Por José Carlos Castro Sanches

Numa linda manhã ensolarada de 09 de outubro de 2020, me reencontrei com o ilustre escritor Lino Antônio Raposo Moreira, Membro Efetivo da Academia Maranhense de Letras – AML, ocupante da Cadeira 8, patroneada por Gomes de Sousa. No dia anterior havíamos conversado brevemente e decidimos remarcar o encontro para continuarmos a conversa ao sabor do vento, com os olhos na maresia e os ouvidos atentos aos conselhos do grande mestre, outrora Presidente da referida Academia e influente Secretário de Meio Ambiente do Governo do Estado do Maranhão, onde também ocupou inúmeras posições de destaque, além de atuar com desenvoltura entre os intelectuais da literatura, arte e cultura no Brasil e outros países onde morou, estudou e conviveu com escritores influentes.
Ali naquele lugar aconchegante, sentado numa cadeira confortável, numa ampla varanda de frente para o mar, visualizando o Farol do Forte de Santo Antônio da Barra e as instalações e embarcações do Iate Clube de São Luís, vendo também os navios distantes e as ondas afoitas da Baía de São Marcos batendo nas muralhas do forte como se quisessem provocá-lo, não sabendo da sua pompa de outrora e do valor que representa para a nossa história.

Assim, seguíamos confabulando sobre ar reminiscências da nossa querida São Luís, o caminho grande por onde trafegavam os bondes; da Praça João Lisboa seguiam pela Rua Grande, passavam pelo Canto da Fabril, seguiam pelo Monte Castelo, e outros bairros até a Vila do Anil.
Detalhou com simpatia e conhecimento os caminhos a serem trilhados para chegar à Academia, as vagas, os candidatos, os eventuais ajustes para escolha dos membros, os meandros e estratégias que devem ser seguidos para ter a chance de estar entre os escolhidos. Lembrou que apenas dois políticos chegaram à Academia, um deles foi José Sarney, porém antes de ter projeção política e Pedro Neiva de Santana por motivos justos. Julga que a Academia precisa de um impulso para continuar contribuindo para a sociedade e manter a tradição literária de agente de transformação e propagação do conhecimento literário e cultural.

Discorreu também sobre aqueles que dirão “Vejo com simpatia a tua candidatura, esses não votam em você”. Disse-lhe que percebi em todas as conversas com os demais acadêmicos uma franqueza invejável ao colocarem de forma clara os seus compromissos com alguns candidatos que se anteciparam no processo e outros que por terem participado de eleições anteriores, além da competência literária tornaram-se visíveis e têm maior probabilidade de ocuparem as vagas disponíveis.
Contou-me com brio a sua trajetória profissional e literária, que morou e estudou nos Estados Unidos, obtendo os graus de mestre e doutor em Economia pela Universidade de Notre Dame, no Estado de Indiana. E que conviveu com pessoas influentes. Retratou com orgulho os quase 20 anos dedicados ao Jornalismo, onde escreve semanalmente uma coluna no Jornal “O Estado do Maranhão”, inicialmente aos domingos, atualmente às quartas-feiras.
Disse que a literatura sempre fez parte da sua vida desde garoto, relatou que sua mãe era muito rígida, se não estudasse e tirasse boas notas era privado de algumas brincadeiras e presentes.
Fiquei encantado com a riqueza do acervo bibliográfico que o nobre escritor coleciona com carinho em sua biblioteca na residência, com títulos raros de Gonçalves Dias, Machado de Assis, dentre inúmeros outros escritores maranhenses, brasileiros e mundial de destaque na literatura. Presenteou-me o livro “O Contador de Estórias” do autor maranhense e amigo José Jorge Leite, que mantinha em seu poder dois exemplares e, prometeu me enviar um de sua própria autoria após fazer o autógrafo, que não o fez no momento por motivo particular devido ao “Tremor essencial” decorrente de uma cirurgia cardíaca realizada no passado, que dificulta a escrita manual rápida , mas permite realizar suas atividades ao computador, sem prejuízos ao desempenho nas rotinas de diagramador e designer de livros, que faz como hobby nas horas vagas.

Gostei quando ao visitar a biblioteca a convite do brioso colecionador, que ora me apresentava sua maior riqueza, motivo maior da sua intelectualidade, encontrei seu herdeiro Davi concentrado numa atividade ao computador, naquele momento visualizei um futuro escritor e pelo que me disse o pai, um aluno exemplar que possivelmente dará continuidade aos seus trabalhos. Eu disse a Davi que mantivesse o foco no estudo, porque esse era o seu maior patrimônio e, o melhor presente que seu pai poderia lhe oferecer e concluí dizendo para não se desviar do caminho da educação, porque sem estudo e conhecimento não chegaremos a lugar nenhum.
Por fim perguntei ao anfitrião, quais os escritores da literatura brasileira e mundial, que mais admirava. Ele respondeu: Machado de Assis, que segundo ele tinha tudo para dar errado e deu certo. Eça de Queiroz, que poucos sabem ser José Maria de Eça de Queiroz, escritor e diplomata português. Eça de Queiroz e Machado de Assis são considerados os dois maiores escritores da língua portuguesa do século XIX. Eu presumi que o egrégio escritor também aprecie as obras de Gonçalves Dias pelo que senti no seu entusiasmo ao falar do notável escritor da Canção do Exílio; Canção do Tamoio; I-Juca Pirama; Canto do Piaga; Se se morre de amor; Sextilhas de Frei Antão, dentre outras.
Destacou Franz Kafka como seu mais apreciado, citando inclusive que o interesse pelo escritor aumentou após uma viagem a Praga sua terra natal, onde conheceu em detalhes a biografia e bibliografia do renomado escritor Austro-húngaro, destacando como principais obras: O Processo; A Metamorfose; A Colônia Penal; Carta ao Pai; Um Artista da Fome; O Castelo; Cartas a Milena; Um Médico Rural; O Desaparecido ou Amerika e O Veredito, dentre outros.
Franz Kafka é considerado um dos principais escritores da Literatura Moderna. Suas obras retratam a ansiedade e a alienação do homem do século XX.
Foram muitos os conselhos e orientações, durante o precioso tempo que estivemos juntos naquele oportuno e esclarecedor bate-papo informal. Guardarei comigo os aprendizados e a lembrança desta oportunidade ímpar de poder ser recebido, no resguardo do período de pandemia da Covid 19, pelo ilustre acadêmico e confrade Lino Antônio Raposo Moreira, a quem dedico esta crônica. Estou certo de que não faltarão oportunidades para nos reencontrarmos e agradeço imensamente pela honra da receptividade em seu recanto poético, onde o mar, o horizonte, o sol, a lua e as estrelas são visíveis a olho nu, como os barcos, os navios e o farol que haverá de continuar orientando as embarcações que visitam a linda ilha de Upaon-Açu, terra querida de Gonçalves Dias, onde o sabiá canta majestosamente na palmeira e o Bumba meu Boi alegra os arraiás nas festas juninas em homenagem a São João, São Pedro e São Marçal.
São Luís, 09 de outubro de 2020.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e outros nove livros inéditos.
Visite o site: falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho como escritor, cronista e poeta.
Adquira os Livros da Tríade Sancheana, composta pelos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja online www.ameilivraria.com.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS09.10.2020. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.
