço, a imagem da beleza feminina e a visão de um pássaro diante do espelho, como seria se o pássaro raciocinarse diante daquele espelho? Deduziu que existe semelhança utópica entre o real e o imaginário, conclusão: O verdadeiro sentido da vida é seguir-mos sem saber-mos o que está por vir. O desvendar da vida é um mistério.
sanches
23 de dezembro de 2021 at 11:55
Muito obrigado querida Rosana, aprecio sua atenção e considerações sobre o texto. Feliz Natal, saúde e paz para você e família.
sanches
16 de janeiro de 2022 at 23:31
Obrigado pelas considerações Rosana. A vida é um mistério. Deus conduza a sua vida com saúde e paz. Forte abraço, José Carlos Sanches