“Arre! Estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? ” Fernando Pessoa
A entrevista de emprego amplifica o sofrimento do trabalhador desempregado. É um momento de extrema pressão psicológica, associada ao desespero, ansiedade e expectativa de encontrar o tão sonhado emprego – representa a verdadeira tortura para a maioria dos candidatos.
“O trabalho enobrece a alma, e te afasta das dores agonizantes da vida. ” Moema Miranda
Começa pela espera, seguida de entrevistas com perguntas mirabolantes, sem lógica, muitas vezes realizadas por pessoas despreparadas. Num misto de soberba e submissão; vaidade e humilhação.
Talvez os entrevistadores pensem como Jean Nicolas Arthur Rimbaud que dizia: “E, no entanto, chega de Deuses! Chega de Deuses! O homem é Rei, o homem é Deus. ”
Ali todos se sentem ineptos, ninguém jamais será capaz de atender às exigências dos super entrevistadores – como se fossem trabalhar para os “Deuses do Olimpo” com super salários de “deputados e senadores brasileiros”, não podem cometer erros.
“Quem ia saber que os céus podem ser tão ameaçadores? Os que sempre souberam que a terra é povoada por erros. ” William Shakespeare
Durante a entrevista os pobres mortais são submetidos a uma sabatina degradante, como se estivessem diante de uma rajada de tiros de metralhadora à queima roupa, sem possibilidade de defesa, saem daquela “maquete” do inferno crivados de balas – que além de destruir o corpo e a alma, matam a esperança de dias melhores e subjugam os humildes trabalhadores desempregados ao ponto de os tornarem reféns da própria ignorância, sentindo-se incompetentes, o pior dos homens. Sem rumo, deixam a sala de tortura tristes, amedrontados, enfraquecidos e incapazes de reagirem a tamanha dor e sofrimento.
“O trabalho afasta de nós, três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade. ” Voltaire
A selvageria do mercado quer transformar simples homens mortais em semideuses. O resultado é estresse excessivo, ansiedade, depressão e morte. O bom trabalho está sendo feito por quem está fora dessa carcaça blindada de agonia, sofrimento e utopia.
“Encontra-se sempre aqui e ali, algum semideus que consegue viver em condições terríveis, e viver vencedor! Quereis ouvir os seus cantos solitários? Escutei a música de Beethoven. ” Friedrich Nietzsche
Só na ficção encontraremos homens capazes de atender às expectativas fantasiosas dos recrutadores. Aos quais dedico esta crônica para refletirem sobre a realidade do mundo que os cerca e possam reavaliar suas práticas funestas de recrutamento surreal num mundo real.
Como disse René Sanferr: “O escritor é um semideus da criação, pois da cabeça dele surgem pessoas criadas pela ficção. ” O mesmo não ocorre com os recrutadores. Então é chegada a hora de rever as práticas de recrutamento e mudar de atitude.
José Carlos Castro Sanches
São Luís, 09 de março de 2019.
