– Artigos escritos durante viagem de ônibus de São Luís – MA a Nova Jerusalém – PE rumo à Paixão de Cristo.
A cada semana estarei divulgando novos capítulos até a conclusão desta série de 15 capítulos.
NONO CAPÍTULO:
O VENDEDOR DE SONHOS E PIRULITOS DE METRO
“Sem sonhos, os monstros que nos assediam, estejam eles alojados em nossa mente ou no terreno social, nos controlarão. O objetivo fundamental dos sonhos não é o sucesso, mas nos livrar dos fantasmas do conformismo.” (O Vendedor de Sonhos)
Após o nosso passeio pela Praia dos Carneiros nos instalamos no Hotel Dan Inn, tomamos um banho descansamos um pouco e à noite saímos para dar um passeio pelo centro de Recife e Marco Zero.
Por volta de 20h deste primeiro de abril, dia da mentira, chegamos à praça do Marco Zero e fomos surpreendidos pela apresentação do espetáculo da Paixão de Cristo encenada naquele local.
Quando nos deslocávamos pelas ruas próximas à praça observei um senhor com uma tábua espetada por objetos finos, revestidos com um papel brilhoso de cores distintas de aproximadamente um metro de comprimento.
Junto ao vendedor estavam dois guardas municipais empertigados, desatentos ao movimento dos pedestres a conversar com o vendedor de pirulitos, provavelmente sobre os estranhos objetos que carregava naquela tábua, que além de adoçar a vida das crianças, acirrava a lembrança dos adultos e alimentava o meu sonho da infância.
“Um bom vendedor, além de apresentar produtos, serviços e ideias, VENDE SONHOS E DESEJOS para as expectativas de seu cliente.” (Fagner Gouveia)
Leciane uma colega nossa de viagem foi a primeira a ter a curiosidade de ir lá saber o que aquele homem vendia e já estava de papo com o piruliteiro quando aproximei-me do distinto vendedor e perguntei a ele o que era aquilo. Ele disse sorrindo: Pirulito. Eu logo retruquei: Pirulito?
Nunca antes tinha visto coisa parecida. Assemelhavam-se mais a uma obra de arte devidamente lapidada, do que aos pirulitos que conhecia em Rosário-MA minha terra Natal durante a minha infância e àqueles que Dona Corina minha antiga vizinha de Rosário vende atualmente pelas ruas do centro de São Luís do Maranhão.
“Minha infância tem gosto de pirulito, mingau de aveia da minha mãe, comida na mão da minha vó, bola de futebol na escola, passarinhos no jardim, cheirinho gostoso de terra molhada da chuva pegando a gente no final da tarde em Rosário, eu e meus amigos dividindo um dindim de coco, pés descalços embaixo da laranjeira da minha casa…” (José Carlos Sanches)
Recife tem o maior pirulito que já vi em minha vida. Se existe outro pirulito maior me desculpem a ignorância e pouca vivencia com pirulitos, nunca tinha visto antes tamanha criatividade e engenhosidade prirulitica.
Então perguntei o preço ao vendedor. Sujeito franzino, alegre e educado. Ele me disse que tinha de dois tipos. O grande e o pequeno, ambos com dois sabores: morango, doce de leite, tutti fruti e que a combinação dependia da escolha e gosto do freguês. Logo me interessei em levar dois pirulitos de presente para os meus netos Julie e Rafael, pensei em Léo (o terceiro neto que está chegando), mas ainda não nasceu. Comprei dois e deixei o de Léo para a próxima viagem.
Perguntei ao pequeno homem que mantem a tradição de venda dos pirulitos de metro quanto custava um pirulito. Ai fiquei surpreso!
De verdade acreditava que custasse de 10,00 a 15,00 reais. Pelo modo que estão enrolados num papel dourado de cores variadas e alegres para crianças, homens ou mulheres e pelo comprimento avantajado e acima de tudo pela dureza da peça suportada por um grande palito de madeira.
Ele respondeu que o pirulito de metro custava 4,00 reais e o pequeno de 30 cm custava 2,00 reais. Logo pensei é brincadeira meu irmão!
Como alguém pode trabalhar tanto para produzir uma belíssima obra de arte, doce, com a raridade de comprimento exagerado, muito mais que um pirulito… Uma tradição de séculos e vender por valor tão irrisório.
Comprei dois pirulitos um de 4,00 e outro de 2,00 reais. Acredito que aquele homem vende sonho de crianças e alimenta a sua profissão pelo prazer de ver o sorriso dos outros e a satisfação dos seus clientes. Não pode ser pelo lucro do trabalho.
“Vender é a arte de criar e transferir emoções, sempre causando muita satisfação em quem lhe confiou a possibilidade de prestar um serviço.” (César Romão)
Fiquei deveras encantado pelo prazer, pela disposição, carinho e educação daquele homem agradável com o qual tirei uma foto para escrever e anexar a esse artigo. Desculpe meu querido “Vendedor de sonhos” esqueci o seu nome, mas dedico esse artigo a você e a Dona Corina a vendedora de pirulitos do Centro de São Luís do Maranhão.
“Muitas pessoas pensam que “vender” é o mesmo que “falar”. Mas os vendedores mais eficazes sabem que ouvir é a parte mais importante do seu trabalho.” (Roy Bartell)
A felicidade está nas pequenas coisas, nas coisas simples. As pessoas humildes transbordam o amor, a felicidade e a infinita sabedoria cativante que só os homens sábios são capazes de externar através de pequenos gestos, ações, exemplos e lições de vida.
Cada dia é um PRESENTE. Este presente pode ser multiplicado por meio de pequenas ações, respeito e atenção no trato, por pessoas simples que vendem sonhos em forma de pirulitos.
O PRESENTE que levei para os meus netos (Julie e Rafael) foram dois pirulitos um de 30cm e outro de metro. Lembrança de Recife que ficará na memória deles para sempre.
Coloquei o pirulito menor dentro da minha mala num lugar especial, arrumado e protegido para não quebrar, mas tive dificuldade para encontrar um lugar seguro no ônibus para transportar o pirulito de metro durante a viagem de volta a São Luís.
Protegi e coloquei o avantajado pirulito com cuidado num pequeno espaço sobre o banco estufado na área comum do ônibus e pedi aos colegas de viagem para me ajudarem na guarda para não quebra-lo durante o movimento do ônibus barco ou pelo contato dos viajantes peregrinos que se acomodavam sobre o estufado para relaxar, dormir, tomar um drinque ou jogar conversa fora.
Ao chegar a São Luis entreguei o pequeno pirulito para Julie e guardei o pirulito de metro para dar de presente a Rafael no dia do seu aniversário. Assim foi feito. Foi tudo festa!
“Sabe quem é o melhor vendedor do mundo? O cliente satisfeito, ele vende sua empresa, marca, produtos e não cobra comissão.” (Rogger Stankewski)
P.S. Peço aos leitores Pernambucanos que conheçam ou possam compartilhar com alguém para me enviar o nome do vendedor de pirulito do marco zero e centro de Recife que aparece na foto para incluir no artigo original que será publicado em breve no livro…