É querer esquecer a maldade
No dia do perdão
Quando passaram o ano
Com pedras no coração
É querer se fingir de bonzinho
Quando o mal faz
A todos sorrindo
É querer demonstrar amor
Quando sempre
Prega o desamor
É querer aparentar alegria
Quando no fundo
É tudo fantasia
É dizer-se defensor da paz
Quando propaga a guerra
E a desarmonia
É dizer-se filho de Deus
Quando prega o inferno
Numa eterna utopia
É reunir-se em família
Num dia durante o ano
Para fingir que está perto
Quando sempre os desprezou
É querer demonstrar amizade
Quando por trás
Estimula a falsidade
É estar na multidão
Sofrendo sozinho a solidão
Distante da realidade
É cantar no dia da festa
Morrendo de inveja do irmão
Pela falta de solidariedade
É a triste realidade
Do povo desta cidade
Que passa um ano com fome
E recebe presente num dia
Dorme sozinho ao relento
Sem lençol e travesseiro
E num dia especial
Recebe um cobertor
Uma sacola de comida
E uma gota de amor
Mantive distância deles
Fui insensível o ano inteiro
Choraram e sofreram sozinhos
Como o filho do carpinteiro
No final reapareço
Como um forasteiro fingindo
Dizendo-me sensibilizado
Por alguém que viveu
O ano inteiro esquecido
Triste, faminto e desamparado
No seu mundo reprimido
Desonrado,
Castrado,
Humilhado,
Isolado
E
Abandonado.
José Carlos Castro Sanches
São Luís, 14 de dezembro de 2019.