I
Na rua de baixo à beira rio
Passando pela igreja da matriz
Seguindo em direção à antiga casa
Do saudoso, ex governador Ivar Saldanha
Tem o bar “Maré Mansa”
Ao seu lado construíram um mirante
De onde vejo o rio “Itapecuru”
Maré alta, sol ardente e água no batente
Do outro lado do rio
Vejo uma casa distante
Observo com saudosismo
Por lá aportavam sorridentes
Pessoas de várias origens
Conterrâneos e visitantes
Tomavam banho na “croa”
Fugindo das serpentes
Por cá, ao lado do mirante
O que vejo é um depósito de lixo
Diversos tipos e garrafas de refrigerante
Acumulados na ribanceira
O barco sem comandante
Ancorado ali sofria calado
Com a tristeza do visitante
Tirava fotos com meus pais
E agradecia pela divindade
Pelo amigos e familiares
Perplexo com a insanidade
Daqueles que reclamam
Da falta de água potável
Ignoram a essência da vida
E o desenvolvimento sustentável
O rio Itapecuru virou depósito
De dejetos, lixo e “bosta”
Aterro, lixão, latrina e fossa
Até quando suportarás?
Tanta poluição e descaso
Meu belo rio onde vais?
Com o teu leito ao acaso
Quem te destrói são os animais?
Ou o progresso, embute o atraso
E a consciência segue atrás?
II
Oh, meu Rio Itapecuru
Te vejo triste, correndo
Na maré cheia, barrenta e suja
Levando e trazendo
A água que bebo
Te vejo amargurado, chorando
Distante do teu sossego
Pedindo socorro e gritando
No seu derradeiro suspiro
E eterno pesadelo
Ó meu Rio Itapecuru
Rosário precisa da tua água pura
A roça, a cerâmica e a residência
Quem chora agora sou eu
O povo padecerá na tua ausência
Escrevo tristonho este verso
Com a alma e o coração partido
Admirando a tua paciência
Sei que precisas ser reconhecido
O teu médico é a minha consciência
Meu amigo querido, rio… sofrido
Rendo-me a ti em reverência
Talvez chegue tarde a consciência
Diante do teu sofrimento e gemido
Chega o homem… com o lixo. É emergência
Sussurra o tenebroso Itapecuru
Preciso de ajuda imediata: é urgência
Que não morra a esperança
Do contrário viveremos dias sombrios
Tudo não passará de triste lembrança
Dos peixes e água que alimentam e matam a sede
Desde os tempos de criança
Dos banhos nas águas límpidas
Só me resta perseverança
Vou me embora para a ilha
Eu não quero ficar chorando
Solitário na beira do rio
Sentindo espantosa tristeza
E N’alma um grande vazio
José Carlos Castro Sanches
Rosário, 24 de fevereiro de 2020. Conheça o site falasanches.com Adquira os livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou na Livraria AMEI do São Luís Shopping